O acadêmico e escritor Carlos Heitor Cony confirmou a popularidade de Humberto de Campos, na palestra Humberto de Campos: o escritor e o conselheiro, a única do ciclo “Memória reverenciada”, em 2016, na Academia Brasileira de Letras, que teve a coordenação do Acadêmico e jurista Alberto Venancio Filho: “Eu considero o melhor cronista brasileiro o Humberto de Campos, que hoje está completamente esquecido; porque ficou faltando na obra do Campos um romance, uma obra não subordinada ao tempo. Quando o Humberto de Campos morreu, em 1934, eu era criança, e o comércio do Rio de Janeiro fechou as portas. Era luto nacional que ninguém decretou. Isso porque todo mundo lia Humberto de Campos. Ele morreu cedo, com 48 anos, numa operação. Foi uma comoção”.

Cony revelou a influência de Humberto de Campos em sua carreira de escritor: “Eu dobrei minha esquina errada na vida, sobretudo na vida literária, porque me apaixonei por uma crônica de Humberto de Campos. Devia ter 12 ou 13 anos quando me apaixonei por uma crônica que considero a melhor crônica não só da literatura brasileira, mas uma das melhores crônicas da arte universal. O texto chama-se “Um amigo de infância”. A prefeitura do Maranhão fez um jardim em volta do “amigo de infância” de Humberto de Campos, que era um cajueiro, um simples cajueiro. E a crônica é a prova maior dessa amizade.”

Quinto ocupante da Cadeira nº 3, da ABL, eleito em 23 de março de 2000, na sucessão de Herberto Sales, o jornalista e escritor Carlos Heitor Cony é comentarista diário da CBN, participando do Grande Jornal com o programa “Liberdade de Expressão”.

Entre os episódios curiosos envolvendo Humberto de Campos, lembrados por Cony, houve o do médium Chico Xavier, que recebia espíritos. Entre os espíritos, ele recebeu o mestre Campos e começou a publicar livros psicografados do escritor. Cony comparou as imitações com jogadas de futebol: “Lembram, mais ou menos, um caso de jogo de Pelé junto com o Fred, do Fluminense. Lembra um pouco, porque ambos vão atrás da bola, eventualmente fazem gol, mas um é Pelé, o outro não é”.

Há que destacar o talento do acadêmico, sublinhado por Cony, sobre a arte de fazer crônicas. Tanto Rubem Braga quanto Humberto de Campos nasceram para fazer crônicas: “Pegavam qualquer coisa e delas extraíam um texto literário de primeiríssima grandeza. Rubem, por exemplo, era fácil; ele não tinha assunto nenhum, abria a janela e já era uma crônica. O fato de ele abrir a janela e ver o ar, a nuvem já era uma crônica. Humberto de Campos, nesse ponto, foi mais eclético: fazia crônicas do nada. Rubem precisava fazer algum movimento, o de levantar e abrir a janela e olhar. Humberto de Campos nem isso; tirava do nada, do absoluto. Ele era, como cronista, uma pessoa antes do nada, antes de haver o nada, já havia a crônica de Humberto de Campos, saborosa pelo estilo e pelas peculiaridades de um assunto que ele era gênio, gênio absoluto.”




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