Quando a judoca Mayra Aguiar pisou em solo japonês para disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio, a atleta foi contagiada por um sentimento prévio de vitória. Isso porque o caminho que levou a medalhista olímpica ao berço da modalidade, desta vez, foi repleto de reviravoltas. Cotada para o título no meio-pesado (-78kg), a gaúcha teve reescrever a própria história ao encarar um momento duro no fim de 2020. “Foi sofrido até chegar aqui”, disse a atleta, durante entrevista online concedida nesta terça, 20.07, na capital japonesa.
A preparação para Tóquio seguia o planejado até que veio a lesão no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo em setembro de 2020. A judoca de 29 anos precisou passar por cirurgia e um período de quase seis meses de reabilitação, focando na recuperação e em um trabalho mental para não deixar o sonho olímpico se esvair.
“Não sou de me entregar e nem de desistir. Essa foi a minha sétima cirurgia. Foi uma lesão dura. Graças a Deus estou me sentindo bem. Estou na melhor fase da recuperação e a cada semana me sinto melhor. Desde a cirurgia já me agarrei às pequenas vitórias. Isso me motivou”, afirmou.
A recuperação foi a primeira batalha vencida por Mayra para representar o Brasil na sua quarta participação Olímpica. A judoca é a principal atleta nacional da modalidade. Tem no currículo dois bronzes olímpicos (Londres 2012 e Rio 2016), além do bicampeonato mundial, em 2014 e 2017. Ela integra a categoria Pódio, a principal do programa Bolsa Atleta, e recebeu o suporte financeiro do Governo Federal durante todo o ciclo. “Hoje estou feliz por tudo o que consegui superar e por tudo que passei. Estou me sentindo forte mentalmente. Valeu a pena estar aqui e por isso já me sinto vitoriosa”, contou.
Isolamento e foco
Para recuperar a performance esportiva, Mayra adotou, entre as estratégias, o isolamento total, com foco na fisioterapia e nos treinos. “Não assisto à televisão e fico em casa me cuidando para ficar isolada mentalmente. Cada competição que entro vou com o único objetivo de conquistar a medalha de ouro. Isso está forte dentro de mim. Entrei nessa competição aqui com esse objetivo. Eu sei de tudo que vivi e passei, mas acredito em mim”, analisou.
Histórico promissor
O judô é a modalidade individual que mais conquistou medalhas para o Brasil na história dos Jogos Olímpicos. São 22, com quatro de ouro, três de prata e 15 de bronze. Desde os Jogos de Los Angeles 1984, o país esteve presente nos pódios em todas as edições.
A modalidade estreou no programa olímpico em 1964, exatamente quando a capital japonesa recebeu o megaevento pela primeira vez. Na época, o Nippon Budokan foi inaugurado e recebeu as disputas nos tatames. Consolidado nas últimas décadas como palco mítico das artes marciais, o Nippon Budokan será novamente o local de disputas do judô em 2021.
“O Japão é a casa do judô. Eu me sinto muito bem aqui. Poder conquistar um ouro olímpico aqui seria marcante. Isso me motiva e estou com vontade de usar todas as experiências de tudo que já vivi para fazer uma boa competição”, contou.
Investimento contínuo
A delegação brasileira de judô conta com 13 judocas, seis no feminino e sete no masculino. Do grupo, 11 integram o Bolsa Atleta do Governo Federal. Nove atletas fazem parte da categoria Pódio, a principal do programa, voltada para atletas que se posicionam entre os 20 melhores do mundo em sua modalidade.
O Governo Federal é o maior patrocinador do esporte olímpico e paralímpico no país, com um investimento anual superior a R$ 750 milhões. Nesse valor estão abrigados o tripé que hoje representa a maior fonte de investimento do esporte brasileiro, formado pela Lei das Loterias, Bolsa Atleta e Lei de Incentivo ao Esporte.
No ciclo olímpico Rio-Tóquio, os judocas nacionais receberam investimento direto de R$ 16,2 milhões, por meio do Bolsa Atleta. Os recursos representaram a concessão de 1.056 bolsas para praticantes da modalidade.
Ajustando o quimono
Os judocas brasileiros estão na fase final de preparação na cidade de Hamamatsu, cidade 250m km ao sul de Tóquio. A seleção de judô realiza os treinos no ginásio Yuto. As saídas para a Vila dos Atletas serão escalonadas, de acordo com a agenda de competição de cada judoca. A estratégia de ficar fora da Vila Olímpica convencional é adotada pela CBJ desde 2012 e tem como objetivo oferecer um local mais tranquilo e exclusivo para a reta final de preparação dos judocas. A competição de Judô em Tóquio será de 24 a 31 de julho.
“A minha caminhada olímpica vem desde os 17 anos, bastante nova. Já senti aquela pressão e sei como é o ambiente de Jogos. Esse é o diferencial que mais impacta. Hoje consigo conviver de maneira mais tranquila. Vai ter sempre a pressão e a ansiedade, mas consigo me equilibrar e controlar. Não deixo atrapalhar o meu treino”, finalizou Mayra.
Fonte: Rededoesporte