O baiano Isaquias Queiroz não tem rodeios. Entende os Jogos Olímpicos de Tóquio como estação final e consequência natural de um ciclo de privações, treinamentos exaustivos, dores pelo corpo e um objetivo fixo: ganhar medalhas, se possível de ouro, nas duas provas que vai disputar na capital japonesa. Primeiro, no C2 1.000m, ao lado de Jacky Godmann. Depois, na prova individual do C1 1.000m.
“Não penso em sair daqui se não for com duas medalhas no pescoço. Posso estar sendo ganancioso, mas treinei para isso, embaixo de sol e de chuva. Não ia querer ficar na água me torturando se não tivesse um objetivo. Vim aqui colher o resultado”, avisou o atleta brasileiro.
A entrevista online foi concedida nesta terça (20.07), após o primeiro treino dos atletas no Lago Miyagase, numa estrutura montada pelo Comitê Olímpico do Brasil para a modalidade fazer a reta final de preparação. As provas olímpicas da canoagem velocidade serão entre 2 e 7 de agosto, na raia de Sea Forest.
Dono de duas pratas e um bronze nos Jogos Rio 2016, Isaquias tem um desafio extra em Tóquio. Seu parceiro habitual nas provas internacionais, Erlon de Souza, se lesionou na segunda metade do ciclo. Isaquias passou a dividir o barco com o jovem Jacky Godman, de 22 anos. Na primeira experiência internacional da dupla, foram bronze no C2 1.000m na etapa de Szeged, na Hungria, da Copa do Mundo.
100% Bolsa Atleta
A delegação brasileira será representada em Tóquio em 35 modalidades. Em 19 delas, 100% dos atletas recebem os repasses do Bolsa Atleta, executado pela Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. A canoagem velocidade é uma delas. Por meio do Bolsa Atleta, entre 2017 e 2021 o Governo Federal investiu R$ 7,89 milhões na concessão de 495 bolsas.
De lá para cá, segundo Isaquias, houve muito treino e ajustes. Por isso, a nova dupla não altera um milímetro a confiança do atleta baiano. Ele pretende chegar a cinco medalhas em Tóquio e não se furta a se imaginar com até sete após os Jogos de Paris, na França, em 2024. “Tentar pensar em sete medalhas é algo inédito no Brasil. Estou batalhando para me tornar um dos maiores atletas olímpicos do Brasil. Não é impossível. Treinamento, tem. Apoio do COB e do Ministério da Cidadania, tem. Treinamos muito bem, com tempos até mais rápidos do que os que tinha com o Erlon. Falta comprovar resultado”, disse Isaquias.
Na história dos Jogos Olímpicos, os maiores medalhistas brasileiros vêm da vela. Torben Grael e Robert Scheidt têm cinco pódios cada um. Ambos são bicampeões olímpicos. Por isso, Isaquias mira no título. “Vamos brigar pelo ouro. Não vamos entrar para brigar por prata. Queremos o melhor resultado para honrar o Brasil e o investimento feito em nós. Acredito na canoa em dupla e no barco individual”, disse.
Jack Godman, que tem Isaquias como um ídolo, diz não sentir a pressão do alto sarrafo imposto pelo parceiro. “Acho que lido muito bem com a situação. No último mês, tivemos treinos muito bons. Agora é manter o foco até o dia da prova, chegar lá bem e buscar o melhor”, disse o atleta. Na comparação com Erlon, segundo Isaquias, Jack é mais técnico nas remadas, e Erlon tinha a força física como característica. “Mas eu me adapto com facilidade no barco duplo”, citou Isaquias.
Na trilha para chegar a Tóquio com expectativas tão altas, Isaquias mudou um pouco o estilo de remada. Isso coincidiu com o período em que passou a treinar com o paulista Lauro de Souza Jr, discípulo do espanhol Jesús Morlan, parceiro de Isaquias durante anos e que morreu em 2018, vítima de câncer.
“Nos Jogos Rio 2016 eu era bem mais jovem, com 22 anos. Hoje, aos 27, a técnica evoluiu de remadas curtas, com mais sequências, para uma remada mais longa, caindo mais o tronco. Como tenho uma estrutura mais baixa, precisava de amplitude de movimento para o barco deslizar melhor”, detalhou Isaquias. O resultado disso? Em 2019, na Hungria, Isaquias conquistou pela primeira vez o título mundial no C1 1.000m, a prova olímpica que disputará em Tóquio.
Tranquilidade essencial
Além dos adversários na água, as condições climáticas quentes e úmidas na capital japonesas estão entre as dificuldades a mais na prova olímpica. Nada que tire o foco do canoísta, que também não se altera com a perspectiva do isolamento necessário em função dos protocolos e da pandemia.
“Mesmo sem pandemia a gente não estaria passeando. Somos focados em busca dos resultados. Por isso, treinamos bastante. Nosso sonho é a medalha olímpica de ouro. Por isso, prefiro até evitar a euforia da Vila dos Atletas ou possíveis distrações. O melhor é ficar tranquilo e chegar para a prova. Medalha no peito é o nosso objetivo, para honrar o compromisso com Jesús, com o Lauro e para ajudar a delegação brasileira no quadro de medalhas”, encerrou.
Fonte: rededoesporte