A oitava aventura olímpica do professor Torben Grael

Credenciais não faltam: um bicampeão olímpico, duas atuais campeãs olímpicas, uma terceira medalhista olímpica, além de campeões mundiais no elenco. A vela brasileira desembarcou em Tóquio com uma equipe formada por 13 atletas talhados para brigar por pódios nos Jogos do Japão.

Nos bastidores, a delegação, que competirá em seis classes em Tóquio a partir de 25 de julho, conta com o apoio de um 14º elemento que é um sonho de consumo para qualquer equipe de vela do mundo que mantenha aspirações de competir bem: Torben Grael, uma das lendas da modalidade.

Dono de cinco pódios nos Jogos e bicampeão olímpico, Torben, que completa 61 anos nesta quinta-feira (22.07), véspera da abertura das Olimpíadas de Tóquio, participa no Japão de sua 8º edição dos Jogos. Das seis edições da qual fez parte como atleta, subiu ao pódio em cinco. Foi ouro em Atlanta 1996 e Atenas 2004, prata em Los Angeles 1984 e bronze em Seul 1988 e Sydney 2000. Depois disso, na primeira vez em que atuou como treinador da equipe nacional, viu a filha, Martine Grael, conquistar o ouro na classe 49er FX ao lado de Kahena Kunze em uma das finais mais emocionantes do Rio 2016.

Investimentos federais

No ciclo entre os Jogos Rio 2016 e Tóquio 2021, a vela recebeu investimento direto do Governo Federal, via Bolsa Atleta, de R$ 5,7 milhões, suficientes para custear a concessão de 153 bolsas para praticantes da modalidade que se destacaram nos cenários de base, nacional e internacional.

Agora, cinco anos depois de a tradição dos Grael levar mais um dos seus ao topo do pódio, Torben está de volta para guiar, novamente de fora da água, os velejadores brasileiros.

“Meu trabalho é transmitir experiência, tranquilidade, conhecimento técnico para eles e ajudá-los em tudo o que for possível em todas as áreas para que possam performar o melhor possível aqui nos Jogos”, resume Torben.

O treinador conversou com com a equipe do rededoesporte.gov.br nesta terça-feira (20.07) e, a pedido da reportagem, traçou um panorama sobre cada um dos representantes e times do Brasil que competirão no Japão.

Além disso, detalhou como está a rotina da delegação em meio às restrições impostas pela pandemia, disse que espera uma disputa tão equilibrada quanto a que assistiu no Rio na luta pelo pódio na classe de Martine e Kahena, afirmou que espera um bom resultado de Robert Scheidt e agradeceu o empenho do governo japonês para realizar os Jogos em meio a uma situação tão adversa.

Acompanhe a entrevista e a data da regata de estreia dos velejadores brasileiros:

As restrições em Tóquio e as Olimpíadas sem público

Na vela não chega a ser uma anomalia grande porque, com exceção do que ocorreu no Rio de Janeiro (2016) e em Londres (2012), que teve bastante público, o normal é não ter muito mesmo. Então, para a gente, não faz tanta diferença a ausência de torcida. Mas em outros esportes com certeza é muito diferente.

A rotina da equipe da vela do Brasil

Nós estamos em um hotel. A gente vai e volta para o hotel, não pode sair do hotel e temos três andares dedicados para a equipe e um restaurante com uma chef brasileira dedicada só para a gente. Temos um motorista japonês, um japonês-baiano, que nos atende e estamos aqui, entre o hotel e a Marina, todos os dias. Fazemos aquele teste da saliva diariamente.

Martine Grael e Kahena Kunze

Obviamente houve dificuldade. Por um período tivemos dificuldade até de treinar no Brasil, no início da pandemia, quando fechou tudo. Depois foi melhorando e, no caso delas e do Robert (Robert Scheidt), acabou sendo um pouco melhor porque ambas têm passaporte europeu e Robert também tem passaporte europeu, ele mora na Itália. Isso facilitou a movimentação deles nos poucos eventos de treino, porque não houve competições oficiais. E agora, em um último momento, através de uma parceria com o Comitê Olímpico Português e com a Confederação de Vela de Portugal, a gente conseguiu levar o restante da equipe para fazer alguns treinamentos com outras equipes em Portugal e isso foi bom para todos.

O favoritismo das atuais campeãs olímpicas Martine e Kahena

Eu acho que elas têm boas chances, mas não diria que são favoritíssimas. Tem um equilíbrio entre as três ou cinco melhores. Já no Rio (2016) elas foram para a última regata com três equipes empatadas e acabaram ganhando o ouro na última regata maravilhosa, mas chegaram lá empatadas com quatro equipes, as três primeiras e mais a espanhola, que ficou em quarto, mas que também tinha chance. Isso não se alterou muito. As neozelandesas, as holandesas e as dinamarquesas continuam sendo equipes bastante fortes.

Fonte de medalhas

A vela é uma das modalidades que mais rendeu medalhas ao Brasil na história dos Jogos Olímpicos. O primeiro pódio veio na classe flying dutchman, em 1968, na Cidade do México, com o bronze da dupla formada por Bukhard Cordes e Reinaldo Conrad. Eles abriram as portas para gerações de velejadores talentosos, dos quais sete se tornariam campeões olímpicos. Desses, três (Torben Grael, Marcelo Ferreira e Robert Scheidt) alcançaram uma glória ainda maior, pois são bicampeões olímpicos. Torben e Scheidt têm cinco medalhas cada um.

Em Tóquio, 13 atletas representarão o país nas regatas que serão realizadas entre os dias 25 de julho e 4 de agosto, no Enoshima Yacht Harbor, na cidade de Fujisawa. A estrutura foi originalmente construída para a edição de 1964 dos Jogos Olímpicos.

O trabalho com a equipe 

Acho que meu trabalho é transmitir experiência, tranquilidade, conhecimento técnico e ajudá-los em tudo o que for possível em todas as áreas para que possam performar o melhor possível aqui nos Jogos. Isso é feito mais separadamente. Algumas coisas a gente tem reuniões em conjunto, como as de meteorologia, que vamos começar a ter a partir de amanhã, e sobre a raia. Mas a parte técnica cada classe tem sua peculiaridade.

As condições do mar e de vento em Tóquio

É imprevisível. Pode ter de tudo e vai depender da meteorologia aqui. Por enquanto, tem a possibilidade de um tufão, mas não creio que vai ser muito forte e ainda está longe. Nós estamos treinando desde o dia 15, quando abriram os treinos nas raias, e temos tido ventos fracos até aqui.

O relacionamento com Robert Scheidt

É bem informal. O Robert é uma pessoa não muito extrovertida, mas a gente está em um ótimo relacionamento. Ele tem o técnico dele também, que é um italiano, e sempre que tem alguma coisa que eu possa ajudar estou à disposição.

O esforço do Japão 

Primeiro eu tenho que reconhecer que o esforço de adiar os Jogos Olímpicos por um ano e ter tudo pronto para funcionar sob essas condições de pandemia é extraordinário. A gente tem gratidão por esse esforço que os japoneses vêm fazendo para sediar esses Jogos que a gente chegou até a duvidar que fossem acontecer.

Fonte: rededoesporte




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