Para esta edição do projeto “A Peça da Semana”, do Museu “Mariano Procópio”, foi selecionado item do acervo da biblioteca, um dos valiosos espaços de memória da instituição, e que guarda publicações de diferentes épocas. Assim como outros setores, é procurada para pesquisas acadêmicas, como trabalhos de conclusão de curso, mestrados e doutorados em variados temas. Algumas ilustrações do livro serão publicadas nas redes sociais do Museu.
Dentro dessa luxuosa encadernação, ornamentada com madrepérola, metal, couro e madeira, há compilado de 18 números (organizados em três volumes) de raro periódico de botânica, publicado na Inglaterra entre 1857 e 1864. Intitulado “The Ilustrated Bouquet, Consisting of Figures With Descriptions of new Flowers” (“O Buquê Ilustrado, Composto por Figuras com Descrições de Novas Flores”, na tradução literal) o periódico é composto de diversas descrições de flores, acompanhadas de suas respectivas ilustrações coloridas, pintadas por artistas especializados em botânica, como James Andrews (1801-1876) e Charlotte Caroline Sowerby (1820-1865).
O primeiro volume foi dedicado pelos botânicos ingleses Edward George Henderson (1782-1876) e Andrew Hendersen (1823 – 1906) à Princesa Mary (1833-1897), de Cambridge, à qual se dirigiam como “obedientes e humildes servos”. Na dedicatória, em inglês, ambos homenagem Sua Alteza Real com a referida publicação, por conta de seus “ilustrados” e “refinados gostos” e afeição demonstrada pelas flores.
A ilustração botânica, ao mesmo tempo em que cumpria uma finalidade científica, voltada para a catalogação de variadas espécies existentes na natureza, também nutria os desejos estéticos e artísticos voltados para o exótico e a natureza. A encadernação de periódicos, por sua vez, era prática recorrente entre as elites desse contexto, ultrapassando o sentido utilitário da organização dos volumes de uma coleção. Muitas vezes feita sob encomenda, a encadernação personalizava a peça, seguindo os gostos e capital social/econômico de seu proprietário. Se a posse de um livro ou periódico era, por si só, símbolo de distinção social e status, a confecção de uma encadernação de luxo, como essa, expressava requinte, sofisticação e refinamento. Nesse sentido, pode-se dizer que o livro também era ostentado como artigo de luxo e exibido publicamente como verdadeira joia.
A seção de obras especiais da Biblioteca do Museu “Mariano Procópio” conta com outros exemplares dotados de encadernação de luxo, que chamam atenção por suas peculiaridades estéticas, extrapolando o conteúdo como valor em si mesmo. Assim, é possível não apenas refletir sobre a história do livro, sua materialidade e seus usos sociais, mas também a relação entre sujeito e objeto. As ornamentações não deixam de entrever, em certa medida, o esforço de autorrepresentação do sujeito através dos itens de sua coleção, além, é claro, de expressar a preocupação em perpetuar suas memórias.
Fonte: Assessoria