Após anunciar durante uma entrevista na segunda-feira (8), na qual a infectologista Maria Van Kerkhove, responsável técnica pelo time de combate ao Covid-19 da Organização Mundial da Saúde (OMS), afirmou que pacientes assintomáticos podem transmitir a doença, em uma nova entrevista, a mesma diz que houve um mal-entendido em sua fala e que estava se referindo a relatórios dos estados membros da OMS:
“O que eu estava me referindo na segunda-feira (8), na conferência de imprensa foram muito poucos estudos – alguns dois ou três estudos publicados que realmente tentam acompanhar casos assintomáticos, para que as pessoas infectadas, ao longo do tempo, e depois analisem todos os seus contatos e veja quantas pessoas adicionais foram infectadas.”
Segundo a autoridade médica, a sua fala sobre o assunto foi baseada em um número limitado de estudos feitos em situações específicas. De acordo com ela, alguns modelos apontam que até 40% das transmissões podem estar acontecendo por pessoas assintomáticas. Diante dos fatos, Maria diz que há incógnitas acerca do assunto:
“A maioria das transmissões que conhecemos é que pessoas com sintomas transmitem o vírus a outras pessoas através de gotículas infecciosas – mas há um subconjunto de pessoas que não desenvolvem sintomas e para realmente entender quantas pessoas não têm sintomas, na verdade ainda não temos essa resposta. Sabemos que algumas pessoas que são assintomáticas ou que não apresentam sintomas podem transmitir o vírus. Então, o que precisamos entender melhor é quantas pessoas na população não apresentam sintomas e separadamente quantas dessas pessoas transmitem para outras pessoas”.
Quanto à identificação de pacientes assintomáticos, é necessário entender que não é simples classificar pacientes como assintomáticos é a existência de indivíduos pré-sintomáticos: são pessoas que não apresentam sintomas nos primeiros dias de infecção, mas, mesmo nesse início, já transmitem o vírus. Segundo o pesquisador do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Aripuanã Watanabe, diz que os especialistas devem fazer uma testagem rigorosa e um rastreio complexo:
“É preciso seguir um grande número de indivíduos com diagnóstico positivo para o novo coronavírus, confirmado por testes laboratoriais, verificando uma série de elementos, como qual a carga viral de cada um, se as pessoas próximas a eles são contaminadas e, também, como esses próprios pacientes foram infectados”.
O pesquisador afirma também que se a carga viral observada em indivíduos for menor, não significa que as pessoas contaminadas por eles apresentarão um quadro menos grave. Além disso, explica que a presença de fatores de risco em pessoas infectadas, como hipertensão, diabetes, cardiopatia, pneumopatia e obesidade, podem acarretar maior gravidade do Coronavírus. Ele reforça a importância da utilização de máscaras:
“A recomendação geral do uso da máscara tem valido para diminuir essa transmissão via aerossol, pois são gotículas que permanecem no ar por mais tempo e percorrem uma distância ainda maior do que gotículas maiores, que, normalmente, alcançam até um metro e meio – por isso também a importância de mantermos o distanciamento. Até que se desenvolva um medicamento eficaz ou, principalmente, uma vacina, nós só temos essas armas para lutar contra esse vírus.”