Arnaldo Niskier

Há muito tempo o nosso ensino médio convive com evasão, abandono e distorção idade/série. O somatório desses três problemas provocou no sistema o que os especialistas consideram o ‘maior gargalo da educação básica brasileira’. Não foi por falta de aviso: bem antes da aprovação da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em 1996, portanto há mais de duas décadas, já alertávamos sobre a necessidade de mudanças profundas em sua estrutura, ou então estaria fadado ao fracasso. E é isso que estamos verificando agora, com a divulgação dos números referentes a 2017 do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). A ponto de o ministro da Educação, Rossieli Soares da Silva, desalentado, dar o diagnóstico fatídico: “O ensino médio está falido”.

Os resultados da prova de 2017 do Saeb realmente são preocupantes: 70,5% dos alunos do ensino médio têm nível insuficiente de proficiência em língua portuguesa. Segundo a pesquisa, eles são incapazes de executar tarefas simples, como “localizar informações em infográficos, reportagens, crônicas e artigos”, e também têm dificuldades de “reconhecer a relação de causa e consequência em piadas e fragmentos de romance”. Em relação à matemática, a deficiência neste nível é ainda maior: 71,67% dos alunos não são capazes de resolver questões que utilizam a proporcionalidade ou problemas de contagem com uso do princípio multiplicativo.

Saindo da zona crítica do Saeb, encontram-se outros dois patamares que medem a proficiência dos alunos. No segmento intermediário (chamado de ‘básico’), estão 27,5% dos estudantes em língua portuguesa, e 23,81%, em matemática. Já acima da média (chamado de ‘avançado’), apenas 1,64%, em língua portuguesa, e 4,52%, em matemática. Em termos geográficos, apenas quatro das 27 redes estaduais de ensino do país conseguiram avanço de aprendizagem nas duas matérias, nos últimos 11 anos: Espírito Santo, Goiás, Pernambuco e Sergipe. Isso é pouco para um país que pretende atingir níveis de desenvolvimento semelhantes aos dos países desenvolvidos. O caminho para se chegar a este objetivo deve ser longo.

Os números do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), referentes ao ano passado, também decepcionaram. A média nacional foi de 3,8 pontos (avanço de apenas 0,1%), e nenhum estado conseguiu atingir a meta prevista (índice de 4,7). E para piorar, cinco estados – Rio de Janeiro, Bahia, Amazonas, Amapá e Roraima – conseguiram a proeza de diminuir o resultado em relação ao Ideb de 2015. O estado do Espírito Santo apresentou o melhor desempenho no país, com o índice de 4,4, mas mesmo assim não conseguiu alcançar a sua meta, que era de 5,1. Lembramos que o ensino médio é oferecido em 28,6 mil escolas no Brasil, representando um total de 7,9 milhões de matrículas, das quais 6,7 milhões são da rede estadual (84,8%). Ou seja: o ensino médio é predominantemente de responsabilidade dos governos estaduais e do Distrito Federal. Já a rede privada, que participa com 12,2% das matrículas, obteve um desempenho 2,3 pontos superior ao obtido pela rede estadual, ou seja, Ideb igual a 5,8 contra 3,5 da rede estadual.

Diante desse triste quadro, o que fazer para promover as mudanças necessárias que levem ao ensino médio o grau de excelência que ele merece? Será que a aprovação do texto da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para esse segmento, no Conselho Nacional de Educação, vai ajudar a melhorar o desempenho dos alunos? São questões que precisam de respostas urgentes. Só nos resta aguardar os próximos capítulos desse filme, que está mais parecendo um drama.




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