Levantamento aponta que empreendedorismo feminino está em alta

As mulheres estão cada vez mais iniciando novos negócios. Os dados da pesquisa Donos de Negócio no Brasil, análise de gênero, que utiliza dados da Pnad/IBGE de 2016, mostram que entre 2001 e 2014, o número de brasileiras empresárias cresceu 34%, enquanto o aumento de homens nesta situação, no mesmo período, foi de 14%. A busca pelo próprio negócio é uma opção para aumentar o rendimento ou tornar o negócio como a principal fonte de renda. Em outra pesquisa, realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que traçou o perfil das empresárias, aponta que a maioria são jovens:40% dessas mulheres têm menos de 34 anos. Essas empresárias estão concentradas, principalmente, em quatro áreas de atuação: 16% em restaurantes, outros 16% em serviços domésticos, 13% cabeleireiras e 9% ocupam o comércio de cosméticos. A maior parte delas empreende dentro de casa.

O levantamento realizado pela Global Entrepreneurship Monitor 2017 (GEM), em parceria com o Sebrae, mostra que, em 2016, mais de 50% dos novos negócios foram fundados por mulheres, assim, contribuindo para o aumento da autonomia financeira. Toda essa renda obtida tem cada vez mais impacto no orçamento familiar. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a cada dez lares brasileiros, quatro são chefiados por mulheres.

Em Juiz de Fora

Flávia Cadinelli, uma das fundadoras do ‘Consultoria Para Mulheres’, acredita que as mulheres estão investindo cada vez mais nos próprios negócios. “Na minha percepção, cada vez mais as mulheres estão se libertando para trabalhar com o propósito de vida de cada uma. Essa palavra ‘propósito, é justamente usar o talento para fazer alguma coisa pelo mundo, então percebemos um movimento de mulheres com coragem, assumindo o que querem fazer na vida profissional e muitas estão em transição, estão buscando formas de realizar o sonho profissional”, disse.

Flávia desenvolveu, junto a sua sócia e amiga, Priscila Pinheiro, o‘Consultoria Para Mulheres’, que surgiu há quase dois anos. Elas utilizam seus conhecimentos para desenvolver um negócio voltado para mulheres. “Atuamos em Juiz de Fora com marketing e como empreendedoras há quase 10 anos. Já temos uma experiência atuando em empresas, atendendo aos clientes, empreendendo com iniciativas próprias”.

A iniciativa surgiu de uma necessidade das duas que sempre estiveram em eventos relacionados à área e eram minoria.“Percebemos que o meio do empreendedorismo na cidade é ainda majoritariamente masculino. Cansamos de ir em eventos sobre startup, inovação, empreendedorismo e sermos a minoria mulheres. Então, decidimos juntar nossas habilidades e criamos um serviço que transforma a motivação empreendedora da mulher em um plano para ela”, conta a empreendedora.“Ainda enfrentamos o machismo, de uma forma geral, e esse ainda é um grande desafio para a mulher entrar no mercado de trabalho”, conclui.

O foco das empreendedoras é ajudar mulheres a tirar as ideias do papel, para isso elas oferecem palestras e treinamentos, além do ‘Encontro das Empreendedoras’,que tem como objetivo conectar as mulheres empreendedoras de Juiz de Fora. “Temos desde mulheres com marcas na cidade, mulheres que estão dentro de empresas e que têm vontade de empreender mais dentro da empresa e agregar coisas novas para o trabalho, até mulheres que estão com ideias nascendo e precisam de inspiração. Quando mulheres se juntam para conversar elas conseguem identificar que os desafios são os mesmos e, então, praticamos a sororidade, um valor muito importante”, disse Flávia.

Quem também investe no próprio negócio é Ingrid Og, empreendedora e digital influencer. Ingrid é proprietária da ‘Casinha 649’, lá ela oferece cursos e workshops, além de consultoria de mesa posta, etiqueta e comportamento. “Eu comecei com uma franquia de São Paulo, ‘Empório Botânico’, e fiquei 4 anos. A franquia não estava indo muito bem e, infelizmente, não deu certo. E como eu gostava muito da minha loja, comecei a colocar alguns produtos que não eram da franquia e mudei o nome da loja para ‘Empório do Banho’, e comecei a comercializar alguns produtos”. A influencer investiu em fragrâncias, linhas personalizadas inspirada na filha, nas mulheres e em outros produtos como objetos de charme e decoração. “Eu fui criando tudo do meu jeito baseado no que eu acreditava”, disse.

Foto: Rafaela Frutuoso

Os anos foram passando e Ingrid percebeu a necessidade de mudar o ambiente e também o nome do negócio. Ela escolheu uma casa, que inicialmente levava o nome ‘Empório do Banho e Casa’. “Eu mudei de lugar e comecei a realizar alguns eventos, no convite eu colocava ‘Empório do Banho e Casa’e as pessoas perguntavam ‘é uma casa de banho?’, e então eu vi que precisava mudar o nome. Demorei cerca de 1 ano e foi quando meu marido disse ‘a casinha já tem nome, é ‘Casinha’, mas eu ainda achava que precisava de mais alguma coisa e meu marido sugeriu de colocar o número da casa que é ‘649’. E ficou ‘Casinha 649’.

A ideia de Ingrid era criar um espaço que proporcionasse bem-estar ao cliente. “A ‘Casinha’ é muito da minha infância, do que eu vivi, de receber as pessoas. É uma extensão da minha casa. É um ambiente que proporciona o bem-estar para as pessoas. É um aconchego de casa”, afirma.

O forte do empreendimento é a Consultoria de Mesa Posta, a empreendedora acreditar que para o sucesso do negócio é preciso investir no que você acredita e escutar o que está sendo pedido pelo cliente. “Eu acho que para poder vender, você precisa vender o que você gosta. Ouvir o que os clientes estão pedindo também é importante. Quando você parte para a venda com o que você realmente acredita, eu acho que funciona”, disse. Ingrid aposta na simplicidade. “A simplicidade é o segredo da sofisticação”.

Outra mulher que também segue comandando o próprio negócio é Norma Souza Gomes, proprietária da imobiliária ‘Souza Gomes’, fundada em 1980. Em 1994, com o falecimento do fundador da empresa e marido de Norma, RobertoSouza Gomes, a imobiliária passou a ser administrada pela esposa. “Eu não tinha nenhum tipo de intimidade com o mercado imobiliário, mas tive que tomar a decisão de dar continuidade à empresa. Eu tive que aprender tudo do zero”, conta.

Ao decidir assumir a empresa Norma se viu obrigada a aprender mais sobre o ramo para ser respeitada nesse mercado majoritariamente dominado por homens. “A minha maior dificuldade foi entrar em um mercado que eu não conhecia e ter que me informar de todo o processo empresarial e de conhecimento imobiliário, para que eu pudesse comprovar minha competência. Há 24 anos não era comum muitas mulheres no ramo imobiliário, ter que provar que você tem a mesma competência de um homem para levar à frente uma imobiliária, foi um grande desafio”. Norma ainda conta que no início deixou fluir sua intuição, mas que investiu em cursos e aprendeu muito sobre o mercado, afirmando que se orgulha das conquistas da empresa. “Se eu tiver que resumir a uma palavra, eu digo ‘realização’. Estou realizada de elevar o nome da ‘Souza Gomes’ a nível nacional e dos prêmios que conquistamos. Isso mostra que fizemos a coisa certa’.

A era da sororidade, a união entre as mulheres, baseada na empatia e no companheirismo, é um dos principais fatores que fortalece a presença da mulher no mundo do empreendedorismo. Flávia Cadinelli, que aplica esse valor em seu negócio, percebe que as mulheres estão mais dispostas a ajudar. “Percebemos que as mulheres estão mais abertas a criar parcerias, justamente por esse valor que a gente propõe que é a ‘sororidade’, não olhar a mulher como inimiga, mas sim como uma aliada. Percebo algo positivo que são as empreendedoras com menos medo de dar a mão para a outra e dizer ‘vamos ser parceiras’, ‘o que eu posso te ajudar?’.”




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