A LUTA DA MULHER AO LONGOS DOS SÉCULOS

“Feminismo é uma outra palavra para igualdade”. É com essa frase da vencedora do Nobel da Paz em 2014, a ativista paquistanesa Malala Yousafza, que começamos a série de reportagens do Diário Regional em celebração ao Dia Internacional da Mulher. Nessa primeira matéria vamos relatar as lutas das mulheres em busca de seus direitos e, principalmente, por reconhecimento como integrantes da sociedade, que precisam ser ouvidas.

Conforme a professora de antropologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marcella Beraldo, o primeiro passo das mulheres foi a conquista do espaço público. “A luta sempre foi sair desse ambiente privado e conquistar o espaço púbico. Ao mesmo tempo que ela ingressa na esfera pública e no mercado de trabalho, a mulher passa a ter uma dupla jornada: continuar com os afazeres domésticos e o trabalho fora. O ponto chave dessa conquista é a dificuldade de compartilhar as atividades domésticas com o parceiro”, pontuou.

Além do ingresso ao mercado de trabalho, outro fator relacionado à conquista do espaço público pela mulher é o voto. “A sociedade não reconhecia que a mulher poderia participar das discussões pública e políticas” afirmou a professora. No final do século 18, as mulheres começaram a buscar o direito a voto na Inglaterra e, com a Revolução Industrial no século seguinte, aumentou significativamente o número de mulheres empregadas.

Já no Brasil, foi somente em 1932 que as mulheres tiveram garantido o voto, com a promulgação do novo Código Eleitoral pelo presidente Getúlio Vargas, porém ele passou a ser obrigatório para elas somente em 1946.

 

DIREITO À EDUCAÇÃO

Em 1827 surge a primeira lei sobre educação das mulheres no Brasil, permitindo que frequentassem as escolas elementares; as instituições de ensino mais adiantado eram proibidas a elas. Após 52 anos, as mulheres têm autorização do governo para estudar em instituições de ensino superior, mas as que seguiam este caminho eram criticadas pela sociedade.

“Atualmente, temos cada vez mais mulheres entrando na universidade, conquistando espaço no meio acadêmico e sendo líderes em grupos de pesquisa. Isso é fruto de muita luta e conscientização”, destacou Marcella.

Vale lembrar que a primeira edição de 2018 do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) teve 2,11 milhões de estudantes inscritos. Deste total, 58,2% são do sexo feminino e, 41,8%, do masculino. Porém a realidade é diferente em outros países, onde uma parcela da sociedade ainda acredita que as jovens não devem estudar e têm que aprender a ser uma boa esposa. Um dos fatos que mais chocaram o mundo é justamente a história da paquistanesa Malala.

A jovem se tornou conhecida após ser baleada na cabeça por talibãs ao sair da escola, quando tinha 15 anos. Malala seguia em um ônibus escolar e foi alvejada por lutar pela educação das meninas e adolescentes no Paquistão, um país dominado pelos talibãs, que são contrários à educação feminina.

 

LUTAS ATUAIS

Apesar da passagem de tempo, as mulheres ainda encontram resistência na divisão das tarefas domésticas. “Pode parecer banal, mas os afazeres domésticos, que vão além dos cuidados da casa, impedem a entrada dessa mulher no mercado de trabalho e que ela tenha independência financeira”, disse Marcella.

Outro fator destacado pela especialista como uma luta atual é a abrangência do significado de mulher. “O nosso entendimento sobre ‘mulher’ deve ser ampliado porque é preciso incluir as travestis e as transexuais. Quando estamos falando de luta de mulher, tem uma especificidade e temos que pensar na ampliação dessa discussão para uma luta de gênero”, ressaltou.

Apesar das conquistas das medidas protetivas das mulheres, a violência doméstica ainda é uma bandeira de luta. “Antigamente, tinha aquele discurso de que em briga de marido e mulher não se mete a colher. Então, não havia o reconhecimento de que a mulher que apanhava no âmbito doméstico era vítima de um crime e, como estamos falando de um crime, estamos falando de uma questão social, sendo necessário políticas públicas que protejam essa mulher”, salientou. Na década de 80, surge a primeira Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher (DEAM), em São Paulo, e muitas são implantadas em outros estados brasileiros.

A violência atrelada à pobreza é uma das bandeiras levantadas pelo coletivo Maria Maria. A organização surgiu em 2006 com professoras e estudantes da UFJF que se reuniam em grupos de estudos para discutir questões relacionadas à mulher. “Um ano depois, nos integramos e viramos um núcleo da Marcha Mundial das Mulheres, movimento que há em todos os continentes, e, com isso, vamos além da universidade”, disse a integrante do coletivo, Laiz Perrut.

Ao longos desses 12 anos, o grupo, além de rodas de conversa, realizou diversas marchas na cidade, como em 2015. “Nós fizemos várias passeatas contra o Eduardo Cunha [ex-presidente da Câmara dos Deputados]. Além dos esquemas de corrupção nos quais estava envolvido, ele tentou pautar e ir contra alguns direitos das mulheres, como a pílula e os casos de aborto, já garantidos por lei”, relembrou Laiz. “No ano passado, também fomos as ruas contra a PEC 181, que também revogava os direitos das mulheres em relação ao aborto, e aprovação das reformas trabalhista e da previdência”, acrescentou.

Esta semana, o coletivo Maria Maria irá realizar palestras e rodas de conversas em empresas da cidade e em uma instituição de ensino.

 

A LUTA DA MULHER NEGRA

O coletivo Candaces é uma organização de mulheres negras que nasceu há três anos e atualmente é composto por onze mulheres. “O feminismo negro surgiu devido às pautas do feminismo branco não abraçarem as especificidades das mulheres negras. É dentro dessa vertente que nasceu o coletivo”, afirmou Giovana Castro, coordenadora de formação do Candaces.

A organização realiza dois eventos de grande alcance ao longo do ano. “O ‘Roda com Elas’ é promovido no mês de novembro devido ao dia da Consciência Negra e todos os anos ocorre em bairros diferentes. O outro também há relação com o processo de informar a população e é um evento bimestral e acontece na região central da cidade. Nele, trazemos discussões de raça e gênero dentro de uma pauta que permite a participação de todas as mulheres que quiserem”, afirmou.

A principal pauta do Candaces é a vulnerabilidade da população negra. “É nítido nas estatísticas o extermínio dos nossos meninos negros e que as mulheres negras são as maiores vítimas de violência doméstica e sexual, e que elas encontram dificuldade de ter ajuda do poder Público e de ter Justiça”, frisou Giovana. “É de extrema importância a existência do Candaces. Atualmente, somos uma das organizações de mulheres negras mais ativas na cidade e na região. Temos percebido cada vez mais que se a mulher negra não levar a própria pauta, ela será invisibilizada. Nosso lugar de fala precisa ser garantido e nossas bandeiras precisam ser visibilizadas”, finalizou.

 

LINHA DO TEMPO

– 1911
O Dia Internacional da Mulher surgiu em março de 1911, quando mais de 100 operárias morreram em um incêndio que ocorreu em uma fábrica têxtil em Nova York. Pelas faltas de condições de trabalho e precariedade do local, elas não conseguiram evacuar a área.

– 1945
A igualdade de direitos entre homens e mulheres é reconhecida em documento internacional, através da Carta das Nações Unidas.

– 1951
Aprovada pela Organização Internacional do Trabalho a igualdade de remuneração entre trabalho masculino e feminino para função igual.

– 1960
A primeira pílula anticoncepcional começou a ser comercializada e causou uma revolução de costumes e liberdade sexual.

– 1968
Mulheres se reuniram em frente ao teatro onde acontecia o concurso de Miss América, em Atlantic City, para protestar contra a ditadura da beleza. Além dos sutiãs, outros apetrechos que simbolizavam a feminilidade, como saltos altos, maquiagem e revistas femininas foram reunidos no protesto. Mas a queima não foi autorizada pela prefeitura.

– 1988
No Brasil, através do lobby do batom, liderado por feministas e pelas 26 deputadas federais constituintes, as mulheres obtiveram importantes avanços na Constituição Federal, garantindo igualdade de direitos e obrigações entre homens e mulheres perante a lei.

– 1993
Ocorreu, em Viena, a Conferência Mundial de Direitos Humanos. Os direitos das mulheres e a questão da violência contra o gênero receberam destaque, gerando assim a Declaração sobre a eliminação da violência contra a mulher.

– 2006
Foi sancionada a Lei Maria da Penha, que visa proteger as mulheres vítimas de abuso e agressão. A lei brasileira recebeu este nome por causa da farmacêutica Maria da Penha. Nos anos 80, ela levou um tiro do marido enquanto dormia e por isso perdeu o movimento das pernas.

 

PROGRAMAÇÃO

Os Coletivos de mulheres de Juiz de Fora se reuniram em um fórum para organizar atividades de luta para o Dia Internacional das Mulheres na cidade. São esses eventos:

Medalha Rosa Cabina
Data: 07/03 – quarta-feira
Horário: 19h
Local: Câmara Municipal de Juiz de Fora
O que é: A homenagem surgiu visando valorizar a contribuição das mulheres para Juiz de Fora e região, uma vez que a participação feminina foi e é fundamental para a construção da cidade que temos hoje.
O nome escolhido para a medalha é simbólico e, por isso, contaremos a história. Rosa Cabinda foi escrava do Comendador Henrique Halfeld. Com a Lei Rio Branco em 1871, ela passou a ter direito de comprar sua própria alforria. No entanto, o comendador não lhe concedeu, alegando que a oferta da escrava era inferior ao seu próprio valor. Cabinda, 44 anos e aleijada de uma mão, recorreu à justiça e conseguiu ser alforriada.
A luta de Rosa precisa ser mais reconhecida, como a de tantas mulheres. As homenageadas nesse dia foram indicadas no Fórum que reuniu mais de 30 grupos, movimentos de mulheres e sindicatos.

Ato Político e Cultural – 8 DE MARÇO – JUNTAS NA RESISTÊNCIA: Greve internacional de Mulheres
Data: 08/03, quinta-feira
Horário: A partir das 17h
Local: Praça da Estação
O que é: Marcha pelas ruas do centro da cidade. A concentração será na Praça da Estação a partir das 17h, em seguida subirão a Rua Halfeld até a Praça João Pessoa, em frente ao Cine Theatro Central, onde terão diversas atividades artísticas e culturais como circo, fotografia, capoeira, música, dança, poesia, entre outros, tudo isso apresentado por mulheres. Serão mais de 20 apresentações.




    Receba nossa Newsletter gratuitamente


    Digite a palavra e tecle Enter.