Walter Pires, comunicador oficial da feira da Avenida Brasil, se aposenta após 50 anos de trabalho

A tradicional feira livre de domingo na Avenida Brasil perdeu um dos comerciantes mais populares. Após 50 anos trabalhando na feira e quatro décadas dedicadas ao serviço de utilidade pública, o feirante Walter Pires e sua Kombi azul aposentaram e trabalharam pela última vez na edição da feira desse domingo, 25. O Diário Regional conversou com o comerciante para narrar a trajetória desse personagem que conquistou os fregueses e feirantes da cidade.

“Foi muito difícil [o último dia de trabalho]. Como diz o cantor Roberto Carlos, foram tantas emoções. Eu já tinha anunciado no domingo anterior que o serviço acabaria e anteontem anunciei que seria o último dia”, disse Walter. “Minha filha também falou e contou como o trabalho foi importante para nossa família. Muitos feirantes me disseram que a feira iria ficar triste e silenciosa”, acrescentou.

O trabalho de Pires foi tão emblemático que já foi reconhecido pelas autoridades. Em 2008, o então vereador Isauro Calais lhe concedeu uma moção de aplauso “pelos excelentes serviços prestados, desde 1995, como comunicador oficial da feira semanal, na Avenida Brasil”, salienta o documento. Seis anos depois, o prefeito Bruno Siqueira conferiu a Walter Pires o Mérito Comendador Henrique Guilherme Fernando Halfeld.

 

50 ANOS DE TRABALHO

Antes de começar a anunciar na feira, Pires montou a sua barraca, onde vendia doces, queijos, mel de abelha e caramelo, produtos fabricados no município de Coronel Pacheco. “Comecei na feira dessa forma, mas com o tempo trabalhando, resolvi colocar umas caixinhas de som simples debaixo da barraca para chamar a atenção dos fregueses, para que eles olhassem a minha mercadoria, pois como dizem, ‘o que olhos não veem, o coração não sente’”, contou o feirante.

Tempo depois, Pires começou a anunciar através de um microfone que adquiriu no local. “Às vezes, apareciam algumas senhoras chorando pedindo que anunciasse que o filho estava perdido. Porém, eu não tinha como auxiliá-las, porque o som não era suficiente para que todos na feira ouvissem o comunicado”, relembrou.

Após dez anos trabalhando no local, ele teve a ideia de iniciar o serviço de utilidade pública por conta dos casos de crianças que se perdiam. E nesse mesmo período, adquiriu sua companheira de trabalho, uma Kombi. “Em junho, vai fazer 40 anos que eu tenho a Kombi. Eu a adquiri após trocar um Fusca 67 que eu tinha por ela. De lá para cá eu venho conservando, pois ela é minha companheira de trabalhos esses anos todos e me ajudou a criar a minha família”, disse. Nas cinco décadas trabalhando na feira, Pires conseguiu comprar uma casa para que ele e a esposa deixassem de morar de aluguel, além de uma casa própria para cada um dos seus cinco filhos.

Pires coleciona várias histórias devido ao seu trabalho na feira. “Um senhor meio alegre apareceu, deve ter tomado uma pinga, e me pediu que arrumasse uma companheira para ele. Eu disse ‘meu amigo, eu vou tentar, mas fique em pé ao lado da Kombi para que, após o anúncio, as mulheres passem e te vejam’. Eu tentei, mas não consegui uma companheira para ele”, relembrou aos risos.

Outro fato curioso é que ao longo dos anos o feirante conseguiu um substituto para quando ia passear pela feira. “Um dos meus filhos tem uma voz muito parecida com a minha e as pessoas não notam a diferença. Ele já me substituiu algumas vezes e eu ia passear pela feira. Algumas vezes, os feirantes me paravam e diziam ‘seu Walter, como está falando lá e está aqui ao mesmo tempo?’ ”, contou Pires.

Entre os motivos que o levaram a parar de trabalhar, foi a falta de segurança na feira. Agora, seu Walter pensa nos próximos passos. “Eu vou cuidar da minha saúde, passear e descansar. Deus é testemunha que fiz a minha parte nesses anos todos de trabalho”, ressaltou o feirante. “A Kombi vai cansar mais ainda, porque vai viajar por aí”, completou.

Apesar de ter um substituto em casa, nenhum dos filhos de seu Walter pretende dar continuidade ao trabalho dele. Ele pretende vender os equipamentos, mas se não conseguir vai doá-los.

“Nossos filhos e eu estamos muito orgulhosos [com o reconhecimento de Pires e as mensagens recebidas através das redes sociais]”, afirmou a esposa Marileia. Em março, os dois completam 54 anos de casados, sendo que por 30 ela trabalhou ao lado dele. “É uma vida juntos e apesar de ficar sozinha nos finais de semana, depois que parei de trabalhar com ele, foi assim que criamos a nossa família. Estou muito orgulhosa”, finalizou.




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