Identidade em constante construção – na visão de um professor

O termo identidade sempre desperta interesse, tanto das pessoas comuns, representantes do universo consensual, quanto de cientistas sociais. Então, inúmeras questões estão associadas a essa temática. Historicamente, o termo empregado para significar o que “hoje” entendemos por identidade foi “personalidade” – que privilegia a perspectiva individualista e também uma visão em que os princípios da ciência médica sustentavam toda proposta de compreensão.

Nesse contexto, os debates versavam sobre o “normal” e o “patológico”, o “natural” e o “inerente”. A priorização do ser biológico e individual sustentados por uma estrutura psíquica, invariante enquanto processo normativo, porque institui uma dicotomia entre o indivíduo e o grupo, entre o homem e sociedade. O conceito de personalidade oferecia um conjunto de princípios que previamente classificavam os indivíduos em categorias, confirmando uma concepção de sujeito em que pese a diversidade dos ambientes sociais. Os comportamentos expressos pelos indivíduos invariavelmente serviam para justificar as interpretações denominadas “científicas”, restando pouco ou quase nada a fazer por parte daqueles que manifestavam tais condutas.

Baseados no princípio de “normalidade” e estrutura psíquica invariante, aplicado a todos indistintamente, os psicólogos mostravam-se despreocupados em investigar o comportamento dos homens. O comportamento, em si, configurava-se como recurso para alimentar os princípios constitutivos da personalidade normal ou patológica. A história social e singular do indivíduo participava apenas como pano de fundo para a expressão dos comportamentos “sabidamente” conhecidos.

Mas o fator importante fica em considerar que o Humano, ser social, inicia o desenvolvimento da sua identidade através da interação que mantém com o meio em que vive. A construção da identidade apresenta características diversas em razão das diferenças culturais. A cada experiência vivida, a cada problema enfrentado, se está alimentando o processo de construção de sua história.

Faz parte da nossa realidade contemporânea a criança frequentar creche ou berçário a partir dos quatro meses de idade. Também é realidade a não especialização no processo de desenvolvimento cognitivo e desenvolvimento da identidade, dos profissionais que lá trabalham, não existindo a motivação pedagógica à curiosidade, ao estímulo do desenvolvimento da fala e dos movimentos, ao convívio social e tantos outros itens, que quando estimulados, agem como diferencial no desenvolvimento sócio-cognitivo da criança.

É justamente através das atividades rotineiras que a aprendizagem deve ocorrer. Também novos desafios devem ser propostos como incentivo à autonomia e independência do bebê. A “não especialização” destes profissionais pode interferir negativamente no desenvolvimento da autoconfiança da criança, fator este, inibidor da construção da sua identidade. O descaso poderá resultar na inibição, impedindo seu progresso e segurança nos próximos registros, imprescindíveis para o processo de construção da identidade.

O ser humano precisa ser elogiado, apreciado e reconhecido, durante toda a vida. O professor, ao propiciar que o aluno exponha suas “ideias”, de forma democrática, contribui para construção de uma relação equilibrada tanto entre aluno/professor quanto aluno/aluno.
Na adolescência, há uma ebulição de ideias que acontece ao mesmo tempo em que as transformações corporais se mostram imensas e intensas. Tudo isso se apossa do adolescente sem que ele tenha pedido ou querido, tirando-o da zona de conforto em que se encontrava, necessitando do respaldo necessário para a continuada formação da sua identidade.

O diálogo é fundamental para o exercício desta construção, além de exercitar o respeito à diversidade e à autonomia. A autonomia não se dá, se conquista. Para ser autônomo, há que se ter confiança. A confiança se adquire através de uma boa preparação, e esta preparação é decorrente do exercício da ação dialógica. Todo este processo favorece a criatividade, tão fundamental na construção da identidade.

Enfim, todos esses quesitos embasam o indivíduo para que acredite em si mesmo e construa uma identidade forte, autônoma e perseverante. A escola do seu filho propicia esse exercício? No seu lugar, eu priorizaria esses valores.

 

Professor Leonardo Barreto Vargas – Psicólogo, Pós Graduação em Psicopedagogia institucional

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