Autêntico gigante filosófico, Immanuel Kant (1724-1804) nasceu e viveu quase a vida inteira em Königsberg, na Prússia Oriental, hoje Kaliningrado, na Rússia. Pouco se sabe sobre a vida pessoal de Kant, além de que nasceu numa família humilde (o pai era artesão de couros), teve a educação marcada por um severo protestantismo e demorou a ingressar na universidade.

Celibatário, sua vida íntima também está oculta por uma cortina de silêncio. Vale sua própria frase, não desprovida de humor: “Quando precisei das mulheres, não pude tê-las por motivos econômicos; e quando a economia me permitia estar com elas, já não tinha necessidade das mulheres”. Ficou famosa, também, uma outra frase sua: “O homem só é homem pela educação”.

Em suas linhas principais, a filosofia de Kant afirma que o conhecimento é a resultante de dois fatores – os sentidos e a compreensão. As sensações são o ponto de partida do conhecimento. Espaço e tempo são condições essenciais de nossa percepção sensorial, as formas sob as quais nossas sensações são traduzidas em consciência. Assim, o conhecimento tem o espaço e o tempo como suas condições essenciais. E o espaço e o tempo não chegam a existir a não ser como formas de nossa consciência. Essas formas, contínuas e infinitas, oferecem a possibilidade de unificar nossas percepções individuais e a unificação se efetua através do entendimento.

Este ato de síntese de Kant analisa em doze princípios, “categorias” ou leis de pensamento. As categorias são para o entendimento aquilo que o tempo e o espaço são para a consciência. Incluem noções como qualidade, quantidade e, notavelmente, causalidade. O mundo externo é assim o produto de sensações condicionadas pelas formas de consciência e associadas pelo pensamento segundo suas próprias leis. Consiste de impressões, phenomena; mas as causas dessas impressões, noumena, entidades em si, se situam além dos limites do conhecimento e não podemos, com a ajuda da razão apenas, além das impressões, chegar à verdade absoluta, pois a razão leva a certas contradições insolúveis, ou antinomias, como a impossibilidade de conceber o espaço, limitado ou ilimitado.

Mas onde a metafísica falha, a razão prática vem em nosso socorro. A consciência moral aceita certos “imperativos categóricos”, como “não mentirás”. A partir daí, segue-se a convicção de que o homem é de certo modo livre, de crença na imortalidade (porque a autorrealização dentro de qualquer período finito é impossível) e de crença em Deus. Somos impelidos pela característica de nossas mentes a ver um desígnio. E uma “boa vontade”, uma consciência que controla habitualmente a participação numa comunidade ideal de seres racionais, garantia única de que a existência do homem pode ter um valor absoluto. Embora as vantagens resultantes da obediência a certas leis morais particulares possam ser demonstradas, a obrigação moral em si é um imperativo categórico, algo que sentimos que não podemos explicar. Segundo Kant, é algo que vem de nós, puramente humano. Algo que nos diz: deves proceder desta ou daquela maneira; deves proceder corretamente. De onde vem este “tu deves”? Não da natureza, a natureza oferece fatos, mas nenhum dever moral. Do entendimento? O entendimento conhece ideias e desconhece mandamentos imperativos. As pessoas chamam a esse “tu deves” de “voz da consciência”. Para Kant, era o imperativo categórico.




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