Se você controla a sua ansiedade, então bom Natal!

Expectativa – ex•pec•ta•ti•va – sf
1. Situação de quem espera um acontecimento em tempo anunciado ou conhecido.
2. Esperança baseada em supostos direitos, probabilidades ou promessas.
3. Estado de quem espera um bem que se deseja e cuja realização se julga provável.

A ideia foi começar com uma definição de dicionário.

Todos sabemos que criar algum tipo de expectativa é normal. O discurso de que isso é ruim, que nos prejudica, só nos deixa mais ansiosos, nos sentindo ainda mais culpados por cultivar um sentimento que, no senso comum, não é nada saudável.

Segundo o jornalista Lucas Rodrigues, a narrativa de negação dos nossos anseios acaba criando um exército de pessoas que fingem que não se importam, mas que, no fundo, só querem exercer o seu direito básico de idealizar. É evidente que existem “níveis” de expectativa. Até porque, não me parece razoável depositar todas as nossas fichas em uma vontade que pode ou não se realizar. Porém, achar que merecemos punição pelo mais leve friozinho na barriga é a maior das besteiras. O verdadeiro problema não é a ansiedade de “esperar por algo”. Todos nós sempre esperamos algo. O complicado é que não nos preparamos para lidar com frustrações. Quando o nosso desejo não é cumprido – extremamente natural, possível e palpável – nós sofremos como se estivéssemos a um passo de um final trágico.

Então, vamos acostumando com essas situações, e em algum momento das nossas vidas percebemos que nunca vamos viver como nos filmes. Não existe uma ‘trama’ pronta, não há paixões ardentes, assassinatos, super poderes, nem nada do tipo. Somos simplesmente pessoas que acordam cedo para ir trabalhar e estudar, pessoas que voltam para nossas casas, pessoas que criam programas nos fins de semana. Simples assim…

Por mais infantil que pareça, lá no nosso íntimo, esperamos uma vida de emoções cinematográficas, almejamos corpos perfeitos, ‘belíssimos’ e ‘estonteantes’ companheiros… Desejamos “grandes causas”. Queremos ser lutadores imbatíveis. Em nossa consciência sabemos que não somos assim, mas inconscientemente desejamos conquistar tudo e a todos… Mesmo sabendo que não é verdadeiro e nem real.

Os “sorrisos brancos nas propagandas”, conquistar aquela bela mulher só com um olhar, explosões, fugas e aquela trilha sonora – a bendita trilha sonora que aparece nas horas certas dos filmes e propagandas, simplesmente não existe. Nossas expectativas nos levam a acreditar que mesmo que não vivamos em um filme, que no fim do arco íris, lá no finalzinho vai chegar a felicidade e a REALIZAÇÃO de ser humano.

O caminho do arco-iris é simples, “eles” nos lembram a vida inteira. Estude, trabalhe, compre ou não um carro, compre – alugue – financie um espaço e o transforme em um lar, tenha ou não um filho, se case ou não, esses devem ser seus objetivos de vida. E nós simplesmente levamos essa máxima, dia após dia e, aos poucos, até conquistamos algumas delas. O diploma, o carro, o(a) companheiro(a)… Mas, mesmo assim, a cada nível que passamos ainda nos perguntamos “cadê aquele sentimento de realização?”. “Recebo” relativamente bem, mas ainda não posso comprar tudo que quero… Tenho um carro mas não posso ir a todos lugares que desejo e nem os companheiros se jogam em cima de mim por causa disso tudo…

Vivemos reclamando das trivialidades e isso é entediante. “Afinal cadê?”. E o desenrolar dessa história segue provavelmente até o fim de nossos dias. Com a velhice chegam as doenças, chegam os desgastes e então perceberemos que iremos morrer e tudo que fizemos a vida inteira foi alimentar expectativas que nunca nos completaram da maneira que achávamos que iam nos completar.

Percebemos, também, que não há nada de especial nas pessoas. Somos, na verdade, pobres humanos com expectativas incompletas. Somos seres deslocados escondidos atrás de sorrisos e muita conversa fiada mas que, no fim da noite, vamos para nossos lares dormir e trabalhar para continuar a girar a engrenagem de nossa sociedade.

Segundo Viviane Battistella – Psicóloga, psicoterapeuta, especialista em comportamento humano- nosso problema é muito cultural porque vivemos em uma cultura tóxica, que nos dita consciente e inconscientemente valores e padrões artificiais que não irão nos satisfazer, que só satisfazem a indústria, a engrenagem social, mas que não levam a lugar algum. Estamos todos dentro de um estado recursivo. Nossos ideais de felicidades são engenharias que nada tem a ver com o que realmente queremos ou nos faz bem, só serve para manter a máquina ligada. A falta de valores e a falta de religião são provavelmente os causadores desse deslocamento social. Os falsos valores, o hedonismo de alguns e o egoísmo são produtos de uma sociedade sem Deus. Quando uma sociedade abandona o pilar religioso, os homens vivem perdidos. Tentamos achar sentido nos nossos serviços, na sagrada cerveja, na compulsividade por prazeres, em qualquer lugar, menos onde encontraríamos mais paz de espírito. E Isso é na religião.

Segundo a filosofia budista, ficar agarrado ao passado ou se preocupar com o futuro e ter medo do que possa acontecer pode arruinar o nosso presente. Vivemos em um mundo no qual é muito difícil permanecer no tempo presente, tudo nos puxa para fora, as mágoas, os erros, as frustrações (do passado), além dos medos, a ansiedade (do futuro).

Se permanecermos fora do presente, estaremos distantes da felicidade, pois é ali que ela mora. Estar em contato com o momento presente é perceber nosso corpo, utilizar nossos cinco sentidos e entrar em contato com nosso interior. Quando vivemos o presente, um milagre acontece na nossa vida, o de poder vivenciar momentos felizes – o que todos nós buscamos.

Uma boa razão para abandonar as expectativas é entender que elas distorcem a nossa avaliação da realidade. Quem vive fora do presente é incapaz de perceber até um gorila pulando na sua frente.

Viviane Battistella cita no seu artigo publicado que essa afirmação vem do experimento realizado por dois cientistas americanos, que provaram que a mente humana, quando ordenada a observar um futuro próximo, deixa de enxergar o presente, ainda mais quando é inesperado, ou seja, deixamos passar o que mais queremos – ser surpreendidos. No experimento, pessoas foram convidadas a contar quantos passes os jogadores de basquete faziam em apenas um minuto. Todos prestaram bastante atenção nos quase 35 passes e, ao serem questionados se haviam percebido algo estranho na cena, mais da metade afirmou que não – isso porque, durante o vídeo, um aluna vestida de gorila pulou por nove segundos no meio dos jogadores!

A verdade é que somos seres muito pouco confiáveis para avaliar uma situação, primeiro porque somos impregnados pelo nosso passado e pelo medo do futuro e segundo porque não contamos com o imprevisível. O problema não está em ter expectativas, mas em acreditar cegamente nelas. Se não somos capazes de enxergar nem mesmo “o gorila que pula em nossa frente”, por que acreditar que podemos avaliar o que pode acontecer no futuro?

Se observarmos a definição de “esperança”, em Spinoza, ele dirá que “é uma alegria instável, surgida da ideia de uma coisa futura ou passada, de cuja realização temos alguma dúvida”. Ocorre que, raramente, a esperança não vem acompanhada do seu afeto oposto, que é o “medo”. Além disso, ambos os afetos tendem a ser proporcionais: quanto maior a esperança a respeito de algo, maior o medo daquilo não se concretizar.

De certa forma, vale compreender que diante de tantas possibilidades de vida, muitos serão os encontros e as surpresas que o mundo nos reserva a cada esquina. A esperança deve servir como um modo para projetar o futuro, mas sem fundamento, se torna um mero delírio.
Viver é entrar no campo do desconhecido, é deixar-se surpreender. A esperança não pode ser derivada da expectativa, mas sim da aceitação, com alegria, das surpresas do caminho criado por um “outro poder”, que podemos chamar de natureza, ou de Deus! É a esse outro poder que alinhamos o nosso poder próprio e assim devemos nos lançar na vida – sabendo que o leme é nosso, mas não é somente nosso.

Bom Natal caso consiga equilibrar suas expectativas!

 

 

Professor Leonardo Barreto Vargas – Psicólogo, Pós Graduação em Psicopedagogia institucional

 

Leonardo Barreto - Cópia.jpeg




    Receba nossa Newsletter gratuitamente


    Digite a palavra e tecle Enter.