A política de cotas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) teve sua implementação em 2006, anos antes da regulamentação federal, instituída em 2012. Buscando medir os possíveis efeitos desta implementação sobre o rendimento dos discentes, o estudante Thalles Gago, bacharel em Economia, utilizou informações dos microdados dos discentes efetivamente matriculados na UFJF, no período de 1991 a 2015, disponibilizados pelo Centro de Gestão do Conhecimento Organizacional (CGCO) da UFJF para a realização de sua monografia.
Orientado pelo professor Ricardo Freguglia, coordenador do Programa de Pós-graduação em Economia, e co-orientado pela professora Flávia Chein Feres, a pesquisa de Gago apontou que os não cotistas têm rendimento, em média, maior que os cotistas, exceto nos anos de 2007 e 2009, consideração que parte da análise do Índice de Rendimento Acadêmico (IRA) médio dos discentes. Apesar disso, os cotistas, a partir de 2006, mostraram-se em melhor situação do que os alunos que ingressaram até 2005 e que possuíam o mesmo perfil socioeconômico, ou seja, vinham da rede pública, autodeclarados pretos, pardos ou indígenas ou tinham renda per capta menor que um salário mínimo e meio mas não foram cotistas, uma vez que a política de cotas ainda não era vigente à época.
Vale ressaltar que, no primeiro ano da implementação na UFJF, os cotistas, de forma geral, contabilizavam 27% dos estudantes e, em 2015, ultrapassaram os não cotistas, totalizando 51% dos discentes da Universidade. Quanto à distribuição das notas dos alunos, a análise é a de que, nitidamente, quando o rendimento é inferior a 60% do IRA, os cotistas por renda são de maior quantidade nessa área. A pesquisa também aferiu que quanto maior o IRA, a concentração de não cotistas e de cotistas que não declararam renda é maior.
Segundo Gago, isso ocorre porque os cotistas que não declararam renda são aqueles só oriundos da rede pública que também inclui colégios e institutos federais, tão bem avaliados quanto colégios da rede privada. Como exemplos o autor cita o Colégio de Aplicação João XXIII e o Colégio Militar de Juiz de Fora.
O estudante observa que a diferença entre rendimentos de cotistas e não cotistas ainda persiste, não somente na UFJF, mas em boa parte das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), “o que não deve ser encarado como uma crítica à política de cotas, mas sim ao sistema de ensino público, fundamental e médio. Qualquer medida na educação, ainda mais na básica, demanda tempo para se colher os resultados. E a política de cotas visa a corrigir, em curto prazo, essas distorções que, por décadas deixaram de fora negros e pobres da Universidade.”
Gago ressalta que, conforme apontam diversos trabalhos, essa medida não diminuiu a qualidade das Ifes. Para o pesquisador, a diversidade e a pluralidade são socialmente benéficas e, para exemplificar, cita um dos principais estudiosos e avaliadores de políticas públicas, o professor da Universidade de São Paulo (USP), Naercio Menezes, que afirma que os cotistas têm o que ele chama de “características socionacionais”, fazendo deles indivíduos adaptáveis a diferentes situações, de modo que são altamente persistentes, pois enxergam o ensino superior além de uma etapa a ser concluída, pois também vislumbram oportunidades de alcançar uma melhor ocupação no mercado formal de trabalho.
O trabalho de Gago concluiu que a adoção das ações afirmativas na UFJF foi positiva em termos de desempenho acadêmico dos alunos e aponta dados de que não houve diminuição da qualidade do ensino desta instituição, além de ter sido bem sucedida no que tange à questão social, gerando pluralidade, já que conseguiu incluir alunos provenientes da rede pública e de etnias variadas no seu quadro discente.
Fonte: Assessoria/UFJF