Trezentos mil reais: o preço de um dos vários modelos esportivos da Audi, uma das patrocinadoras do Barcelona, que o craque brasileiro Neymar tem em sua garagem. Esse é o valor que um pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) precisa para dar continuidade a um promissor estudo para o desenvolvimento de uma espécie de vacina para prevenir e tratar o vício em cocaína.
As dificuldades em obter essa quantia foram debatidas na quarta-feira, 31, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em uma audiência conjunta das Comissões de Saúde e de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas.
O requerimento para a audiência é do deputado Antônio Jorge (PPS), presidente da Comissão de Combate ao Crack, que convidou o coordenador do Centro Regional de Referência em Drogas da UFMG, Frederico Duarte Garcia, para apresentar o resultado do seu trabalho.
Ao longo da reunião, algumas opções de financiamento foram cogitadas, sendo a mais promissora o Programa de Pesquisas para o SUS (PPSus), parceria do governo federal com as instituições de fomento à pesquisa nos estados, via secretarias de Saúde, responsáveis pelo gerenciamento do Sistema Único de Saúde (SUS). Um edital deve ser lançado nas próximas semanas.
No caso de Minas Gerais, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapemig) é o principal órgão oficial de fomento e, nos estágios iniciais, já deu seu apoio à pesquisa da vacina contra o vício em cocaína.
O diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da entidade, Paulo Sérgio Lacerda Beirão, lembrou que atualmente cerca de R$1 milhão são investidos. O problema é que são cerca de 30 projetos ligados à dependência química, o que dá uma média de R$33 mil para cada um, insuficiente para o avanço do estudo na UFMG.
Também foi cogitado o uso de recursos diretamente vinculados à Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), e os deputados prometeram intermediar essa articulação. Os parlamentares também já iniciaram os entendimentos com o secretário de Estado de Saúde, Sávio Souza Cruz, que ficou de buscar outras fontes de recursos.
ALTERNATIVA DE FINANCIAMENTO
As opções de financiamento foram endossadas pelo deputado Antônio Jorge, que ressaltou que o objetivo da audiência foi sensibilizar o poder público e a sociedade sobre a oportunidade de cura que pode ser perdida diante de um problema tão grave como a dependência química de cocaína e crack, que são formas de consumo da mesma droga.
O presidente da Comissão de Saúde, deputado Carlos Pimenta (PDT), lembrou o drama vivido pelos frequentadores da região conhecida como Cracolândia, no Centro de São Paulo, como exemplo de que esse tipo de pesquisa deveria ser encarada como prioridade no Brasil.
FASES
Os R$ 300 mil que o grupo de pesquisadores coordenados por Frederico Garcia precisam seriam para a fase 1 da pesquisa clínica, já com seres humanos, que levaria de oito a 12 meses. A fase 2 dos testes clínicos levaria pelo menos mais um ano.
“O usuário percebe que a droga não dá mais o mesmo efeito e desiste. Ele pode trocar de droga, aumentar o consumo, mas as recaídas não serão tão duradouras nem tão terríveis”, explicou. “Atualmente, para esse fim, usamos medicamentos para doenças psiquiátricas por falta de opções”, lamentou.
Fonte: Assessoria