Por meio da Medida Provisória (MP) 764, sancionada em dezembro pelo presidente Michel Temer, lojistas estão autorizados a cobrar preços diferentes para o mesmo produto conforme a forma de pagamento. Antes da legislação esta ação, o comerciante ficava impedido de conceder desconto ao pagamento em dinheiro porque precisava pagar as taxas administrativas às operadoras de cartão de crédito.
Com a liberação o consumidor é o primeiro a ser impactado. É o que defende Emerson Beloti, presidente do Sindicato do Comércio (Sindicomércio) “A partir do momento que ele tiver com o dinheiro na mão, ele poderá negociar com o lojista para conseguir um desconto melhor. Ele poderá barganhar na negociação”, esclarece. O valor de desconto, segundo Beloti, vai depender de quanto o lojista estava pagando de taxa administrativa às operadoras de cartão de crédito.
Atualmente, 70% das compras feitas na cidade são pagas pelo cartão de crédito, e os outros 30% em dinheiro ou cheque. “Com essa possibilidade, talvez tenhamos o aumento da compra em dinheiro. Com isso, as compras no cartão devem cair em 20%”, espera Beloti.
O presidente acredita que a medida traga estímulo ao comércio e aumento gradativo das vendas. “O consumidor vai ficar mais propenso a comprar”, aposta. “O valor descontado vai se tornar verba para outra compra. Se o comprador ganha, por exemplo, 5% de desconto em uma loja, isso vai gerar um valor que ele poderá gastar em outro lugar. Sendo assim, o comércio irá se movimentar e o dinheiro a fluir. É disso que estamos precisando”, acrescenta.
ALÉM DO PREÇO
O economista José Jamil Adum defende que o consumidor brasileiro não tem característica pedir desconto, mas ele espera que a medida faça que os brasileiros mudem. “Acredito que com a medida, o consumidor vai perder a ‘vergonha’ e se sentir confortável em pedir um desconto. Ele está ganhando um poder de barganha que poderá usar a seu favor”, sugere.
O economista acredita que a medida traga benefícios também para os comerciantes, desde que não tirem proveito da situação. “Se o comerciante não utilizar de outros mecanismos, como aumentar o preço para dizer que está oferecendo desconto à vista, acredito que pode ser benéfico. O consumidor vai perceber ao fazer comparação com outros estabelecimentos”, disse Adum.
Apesar dos preços baixos serem atrativos ao consumidor, o economista esclarece que o lojista precisa ter em mente que não é apenas o preço que atrai a compra. “O produto ou serviço tem valor e o preço é apenas um dos itens que compõe esse valor. Não basta achar que dar um desconto, o consumidor vai adquirir o produto ou serviço”, sugere o especialista ao afirmar que os consumidores levam em consideração outros aspectos antes de comprar um produto.
“Tem consumidor que gosta que o atendente o acompanhe pela loja e fique a sua disposição. Outros preferem andar, sentir-se livre para tomar uma decisão e depois solicitar a ajuda. São os mínimos detalhes que fazem que o consumidor tenha preferência por uma loja em detrimento de outra”, exemplifica.
Quanto ao impacto na economia, o especialista propõe que seja cedo para perceber reflexos. “Acredito que ainda vai levar um tempo para dar gás na economia, pois a gente vê que o consumidor ainda está cauteloso. Acredito que o aquecimento da economia não será rápido, ainda vai levar um tempo”, finaliza.