Por que não Deus? Investigando as razões ocultas por trás da rejeição da Hipótese Deus pela academia – Parte 04

Para desenvolver o raciocínio, apresentarei sumariamente neste e nos artigos imediatamente seguintes a teoria dos três autores que oferecem elementos teóricos relevantes para a investigação que estamos desenvolvendo acerca do veto interposto na academia à “hipótese Deus” como forma de explicar a origem e o sentido da realidade. Começaremos com Thomas Kuhn.

Kuhn introduziu o conceito de paradigma em sua obra “A Estrutura das Revoluções Científicas”, na qual argumenta que a ciência não progride de forma linear e contínua, como se acreditava anteriormente, mas sim por meio de revoluções científicas que põem ao chão os paradigmas estabelecidos.

Segundo ele, o paradigma é um conjunto de conceitos, teorias, métodos e práticas que definem o campo científico em determinado período de tempo. Segundo ele, os paradigmas são modelos reconhecidos e aceitos pelos cientistas em geral como sendo os mais adequados para a resolução de problemas sem se dar conta de sua transitoriedade.

Kuhn circunscreve a ideia de ciência normal, ou seja, a ciência do cotidiano, aquela que se processa nas salas de aula, nos simpósios, nos congressos, nos laboratórios, nos periódicos acadêmicos. Ela está voltada tão somente à resolução de problemas aos quais as subáreas se encontram confrontadas. É como se fosse, nas palavras de Kuhn, uma ciência de “quebra-cabeças”.

A ideia de quebra-cabeças é uma ilustração bastante válida, pois se trata exatamente disso. Pois o quebra-cabeças é um jogo com peças pré-definidas que possuem o propósito de formar uma imagem pré-determinada. É exatamente isso que ocorre na ciência normal que se desenvolve ordinariamente.

A ciência normal preocupada em resolver questões segundo pressupostos é exatamente aquela que opera no interior de um paradigma. Ou seja, no interior de um enredamento de pressupostos cujos limites isolam axiomas, modelos, teorias e métodos considerados aceitos por toda comunidade acadêmica.

O paradigma institui os limites, as fronteiras no interior dos quais é estabelecido o diálogo comum. Trata-se de um grande campo de forças que comporta pequenos nichos em seu interior e é neles que se desenvolvem as subáreas do conhecimento. Ainda que existam controvérsias, tais não fogem àquilo que o paradigma estabelece como sendo admissível.

Esta ciência normal não se volta para si mesma com o objetivo de examinar criticamente seus pressupostos, portanto, não se interessa e até mesmo repudia questionamentos sobre suas bases. Nesta fase, a ciência normal é quase algo entediante. Pois o que se verifica é apenas a confirmação das teorias vigentes. Um acréscimo aqui, uma nuance ali, esta e aquela descoberta. Um e outro ponto adicionado resultante de análise empírica. Aplica-se um conceito sintetizado a novos problemas, sem qualquer descoberta extraordinária, nada muito além disso. Como se a comunidade dos cientistas estivesse tão somente aparando arestas dos modelos vigentes.

Khun deseja mostrar que tal estabilidade é sempre histórica, ou seja, se institui por um lapso de tempo, pois em algum momento acaba sendo quebrada.

Geralmente os dilemas não explicados pelo paradigma são tratados como anomalias, ou seja, como se a teoria fosse válida e os problemas que ela não consegue responder fossem os “culpados” pela impossibilidade de alcançar respostas. Até que as anomalias se avolumam de tal maneira que não há mais como sustentar a “normalidade” da ciência em voga.

Quando ocorre a ruptura, tal não resulta de um único ato isolado, mas de um processo de soma de problemas não resolvidos, de quebra-cabeças não solucionados, de perguntas não respondidas adequadamente. Ao longo de uma cadeia de defasagens, as teorias vão mostrando que não dão conta de responder a muitos problemas que vão se avolumando, até que novas propostas começam a brotar. Neste momento se estabelece uma disputa, de um lado, a resistência em favor do paradigma em voga, de outro, as alternativas inovadoras.

Quando um paradigma entra em crise ocorre uma revolução científica que leva à substituição desse paradigma por um novo, que é capaz de explicar um conjunto mais abrangente de fenômenos observados.

Essa mudança de paradigma é um momento crucial na história da ciência, pois redefine os problemas a serem estudados, os métodos de investigação e as teorias aceitas pela comunidade científica.

Por que a proposta de Kuhn nos ajuda a encontrar a resposta para o problema da exclusão da hipótese Deus da academia? Você verá a resposta se continuar acompanhando esta série de artigos!

(Referência: KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 2013.)

 




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