Continuando a reflexão iniciada no artigo anterior faremos uma digressão ao passado para reencontrar as origens da filosofia grega, especificamente revisitando o pensamento de um dos maiores intelectuais de todos os tempos: Parmênides.
O filósofo chama a atenção para o fato de que tudo o que vemos, o que sentimos e o que percebemos está em constante transformação. Na verdade, se há uma palavra capaz de definir o mundo, esta é “mudança”.
Parmênides constata o fato de que tudo no mundo muda. O problema é que definir a mudança não é algo simples.
Mudança é a passagem do “não ser” para o “ser”. Porém, o “não ser” não existe, porque se existisse “seria”, mas o caso é que o “não ser”, não foi, não é, nem jamais será, simplesmente é a ausência de existência. O “não ser” não existe, nem na mente nem no mundo externo à mente. A mudança é definida pela passagem do “não ser” para o “ser”, porém, acabamos de constatar que o “não ser” não existe, portanto, concluímos que a mudança é uma impossibilidade lógica.
Agora perceba a implicação que essa óbvia constatação produz: sabendo que a mudança é a essência do mundo e, ao mesmo tempo, constatando que a mudança é impossível, então, como conceber a existência do próprio mundo? Ora, se no mundo tudo muda, se o mundo é essencialmente mudança, nos deparamos com um aterrorizante dilema insolúvel: se a mudança é impossível e o mundo é mudança, então o mundo não existe?
Retomando o tema do artigo anterior encontramos uma raiz ainda mais profunda para explicar o problema do agravamento dos males mentais. A verdade é que o mundo desafia nossa lógica, a sua regra essencial é incompatível com a razão. A razão diz que a mudança é impossível, mas o mundo só apresenta mudanças, isso cria um hiato que descola nossa mente das sensações.
Quanto enxergamos o ser humano percebemos que sua própria sanidade depende da estabilidade que encontra em sua capacidade racional. Então quando ele se depara com tamanha incongruência entre o mundo no qual deposita suas aspirações e a lógica que governa a sua lucidez, a mente simplesmente colapsa.
Eis aí uma hipótese para explicar a motivação do adoecimento mental que acomete esta geração: os indivíduos têm progressivamente se desligado da transcendência, projetando suas aspirações no mundo. Mas como vemos, este mesmo mundo é incompatível com a lógica, posto que oferece nem sequer o mais elementar indício de solidez que é a certeza de sua existência. O homem encontra conforto naquilo que compreende, porém, as pessoas estão buscando seus padrões reconfortantes onde jamais serão encontrados: no mundo mutante que é incapaz de oferecer a estabilidade requerida pela nossa natureza racional.
Dado o diagnóstico, eis o prognóstico: as pessoas devem parar de se projetar no mundo mutante e voltarem-se para a transcendência onde a estabilidade é crível.
O próprio Parmênides chama a atenção para o fato de que a nossa mente é capaz de reconhecer o “ser”. Ora, se o “ser” existe, não está no mundo onde nada “é”, tudo “está”. Ora, se o “ser” existe e não está no mundo, só pode ser encontrado na transcendência. No plano no qual não se aplicam as regras do mundo.
Onde está a solução do adoecimento mental? No abandono das ilusões do mundo e na busca por estabilidade onde de fato ela pode ser encontrada, no plano do Ser que habita o transcendente; ou seja, em Deus!
O que é oposto de mudança? Deus! Ele é eterno, permanente, imutável, constante,… em uma palavra: estável!
Naquele que não muda, encontramos as balizas fixas que nos dão a sensação de estabilidade, achamos a razão que determina parâmetros sólidos para conduzir a vida e a lógica que nos proporciona o autorreconhecimento.
Ao encontrar Deus, nos reencontramos com nós mesmos e as dores que pertencem ao mundo, simplesmente são pulverizadas da mente.