O desembargador Carlos Biasotti, que atua no Tribunal de Justiça de São Paulo, não é apenas uma notável figura da lei brasileira, mas um cultor da língua portuguesa, que ele acompanha com muito carinho.
Tem um profundo respeito pela Academia Brasileira de Letras, onde, segundo ele, estão reunidos “escritores de raro saber e conselho, dispostos a preservar de generalizada corrupção a gentil língua portuguesa.”
Ele me enviou um recorte publicado há 40 anos na revista “Manchete” (20/10/84), considerado por ele como relíquia do seus guardados. Vejam como é interessante: “Aconteceu na 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro. A Juíza Bitar rejeitou a queixa do advogado José Raimundo Guimarães (OAB nº 24.990) porque estava tudo errado na petição: O encaminhamento e as agressões ao Português. Entre outras coisas, o causídico escreveu que “a acusação do querelado feri, agridi, ofendi e degrini a honra…” Se o diploma não é falso, o dr. José Raimundo vai ter de enfrentar, por decisão da OAB, um exame de suficiência. Se passar, estamos perdidos…”
Não é de hoje que tenho lá os meus cuidados com a nossa língua. Infelizmente, esse sentimento não é generalizado. Há muitos profissionais, ainda hoje, que escrevem mal, neles se incluindo médicos, advogados e engenheiros, mas que alcançaram os seus respectivos diplomas.
A formação inadequada em Português começa na educação básica. Isso foi assinalado nas últimas provas do exame internacional Pisa, onde essa tragédia tem a companhia dos nossos jovens, em boa parcela, noutra matéria igualmente prioritária, que é a Matemática.
Por essas e outras é que criamos a bem sucedida Maratona Escolar, com o apoio da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro. Selecionamos mitos da ABL para servirem de motivação, como Jorge Amado, Guimarães Rosa e Machado de Assis, cujas biografias são pretexto para que os estudantes escrevam textos de 30 linhas sobre suas vidas e obras. A final foi sempre realizada na sede da ABL, trazendo para o Teatro R. Magalhães Jr. uma enorme população de jovens estudantes da rede oficial. Isso parte da realidade de que a leitura e a escrita desenvolvem o saudável interesse pela nossa língua e literatura.