Boécio e sua consolação filosófica

“(Porque todas essas coisas os gentios procuram.) Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas (Mateus 6: 32).

O filósofo dos séculos V e VI, Boécio, em sua obra A Consolação da Filosofia, afirmou que o impulso inato do ser humano é a busca pela felicidade. Nessa busca nos deparamos com dois caminhos: o da fortuna e o da providência divina.

A fortuna para o autor significa quase o mesmo que sorte ou destino. Segundo ele, tal atua em nossas vidas nos oferecendo uma série de distrações que tão somente aparentam ser um bem, porém nenhuma dessas falsificações é capaz de nos proporcionar a verdadeira e duradoura felicidade.

Quem passa a vida procurando riqueza material, por exemplo, é o mais tolo dos homens, pois quer encontrar a satisfação em algo que por si mesmo é meio e não fim. A riqueza serve para adquirir coisas, ela em si não é nada. Dedicar a vida para acumular em proporção que não se pode gastar é absurdo.

Também é tolo quem busca a felicidade no poder, pois se sabe que nele não se encontra a paz. Quem busca satisfação na honra, fama ou reconhecimento, também comete um desatino, pois coloca a vida a serviço da opinião dos outros, submetendo-se à aprovação de pessoas estranhas. E, por fim, quem busca a felicidade nos prazeres, iguala-se a qualquer outro animal irracional e passará seus dias em inconstância, posto que o desejo logo que satisfeito momentaneamente se esvai para dar lugar a outro.

A fortuna, posto que é necessariamente instável, volúvel, num dia nos afaga e, no outro, nos lança no chão. Sendo assim, conclui o filósofo, não faz o menor sentido procurar a felicidade nela. A atitude racional é buscá-la na providência, ou seja, na sintonia com Deus.

Pois Deus não é volátil, é constante, não é perecível, mas eterno, não varia, posto que é imutável, não faz o mal uma vez que Ele é a essência do bem.

E quando as pessoas decidem viver segundo os desígnios da Palavra, de acordo com a vontade de Deus, encontram a verdadeira felicidade que é eterna e perene. E o Pai em Sua magnífica bondade, nos concede qualquer das coisas que a fortuna possa oferecer, porém, na justa medida, na proporção correta. E quando algum desses bens nos falta, não deixa nenhuma lacuna, marca ou cicatriz uma vez que valorizamos a vontade de Deus e temos a consciência de que a providência só tira o que não presta.




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