O futuro do paradesporto brasileiro está sendo escrito na primeira etapa regional das Paralimpíadas Escolares 2022, que seguem até esta sexta-feira, 12.08, em Brasília (DF). Dos 308 atletas inscritos de dez Unidades Federativas, dois são venezuelanos acompanhados pela Operação Acolhida, estratégia federalizada de oferta de assistência emergencial a refugiados e imigrantes venezuelanos.
Um deles é Jorge Tortoledo, de 12 anos. Ele tem paralisia cerebral e chegou de San Félix, no país vizinho, há três anos, com a mãe. Ele começou a treinar no Centro de Referência Paralímpica de Roraima há menos de 60 dias. Ainda assim, em dois dias de competição na capital federal, conquistou medalhas de ouro em duas modalidades da classe F34: uma no lançamento de pelota (8,58m) e outra no arremesso de peso (3,34m).
É apenas a primeira vez que ele está em uma competição esportiva e o sorriso não saía do rosto desde que ele recebeu as medalhas. “Isso aqui é um futuro para mim. Minha família está muito feliz. Minha mãe quase chorou”, afirmou Jorge. Com o resultado, ele garantiu vaga na etapa nacional da competição, que será em novembro, no Centro de Treinamento Paralímpico de São Paulo, um dos principais legados de infraestrutura esportiva dos Jogos Rio 2016.
“Ele dormiu com a medalha e o sorriso no rosto. Ele jamais tinha participado de uma competição esportiva. Essa é a essência do esporte paralímpico”, afirmou Vinícius Denardin, chefe da delegação de Roraima e coordenador do Centro de Referência Paralímpica do estado.
Segundo Denardin, integrantes da Operação Acolhida em Boa Vista procuraram o Centro de Referência Paralímpico de Roraima em busca de parcerias para integrar imigrantes venezuelanos com deficiência. “De antemão a gente percebeu potencial no Jorge no atletismo. Não tivemos muito tempo de treino. Foi apenas um mês e meio de trabalho. Ainda é cedo, claro, por isso os resultados já nos surpreenderam”, disse Vinícius.
O secretário nacional de Paradesporto da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, Agtônio Guedes, exaltou o aspecto de inclusão que o evento traz a atletas nacionais e estrangeiros. “Essa articulação intersetorial permite que um jovem refugiado, que chega ao Brasil sem perspectiva, esteja nas Paralimpíadas Escolares, ganhe medalhas e se classifique para a etapa nacional. Isso modifica a vida dele, do núcleo familiar dele e da comunidade na qual está inserido. Se ele vai se tornar atleta ou não é outra história, mas vai ser um ser humano melhor”, afirmou Agtônio Guedes.
Para o chefe de delegação de Roraima, a parceria com a Operação Acolhida abre caminhos e portas que transcendem o ambiente esportivo. “Não falo aqui só de medalha. Eu penso em ele ser inserido socialmente no Brasil, as mães, os pais, a família ser interiorizada, encontrarem emprego e renda… É muito além do esporte”, completou.
Jorge treina duas vezes por semana com o auxílio de transporte para o local de treino em ônibus viabilizado a partir de parcerias da Operação Acolhida. O treinador destaca, também, a integração de venezuelanos e brasileiros. “Enquanto eles não chegam, os brasileiros não começam o treino. Eles ficam esperando. Quando chega o ônibus, é uma festa porque eles chegam animados, alegres, há respeito mútuo”.
Operação Acolhida
Coordenada pelo Governo Federal, a Operação Acolhida é composta por 13 ministérios e conta com suporte de agências da Organização das Nações Unidas e de mais de 100 entidades da sociedade civil.
O Subcomitê Federal para Acolhimento e Interiorização de Imigrantes em Situação de Vulnerabilidade, coordenado pelo Ministério da Cidadania, atua na gestão dos abrigos federalizados na fronteira e é responsável pelos processos pertinentes à transferência voluntária dos imigrantes das cidades de fronteira para outros estados brasileiros.
A intenção é oferecer assistência emergencial aos refugiados e migrantes venezuelanos que entram no Brasil pela fronteira com Roraima, organizando a chegada deles, buscando inserção social e econômica e apoiando na procura por emprego e moradia, principalmente nos municípios de Boa Vista e Pacaraima.
Ouro indígena
Indígena da etnia Cocamas, Geovana Campos, de 17 anos, também é motivo de orgulho para sua família e seu povo. Ela levou a medalha de ouro na prova do 100m da classe T35, nesta quarta (10.8), com o tempo de 24s74. “Fiquei nervosa, mas mesmo assim confiei que chegaria bem e deu certo”, comemorou a atleta.
Auxílio Brasil
As Paralimpíadas Escolares são uma competição de referência para a indicação de atletas ao Auxílio Esporte Escolar, uma das modalidades do Auxílio Brasil. Assim, esportistas de destaque na competição que façam parte de famílias em condição de vulnerabilidade social, inscritas no Cadastro Único e integrantes do programa de transferência de renda do Ministério da Cidadania, podem passar a receber o benefício, que representa 12 parcelas de R$ 100 e uma parcela de R$ 1.000 para a família do atleta.
“O grupo maior que temos aqui, nos regionais e no nacional, é oriundo de famílias muito pobres e o Auxílio Brasil para a família, para o atleta, para o aluno-atleta, é um incentivo grande, essencial”, explicou Ramon Pereira, diretor de Desenvolvimento Esportivo do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
Formato inovador
Depois das disputas em Brasília, a cidade de Natal (RN) contemplará a regional Nordeste das Paralimpíadas Escolares, entre 24 e 26 de agosto. Já o Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, será a sede da etapa Sul-Sudeste, de 7 a 9 de setembro. No mesmo local ocorrerá a fase nacional, de 23 a 25 de novembro. Ao todo, o evento deve mobilizar quase três mil crianças e adolescentes. Os três melhores em cada prova de natação e atletismo se qualificam para a etapa nacional. Na bocha, os dois primeiros se classificam.
Fonte: Assessoria de Comunicação – Ministério da Cidadania