Se há uma pessoa que passou pela Terra que merece toda a nossa admiração é João Batista. Homem reto, íntegro e, sobretudo, elogiado pelo próprio Salvador: “Digo-lhes a verdade: Entre os nascidos de mulher não surgiu ninguém maior do que João Batista; todavia, o menor no Reino dos céus é maior do que ele” (Mateus 11: 11).
Porém, uma passagem que por muito tempo me causou inquietação é aquela que relata quando João duvidou se Jesus era de fato o Messias prometido:
“João, ao ouvir na prisão o que Cristo estava fazendo, enviou seus discípulos para lhe perguntarem: ‘És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar algum outro?’ ” (Mateus 11: 2, 3).
Ora, pensava eu, como assim?? Sendo João Batista primo do Salvador (Lc 1: 36), o Elias prometido (Mt 11: 14) com a missão de anunciar antes de qualquer outro a vinda do Rei (Jo 1: 23), tendo ele recebido a profecia diretamente do Alto (Jo 1: 32-34) e, possivelmente, ouvido dos céus a voz do próprio Deus apresentando Seu Filho (Mc 1: 9-11), como explicar que João ainda tivesse dúvida quanto a natureza de Jesus Cristo??? Como isso é possível???
Bom, demorei algum tempo para encontrar um esclarecimento para a passagem de Mateus 11: 2 e 3. Ela não está explícita na Bíblia, mas implícita na explicação que Jesus deu aos discípulos enviados com a missão de encontrar resposta definitiva à intrigante dúvida de João Batista:
“Jesus respondeu: ‘Voltem e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos vêem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas são pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa’ ” (Mateus 11: 4-6).
Por meio de João Batista descobrimos algo importante sobre nós mesmos: ainda que tendo certeza, em algum momento seremos levados a duvidar de nossa fé.
Estamos acostumados aqui na Terra a crer apenas no que vemos de maneira que até o mais santo dos homens pode ser levado a se confundir em função das próprias expectativas pessoais. Na verdade, João, como todo Israel, esperava que o Cristo respondesse exclusivamente aos problemas de seu tempo, que viesse sobre um robusto cavalo como um guerreiro libertador, um poderoso homem de batalha preparado para expulsar o opressor romano da Terra Prometida. Era assim que interpretavam passagens como estas dos profetas Miquéias e Jeremias:
“Por isso os israelitas serão abandonados até que dê à luz a que está em trabalho de parto. Então o restante dos irmãos do governante voltarão para unir-se aos israelitas. Ele se estabelecerá e os pastoreará na força do Senhor, na majestade do nome do Senhor, o seu Deus. E eles viverão em segurança, pois a grandeza dele alcançará os confins da terra” (Miquéias 5: 3, 4).
“ ‘Dias virão’, declara o Senhor, ‘em que levantarei para Davi um Renovo justo, um rei que reinará com sabedoria e fará o que é justo e certo na terra. Em seus dias Judá será salva, Israel viverá em segurança, e este é o nome pelo qual será chamado: O Senhor é a Nossa Justiça’ “ (Jeremias 23: 5, 6).
As profecias estavam corretas, porém, a interpretação que faziam estava completamente equivocada. Jesus não veio para responder a “um” problema histórico, relacionado a “um único” povo, diversamente, o Cristo veio para realizar tudo em todos!
“Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e, por estarem nele, que é o Cabeça de todo poder e autoridade, vocês receberam a plenitude” (Colossenses 2: 9, 10).
Veio ao mundo nascido em um estábulo (Lc 2: 7), cingido com vestes humildes, falando com mansidão, pregando o amor, montado em um jumentinho (Mt 21: 7). Seu Reino não era o reino físico esperado pelo povo judeu, mas o Reino Eterno reservado à toda humanidade redimida:
“Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido com justiça e retidão, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isso” (Isaías 9: 6, 7).
A fonte da dúvida de João é a confusão que nós todos costumamos fazer entre as coisas daqui e as Celestes. Mas a verdade é que a glória deste mundo não é como a glória de Deus. Por isso o Eterno escolheu a fraqueza para humilhar a força, a credulidade para devassar a sabedoria humana:
“Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes” (1 Coríntios 1: 27).
O Espírito Santo já havia dito a João Batista quem era Jesus (Jo 1: 32), porém, ainda sim, ele vacilou. Portanto, o recado que recebemos das Escrituras através da experiência do “Elias prometido” é de que devemos buscar o discernimento sempre e em toda ocasião no Espírito Santo e quando recebemos a resposta precisamos CONFIAR, sabendo que ele jamais nos deixa confundidos:
“Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês” (João 16: 13, 14).
Mesmo que o Espírito fale algo que não enxergamos, devemos seguir crendo “porque vivemos por fé, e não pelo que vemos” (2 Coríntios 5: 7).
Se mesmo o profeta João Batista se confundiu, saibamos que também nos confundiremos em algum ponto da caminhada. Portanto, estejamos sempre alertas para não deixar que as coisas deste mundo venham a embaçar a visão, tirando a nitidez com que Deus comunicou as Suas verdades:
“O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4: 14, 15).