Após um ano e sete meses da pandemia da covid-19, como o vírus SARS-Cov-2 está se comportando em indivíduos assintomáticos? E entre os indivíduos vacinados e não vacinados? Essas são algumas das perguntas que motivaram ação de vigilância em saúde do Laboratório Central de Saúde Pública da Fundação Ezequiel Dias (Lacen-MG/Funed). A ação é coordenada em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A iniciativa tem o apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), National Institutes of Health (NIH) e Ministério da Saúde.
De acordo com o chefe do Serviço de Virologia e Riquetsioses da Funed, Felipe Iani, esse trabalho é importante uma vez que a população vivencia uma nova etapa da pandemia e, neste momento, é preciso entender a incidência de circulação do vírus em pessoas que não apresentam sintomas.
“Temos boa parte da população vacinada, a maioria dos serviços já voltou a funcionar em sua totalidade, as internações e mortes por covid-19 estão em queda e o fluxo das pessoas também está sendo retomado. Investigar quais linhagens do vírus estão circulando de acordo com o perfil da população pode nos ajudar a tomar decisões em saúde pública mais estratégicas agora e no futuro”, avalia.
Coleta
A Funed ficará responsável por enviar profissionais a lugares específicos para fazer a coleta das amostras de swab nasal que serão utilizadas para a realização do exame PCR em tempo real, além de, também, realizar o sequenciamento das amostras positivas. Os participantes também serão convidados a responder um questionário. Entre as informações a serem respondidas, o voluntário terá que informar a idade, presença de alguma comorbidade, se já teve diagnóstico de covid-19, se está vacinado e com qual vacina e a data da imunização.
Em Minas Gerais, a princípio, quatro municípios participarão do projeto, por meio de pontos fixos de coleta: Belo Horizonte, Contagem, Pirapora e Montes Claros. Também haverá um ponto de coleta na área de desembarque do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, a partir do dia 3/11. Felipe explica que todo o processo deve acontecer em um intervalo de 50 dias, pois é importante que as amostras sejam colhidas sob as mesmas condições epidemiológicas. “Se houver uma variação na situação da pandemia, isso pode interferir no material que buscamos. Por isso, contaremos com o apoio dos profissionais dos laboratórios macrorregionais para realizar as coletas em Pirapora e Montes Claros”, afirma.
Ao todo, devem ser coletadas 10 mil amostras, sendo que o esperado é detectar o vírus em pelo menos 5% dessas amostras. “Com esse quantitativo, esperamos sequenciar pelo menos 200 amostras, uma vez que nem toda amostra positiva é possível de ser sequenciada, em virtude da carga viral presente”, explica Felipe Iani.
Estratégias futuras
Para a coordenadora de Laboratórios e Pesquisa em Vigilância da SES-MG, Jaqueline Oliveira, as informações conseguidas por meio dessa ação poderão ajudar a esclarecer perguntas importantes com relação ao cenário atual da pandemia no território de Minas Gerais. Com o avanço da cobertura vacinal em Minas, que apresenta atualmente mais de 80% da população vacinada com a primeira dose e mais de 50% dos indivíduos com esquema vacinal completo, o estado tem experimentado o melhor cenário epidemiológico e assistencial desde o início da pandemia, mesmo no momento em que a variante Delta circula em maior proporção no território.
Entretanto, Jaqueline destaca que “a estratégia de vigilância genômica atual é direcionada às pessoas sintomáticas, ou seja, aquelas que manifestam algum sintoma ou sinal clínico da covid-19. Pouco se sabe a respeito da circulação das variantes do coronavírus em assintomáticos no Brasil. Com o avanço da vacinação, o esperado é que a circulação do vírus diminua, gerando infecções com sintomas leves, ou mesmo, sem sintomas. Portanto, essa ação será fundamental para identificarmos qual a proporção de pessoas infectadas na população mineira que não apresentam desenvolvimento de sintomas; se a ausência de sintomas nessas pessoas está relacionada ao fato de estarem vacinados, e ainda, se existe alguma variante do coronavírus associada a esses casos”.
Jaqueline também destaca a importância da participação dos voluntários. “Acompanhamos a importância dos voluntários para o desenvolvimento das vacinas anti-covid 19. Mais uma vez, convocamos a população a participar desse estudo, pois, além de realizar gratuitamente o exame da covid-19, os voluntários também estarão contribuindo com a geração de dados que vão subsidiar a vigilância em saúde, para que medidas de saúde pública mais eficazes sejam desenvolvidas de acordo com o cenário atual que vivenciamos em Minas Gerais”, afirma.
Fonte: Agência Minas