Um estilo de jogo diferente, adaptado à cultura e às características das jogadoras brasileiras. Apresentar essa “nova cara do rugby” brasileiro é o principal objetivo da seleção feminina da modalidade, as Yaras, na Olimpíada de Tóquio (Japão).
“Queremos conseguir transferir um pouco da cultura brasileira e a energia deste grupo para o campo. Tudo que fazemos é reflexo do que as meninas são na vida real. Primeiro, não podemos ter medo de fazer coisas diferentes. Se não somos um time muito grande [fisicamente], podemos desenvolver armas para usar isso a nosso favor. Estou há pouco tempo com elas, mas pude jogar pela seleção brasileira masculina, então meu entendimento da cultura começou há um bom tempo”, detalhou o técnico das Yaras, William Broderick, em entrevista coletiva nesta terça-feira (29).
“Fomos criando o nosso grupo com a galera vindo de diferentes esportes, sempre abraçando a todos. Acho que esta é uma das grandes riquezas da nossa modalidade. O gordinho, o magrinho, o alto ou o baixo. A gente consegue encaixar a todos, ainda mais nesta proposta de jogo, que valoriza cada característica”, destacou Raquel Kochhann, capitã das Yaras.
A conexão entre elenco e comissão técnica foi apontada como fundamental para superar os desafios da reta final do ciclo olímpico. A pandemia do novo coronavírus (covid-19) impactou a seleção, que ficou cerca de quatro meses sem treinar presencialmente, entre março e julho, além de ter competido poucas vezes. Em abril deste ano, a equipe disputou dois torneios em Dubai (Emirados Árabes) e fez um período de preparação nos Estados Unidos. Foram as primeiras ocasiões em que Broderick (inglês naturalizado brasileiro) comandou as Yaras. Ele assumiu o time em agosto de 2020, substituindo o neozelandês Reuben Samuel.
“Conseguimos nos unir e minimizar o impacto [da pandemia]. A preparação física não nos deixou paradas nenhum dia e o Will [Broderick] deu um bom gás na parte técnica e tática. A energia deste grupo faz muita diferença. Estão todos muito confiantes”, afirmou Raquel.
“Ainda estou conhecendo o time, mas já sei que elas vão para ganhar em todo jogo. Todos sabem das dificuldades, mas o grupo reagiu a elas e tem se esforçado no processo. Tem sido sensacional. Todos conectados, com o mesmo propósito. Chegaremos [em Tóquio] na expectativa de fazer algo muito grande, deixando tudo em campo”, emendou o treinador.
A convocação foi anunciada na segunda-feira (28). Das 14 jogadoras que integram o grupo (sendo duas suplentes), apenas quatro estiveram na estreia olímpica do rugby feminino, nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Haline Scatrut, Izzy Cerullo e Luiza Campos, além de Raquel, também disputaram a última Olimpíada, onde as brasileiras ficaram em nono lugar.
“[Na Rio 2016] Tínhamos muitas meninas das primeiras seleções, que estavam lá há um longo período, mas que não jogaram tantos campeonatos internacionais. O rugby, de um modo geral, mudou muito de 2016 para cá. Esse grupo atual é mais novo, mas com mais experiência em jogos internacionais, por ter jogado o circuito mundial em 2017, sido convidado para alguns torneios, depois retornado ao circuito em 2019 com a conquista do Hong Kong Sevens”, analisou a capitã das Yaras.
“Depois do Rio, muitas atletas se aposentaram e o grupo teve que passar a temporada no circuito bem novo e cru em nível internacional. Ao longo dos anos, o grupo cresceu e ainda ganhou mais um ano para se fortalecer. A gente vê o trabalho construído antes de 2016. A Bianca [Silva] e a Mari [Nicolau], por exemplo, já estavam treinando com a seleção e trazem essa experiência. É uma preparação olímpica que durou oito anos, não só o último ciclo. É bom ver que aquela semente germinou”, completou Izzy, que também participou da coletiva.
O Brasil está no Grupo B da Olimpíada ao lado de Canadá (bronze na Rio 2016), França e Fiji. Os dois primeiros de cada um dos grupos e os dois melhores terceiros colocados vão às quartas de final. As Yaras estiveram frente a frente com canadenses e francesas nos torneios de Dubai, chegando a derrotar o time B das europeias.
“Realmente, são adversários fortes, mas a gente tem muita experiência contra elas e quem não costuma ganhar, sempre aprende mais. Então, a pressão é delas. A gente tem clareza de que não enfrenta esses times faz um tempo e que eles não passaram esse um ano e meio vendo como o Brasil treinou e como mudamos nossa forma de jogar. Será uma grande oportunidade para nós, como grupo”, analisou Izzy.
“Pensamos no jogo a jogo, com intenção de mostrarmos nossa melhor performance e expectativa de ganhar. Tenho certeza absoluta de que as meninas vão se entregar em campo. A França é um time experiente, mas que conseguimos enfrentar fisicamente. O Fiji traz certos perigos, mas com a velocidade que temos e também a inteligência tática, nenhuma equipe nos traz medo. O Canadá é bem físico, mas pelo que vi nessa última semana, não tenho nenhuma dúvida sobre as meninas. Estamos preparados”, concluiu Broderick.
As Yaras ficam concentradas no centro de treinamento de São José dos Campos (SP) até o próximo dia 8, quando viajam para Nagato (Japão), onde darão sequência à preparação nas duas semanas de isolamento obrigatório que antecedem a ida para Tóquio. O torneio do rugby feminino será disputado entre os dias 29 e 31 de julho.
Fonte: Agência Brasil