A indústria da construção gerou R$ 288,0 bilhões em valor de incorporações, obras e/ou serviços em 2019, sendo R$ 273,8 em obras e/ou serviços (95,1%) e R$ 14,2 bilhões em incorporações (4,9%). Entre 2010 e 2019, a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), divulgada hoje (17) pelo IBGE, mostrou a perda de participação das obras de infraestrutura no valor gerado pelo setor: de 44,1% para 32,2%. Já construção de edifícios avançou de 39,1% para 44,2% no período, assumindo o primeiro lugar no ranking. Mas a maior alta foi de serviços especializados para construção: de 16,8% para 23,6%.
“Os serviços especializados para construção são contratados pelas grandes empresas de obras a exemplo de demolição e preparação do terreno, instalações elétricas e hidráulicas, pintura e obras de acabamento. Isso demonstra uma mudança estrutural com redução da verticalização das grandes construtoras e maior especialização”, explica o analista da pesquisa, Marcelo Miranda.
Em relação à mão de obra, o número de pessoas ocupadas na indústria da construção subiu 1,7% em 2019 na comparação com o ano anterior, com a geração de 32.472 postos de trabalho, primeiro resultado positivo desde 2014. As expansões se deram em serviços especializados para a construção (58.489 postos a mais, ou alta de 9,5%). No segmento de obras de infraestrutura, a alta foi de 3,1% (ou 17.226 postos de trabalho a mais). Apenas o segmento de construção de edifícios teve redução de 6,1%, perdendo 43.243 vagas.
Apesar da ligeira recuperação, o setor acumula uma queda de 22,5% na ocupação em relação a 2010, com perda de 554,1 mil postos de trabalho na década, caindo de 2,4 milhões empregos para 1,9 milhão em 2019.
“Depois de muitos anos de queda, o número de pessoas ocupadas cresceu 1,7% e o valor de salários subiu 2,7%. Essa recuperação é impulsionada pelo segmento de serviços especializados para construção, que cresceu 8,2% em salários pagos e 9,5% em pessoal ocupado. Esse ganho ameniza a perda de 13,6% no período de queda constante de 2014 a 2019. O segmento também ultrapassou, em 2019, a atividade de construção de edifícios como a que mais emprega na indústria da construção, com 35,3% do total de ocupados, ante 34,9% da construção de edifícios”, diz o analista da pesquisa.
As empresas da construção pagaram R$ 56,8 bilhões em salários, retiradas e outras remunerações em 2019, a maior parte paga no segmento de obras de infraestrutura (35,9%). A média de salários mínimos se manteve estável em 2,1 nos segmentos de construção de edifícios e serviços especializados para construção, mas caiu de 3,5 para 2,8, no segmento de Obras de infraestrutura, entre 2010 e 2019.
O setor de construção englobava 125,1mil empresas ativas ao final de 2019, 481 a mais que em 2018 e crescimento de 61,4% em relação a 2010, quando havia 77,5 mil empresas. O analista da pesquisa Marcelo Miranda destaca que houve diversas mudanças estruturais importantes na indústria da construção como redução no porte das empresas – de 32 pessoas em 2010 para de 15 pessoas em 2019 – e progressiva substituição do modelo de verticalização em grandes empresas para o de especialização em empresas de menor porte.
Todos os segmentos tiveram queda na média de pessoal ocupado. O segmento que mais perdeu participação no emprego entre 2010 e 2019 foi o de obras de infraestrutura, que tinha o maior porte médio (de 81 para 43) e a maior queda na média salarial (de 3,5 para 2,8 salários mínimos), enquanto os demais mantiveram a média de 2,1 salários mínimos.
A concentração econômica também caiu pela metade, diminuindo em 6,0 pontos percentuais (p.p.) entre 2010 e 2019, passando de 11,1% para 5,1%. Esta tendência é persistente na PAIC nos últimos anos e foi mais evidente em obras de infraestrutura, no qual as oito maiores empresas concentravam 25,2% do valor de incorporações, obras e/ou serviços da construção em 2010 e passara a concentrar 11,9% em 2019, redução de 13,3 p.p. no período. No setor de construção de edifícios, as oito maiores empresas concentraram 7,2% do valor gerado na construção em 2019 e houve ligeira redução de concentração (1,7 p.p.) em 10 anos. O segmento de serviços especializados é o único em que ocorre o inverso: as oito maiores empresas tinham 6,5% do total da indústria no segmento e passaram a deter 7,5%.
“As grandes empresas de infraestrutura perderam espaço no setor. Em termos de contratação, vimos que o setor público também diminuiu bastante sua participação. Isso vem acompanhado da redução nas obras de infraestrutura, que são muito puxadas por gastos do governo, por serem de grande porte, risco elevado e requererem um volume maior de recursos em que muitas vezes o setor privado não tem ou capacidade ou interesse”, avalia Miranda.