Da desconfiança para uma conquista histórica, assim se resume a campanha no Brasil na Copa do Mundo de 2002, sediada na Coréia do Sul e no Japão, que completa 18 anos nessa terça-feira (30). Naquele domingo, o país inteiro acordou juntos às 08h00, para acompanhar a grande decisão entre Brasil x Alemanha, cujas equipes não eram candidatas para chegarem a final, segundo especialistas em futebol.
O Brasil por exemplo, quase ficou de fora da Copa, só foi carimbar seu passaporte na última rodada contra a Venezuela. Além disso, a seleção vivia tempos turbulentos naquele período, ao todo foram quatro treinadores desde a final da Copa de 98: Zagallo, Vanderlei Luxemburgo, Emerson Leão e posteriormente, Luiz Felipe Scolari. Além disso, a seleção não pôde contar com Ronaldo Fenômeno, na época o atacante teve duas graves lesões no joelho direito. Antes do mundial, o Brasil havia terminado em 4º lugar na Copa das Confederações, e por isso, o técnico Emerson Leão deixou o cargo. O time fracassou na Copa América de 2001, no qual foi eliminado para Honduras nas quartas de final, já sob o comando de Luiz Felipe Scolari.
Já no lado da Alemanha, a situação semelhante, após a eliminação diante da Croácia nas quartas de final da Copa de 98, o time do então treinador Erich Ribbeck, fez uma das piores campanhas da seleção alemã e foi eliminada em último lugar na fase de grupos, terminando a competição na vice-lanterna, à frente somente da Dinamarca. Logo após a competição, a federação alemã contratou o ex-jogador Rudi Voeller. Nas eliminatórias, os alemães se classificaram para a repescagem e passaram pela Ucrânia, classificando assim para mais uma Copa do Mundo.
Em dezembro de 2001, a FIFA sorteou as 32 seleções participantes em oito grupos. O Brasil ficou no Grupo C junto com a Turquia, Costa Rica e a estreante China. Já a Alemanha foi sorteada para o Grupo E, ao lado de Irlanda, Camarões e Arábia Saudita.
Após meses de preparação, começou a Copa do Mundo de 2002 no dia 31 de maio daquele ano, para os especialista de futebol, nem Brasil e nem Alemanha eram candidatos para conquistarem o título. A seleção comandada pelo “Felipão” jogou contra a Turquia na primeira rodada e mesmo com dificuldades, o time venceu por 2×1 de virada e com direito ao primeiro gol de Ronaldo desde sua lesão e também a um pênalti inexistente, convertido por Rivaldo.
Na segunda rodada os brasileiros golearam a China por 4×0, gols dos “quatro erres”: Roberto Carlos, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo. Com a vitória o Brasil se garantiu nas oitavas de final. Na última rodada veio o triunfo por 5×2 sobre a Costa Rica, gols de Ronaldo (2), Edmílson, Júnior e Rivaldo, dando ao Brasil 100% de aproveitamento e melhor campanha no geral.
No lado alemão, as expectativas não eram das maiores por parte da imprensa local. Mesmo com time limitado, os alemães começaram a Copa de forma avassaladora, com uma goleada por 8×0 sobre a Arábia Saudita, esta sendo a maior vitória da Alemanha em Copas do Mundo. Na segunda rodada, empatou por 1×1 contra a Irlanda e na última rodada venceu Camarões por 2×0, garantindo assim nas oitavas de final.
Na fase seguinte, o Brasil enfrentou a Bélgica, mesmo passando sufoco em boa parte do segundo tempo, a seleção brasileira foi eficiente e bateu os belgas por 2×0, gols de Rivaldo e Ronaldo. Alemanha enfrentou o Paraguai e venceu por 1×0 com gol de Neuville.
Já nas quartas de final, o adversário do Brasil seria a Inglaterra de David Beckham e companhia. Os brasileiros saíram atrás do placar, após o zagueiro Lúcio errar o tempo da bola e sobrar para o artilheiro Michael Owen empurrar para o fundo do gol. No final do primeiro tempo, Beckham tinha a bola no ataque mas acabou errando uma jogada e entregou contra-ataque para o Brasil. Numa grande jogada individual de Ronaldinho Gaúcho, no qual quase deixou Ashley Cole no chão, deu passe preciso para Rivaldo chutar no canto direito do goleiro David Seaman. Na volta para o segundo tempo, Kleberson ganhou uma falta na lateral do campo. Ronaldinho Gaúcho cobraria a falta, mas em um lance inesperado, mandou direto pro gol, encobrindo o goleiro Seaman, era a virada brasileira por 2×1, placar que se manteve até o fim, mesmo com a expulsão de Ronaldinho. Era o Brasil na semifinal e o adversário seria a Turquia.
No lado da Alemanha, o time mesmo limitado, foi aos poucos ganhando confiança de seus torcedores e da imprensa alemã. O adversário dessa vez seria os EUA, que faziam sua melhor campanha em Copas do Mundo desde 1930, quando terminaram em terceiro lugar. O jogo ficou marcado pela excelente atuação do goleiro Oliver Kahn, que salvou o time alemão nos momentos mais intensos da partida. Mesmo sem ter tido boa atuação, Alemanha venceu por 1×0 com gol do meia Michael Ballack e classificou para as semifinais, contra os anfitriões Coréia do Sul, que foi o primeiro time asiático a ficar entre os quatro melhores da Copa.
No primeiro jogo da semifinal, o Estádio de Seul estava lotado e barulhento. Mais uma vez Oliver Kahn foi o grande nome da partida e assim como nos últimos jogos, fechou o gol. No momento em que a prorrogação estava sendo desenhada, Michael Ballack fez o único gol da partida, levando Alemanha para sua sétima final em Copas.
No dia seguinte, foi a vez de Brasil x Turquia se enfrentarem. Para os turcos, o jogo tinha toque de vingança, devido ao resultado na primeira rodada, no qual alegam serem prejudicados pelo árbitro daquela partida, por ter marcado pênalti inexistente a favor do Brasil. No decorrer do jogo, os dois times duelaram por cada jogada e ambos tiveram chances reais de abrir o placar. Tanto Marcos quanto Rustu, fizeram grandes defesas.
Na volta para o segundo tempo, Gilberto Silva deu passe para Ronaldo e mesmo sob a marcação de dois adversários, fez grande jogada individual e chutou de bico na bola, mandando ela caprichosamente para o fundo do gol. Mesmo com a vantagem no placar, o Brasil seguiu buscando ampliar o placar, enquanto que a Turquia buscava o empate a todo custo, mas parou nas mãos de Marcos. No final da partida houve um dos lances mais antológicos do futebol, o atacante Denílson que havia entrado no lugar de Ronaldo, estava com a posse da bola quando em um determinado momento, foi marcado por quatro jogadores turcos e todos eles correram atrás de Denílson, para tentar tirar a bola dele e só conseguiram parar com falta. Minutos depois, o jogo acabou e o Brasil chegou a sua sétima final em Copas e a Turquia ficou com o terceiro lugar, ao vencer a Coréia do Sul por 3×2.
Chegou a final da Copa, Brasil x Alemanha se enfrentariam pela primeira vez na história e antes do jogo, a FIFA havia elegido Oliver Kahn como melhor jogador do torneio, uma decisão avaliada como controversa até os dias atuais. A final contava com duas equipes que chegaram à Copa sob desconfiança e muita pressão pelo futebol apresentado anteriormente. No primeiro tempo, todas as chances reais de gol foram do time brasileiro, nos quais teve bola na trave de Kleberson e defesas de Oliver Kahn.
No segundo tempo Alemanha voltou melhor e logo no início quase abriu o placar com a cabeçada do meia Jeremies, para a sorte dos brasileiros a bola foi interceptada pelo Edmílson. Instantes depois os alemães ganharam uma falta de longa distância e o atacante Neuville, mandou a bola na trave e ela só não entrou, porque Marcos tocou de leve, o suficiente para evitar o gol alemão.
Após pressão dos alemães, o Brasil equilibrou as ações e aos 22 minutos, Ronaldo foi desarmado pelo volante Hamann, mas o “Fenômeno” se levantou, recuperou a bola e passou para Rivaldo, que chutou no gol, mas Oliver Kahn não segurou e no rebote, Ronaldo empurrou para o fundo das redes, o penta estava chegando.
Com vantagem no placar, o Brasil queria o segundo gol a todo custo e aos 32, Kleberson estava próximo a lateral-direita e tocou para Rivaldo, nesse instante ele escuta Ronaldo gritar “abre”, para que a bola passasse no meio de suas pernas. Ela sobrou para o “Fenômeno” que mandou no canto esquerdo de Oliver Kahn, ampliando o placar para 2×0. Após o lance, Alemanha foi pra cima e quase diminuiu no marcador com o atacante Oliver Bierhoff, mas teve seu chute defendido por Marcos. Aos 48, o árbitro italiano Pierluigi Collina, encerrou a partida e o Brasil conquistou o pentacampeonato em solo asiático, com uma campanha histórica com sete vitórias em sete jogos, recorde que persiste até os dias atuais. Além disso, a campanha marca também a superação de Ronaldo Fenômeno, que quase se aposentou do futebol por causa das lesões no joelho direito e marcou 8 gols naquela Copa.
Após o torneio, “Felipão” deixou o cargo e Zagallo assumiu o comando. Rudi Voeller foi mantido como treinador da Alemanha e no final daquele ano, Ronaldo foi eleito melhor jogador do mundo.
Curiosidades da Copa 2002
- Foi a primeira edição em solo asiático e em dois países;
- Cafú tornou-se o primeiro jogador a disputar 3 finais consecutivas;
- Ronaldo tornou-se o maior artilheiro em uma mesma edição com 8 gols, superando o polonês Grzegorz Lato que marcou 7 gols em 1974;
- A Coréia do Sul foi o primeiro time asiático a chegar às semifinais de uma Copa do Mundo e também conquistou sua primeira vitória na história da competição;
- Japão também conquistou sua primeira vitória no torneio;
- Oliver Kahn foi o primeiro e único goleiro até então, a ser eleito melhor jogador de uma Copa do Mundo;
- França, Argentina e Portugal, favoritas para levantar a taça foram eliminados na fase de grupos;
- A surpresa Senegal chegou às quartas de final, sendo assim o segundo time africano a conseguir tal meta. O primeiro foi Camarões em 1990 e posteriormente Gana em 2010;
- O mundial de 2002 foi marcado por péssimas arbitragens, sendo que duas delas culminaram nas eliminações de Itália e Espanha, justamente para a Coréia do Sul;
- O Brasil terminou a campanha com 18 gols marcados em 7 jogos disputados, essa marca foi igualada pela Alemanha em 2014;
- Dos 23 jogadores convocados, 13 atuavam no Campeonato Brasileiro: Marcos, Ricardinho, Gilberto Silva, Dida, Rogério Ceni, Kleberson, Belletti, Anderson Polga, Vampeta, Juninho Paulista, Edilson, Luizão e Kaká;
- O Brasil tornou-se o primeiro time a conquistar cinco Copas do Mundo e também a levantar a taça em quatro continentes;