Isoladas, atletas da Seleção Brasileira de Ginástica Rítmica treinam juntas em dois períodos via aplicativo

Um dos maiores pesadelos das praticantes de ginástica rítmica sempre foi a queda das bolas, maças, fitas e arcos. Mas agora, nestes tempos assolados pelo novo coronavírus, a torcida é grande também para que não caia a conexão com a internet.

Desde o início do mês de abril, as dez ginastas da Seleção Brasileira iniciaram os treinos em regime de recolhimento. Cada uma delas executa os movimentos em frente à câmera do computador. Tudo é observado pelos membros da equipe multidisciplinar responsáveis pela orientação de cada tarefa. Com o auxílio de um aplicativo, a tela se divide e cada uma das componentes da equipe visualiza as colegas e as treinadoras.

Claro que todas já sentem saudades do ginásio de Aracaju, onde costumam treinar. Mas a palavra de ordem é resignação. “No dia 30, o primeiro de treinamento on line, apanhamos um pouco do sistema. No segundo, funcionou bem melhor. No seguinte, foi bem tranquilo. Essa geração tem muita familiaridade com tecnologia e rapidamente nos organizamos para fazer face a esse desafio”, diz Camila Ferezin, treinadora da Seleção Brasileira.

A missão do grupo é a preparação para a competição classificatória para os Jogos Olímpicos de Tóquio, em data ainda a ser divulgada pela Federação Internacional de Ginástica, após a reformatação do calendário, necessidade criada pela eclosão da pandemia.

As dificuldades existem, mas não abatem o moral da equipe. “Há ginastas que moram em apartamentos. Jogam o aparelho pra cima e ele bate no teto. Enquanto não receberem bronca do pessoal responsável pelo condomínio, vamos tocando a vida. Cada uma buscou uma solução. Uma delas está praticando no salão de uma igreja que fica na frente da casa dela. Tem outra que não dispõe de wi-fi em sua casa e recebe as orientações para treinar pelo Whatsapp. Estamos nos virando como podemos”, conta Camila.

Bruna Martins, professora de balé e assistente de Camila, esforça-se para corrigir os movimentos. “Como trabalhamos com um número acentuado de repetições, ora clico na imagem de uma que sei que tem dificuldade numa rotação, ora visualizo outra. Assim tocamos o trabalho. Só fica mais chato quando a conexão cai. Às vezes o aplicativo encerra a sessão antes de concluirmos o trabalho. Temos que marcar outra e reiniciar. O importante é não ficarmos paradas”.

Recorrer à ajuda da internet é o caminho adotado por todas as equipes que têm o costume de divulgar suas atividades nas redes sociais. “O mundo todo está fazendo isso. As equipes dos Estados Unidos, da Bulgária e da Itália já mostraram parte desse trabalho pelo Instagram. É o jeito encontrado para dar continuidade aos treinamentos num contexto de isolamento social”, explica Camila.

A rotina foi adaptada. Das 9h às 13h são realizados os treinos conjuntos com o auxílio do aplicativo Zoom. À tarde, rola a sessão comum de fisioterapia, de 45 minutos, comandada por Paulo Márcio Oliveira, chefe da equipe de fisioterapia. Semanalmente, são realizadas sessões individuais e conjuntas de orientação psicológica, a cargo de Carla Di Piero e Ana Vitória Renaux.

“Mesmo com toda a dificuldade, estamos tendo êxito na realização dessas atividades. Fazemos um trabalho dirigido para determinados grupos musculares demandados pela ginástica rítmica, além de exercícios que trabalham a mobilidade e outros voltados para lesões específicas ou gerais”, afirma Paulo Márcio.

Olhando para toda a equipe multidisciplinar, as componentes mais habituadas ao atendimento remoto são as psicólogas. “Como somos de São Paulo, recorremos com frequência à internet, pois o grupo treina em Aracaju. Fazemos o mesmo quando elas estão treinando ou competindo no exterior. Neste momento, o recurso online é o que aproxima a gente”, sintetiza Carla. “É claro que o cenário atual não é positivo, mas as ginastas tiram algumas vantagens. Estão ao lado dos familiares e perto dos namorados. A rotina dessas ginastas é muito exigente e o tipo de benefícios emocionais que estão colhendo agora é importante”.

A tecnologia é a parceira da Seleção também em outras atividades: elas estudam inglês por intermédio de um aplicativo. Outra prática obrigatória é a leitura de livros: uma hora, diariamente. Durante a tarde, elas são orientadas a “brincar” com os aparelhos. “Tal qual o jogador de futebol, que faz suas embaixadinhas para melhorar o controle de bola, as ginastas fazem malabares com os aparelhos. É uma maneira de ganhar intimidade com eles”, acrescenta Camila.

Enxergando a necessidade de isolamento pelo prisma positivo, Bruna reflete que a Seleção sairá engrandecida dessa dura experiência. “Estamos todos em casa, em família, abastecendo-nos de amor, energia e carinho. Continuamos fortes”.

 

Fonte: Assessoria




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