Uma tragédia anunciada. Foi assim que familiares e representantes das vítimas classificaram a queda do avião que levava o time da Chapecoense para Medellín, na Colômbia, onde disputariam a final da Copa Sul-Americana de futebol, em novembro de 2016. Eles relataram os desdobramentos do caso e pendências indenizatórias nessa terça-feira (4) pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga o acidente. E pediram apoio para mobilizar o governo em busca de uma solução para o caso.
O zagueiro Neto lamentou que as famílias ainda não tenham respostas concretas nem recebido nenhuma indenização, após três anos da tragédia. O atleta atribuiu a falta de soluções à ausência de vontade política, e disse que muitos utilizam o acidente apenas para se promover. Na opinião de Neto, o desastre com o time da Chapecoense foi premeditado já que a aeronave já teria feito a mesma viagem à Colômbia mais de cinco vezes.
“Às vezes, fico com raiva de falar desse assunto, em um país que é patriota, que diz lutar pelo seu povo, mas não vê o governo mover uma palha. Se caísse um avião norte-americano no Brasil, e o nosso país estivesse errado, a coisa seria diferente. Nós não representávamos apenas um clube ou uma cidade, nós representávamos um país. A gente não quer nada mais do que o justo, a justiça, e isso passa pelas mãos de todos os que estão em Brasília” declarou.
As associações de familiares e amigos das vítimas juntaram documentos que apontam uma série de fatores que levaram à queda do avião da Chape e, por isso, ainda lutam por indenizações na justiça. Segundo os advogados, o valor devido pelas seguradoras Aon, Tokio Marine Kiln e Bisa, que seriam as responsáveis pelas apólices de seguro, varia entre US$ 4 milhões e US$ 5 milhões para cada família (entre R$ 16 milhões e R$ 21 milhões).
Para o advogado de Neto, Marcel Camilo, o ressarcimento ainda não aconteceu porque as corretoras de seguros estrangeiras entendem ser “fácil enrolar os brasileiros”. Já o presidente da Associação Brasileira das Vítimas do Acidente com a Chapecoense (Abravic), Fabiano Porto, citou graves dificuldades econômicas dos parentes das vítimas e destacou o protagonismo do Senado na busca de soluções sobre o assunto.
“Chapecó chora até hoje, assim como o estado e o país. Não vou ficar relatando o drama real de cada um, de cada mãe, de cada esposa, de cada criança, mas quero dizer que o Senado Federal é peça importantíssima no auxílio a todos nós, porque eles estavam representando o Brasil”.
Presidente da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo da Chapecoense (Afav-C), Fabienne Belle questionou a permissão dos órgãos governamentais à Lamia [empresa aérea dona do avião] para a realização dos voos que, segundo ela, ocorriam de forma inadequada. Ela cobrou a responsabilização dos governos da Colômbia e da Bolívia porque, na sua opinião, ambos falharam.
“Leis de liberdade do ar foram violadas, e nós recebemos a informação de que somente o piloto foi o culpado. Se isso fosse verdade, não estaríamos aqui hoje. Colocamos nossas esperanças nos desdobramentos desta CPI, porque são três anos carregando uma dor profunda, um sentimento de impunidade marcado nos nossos olhares, que não será diluído com o tempo” ressaltou.
Investigações
O avião que transportava a equipe da Chapecoense, da companhia aérea boliviana Lamia, sofreu uma pane por falta de combustível e caiu em uma área de floresta nas imediações da cidade de Medellín. Além dos jogadores e da tripulação, o voo levava comissão técnica e membros da diretoria do clube, além de profissionais da imprensa e convidados, num total de 77 pessoas. Houve apenas seis sobreviventes.
Instalada em dezembro de 2019, a CPI é presidida pelo senador Jorginho Mello (PL-SC) e tem como relator o senador Izalci Lucas (PSDB-DF). O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) criticou a demora para instalação da comissão e cobrou a responsabilização de instituições como a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O senador catarinense Esperidião Amin (PP) também questionou a falta de respostas, passados três anos da tragédia. Ele sugeriu que, além da CBF, sejam ouvidos representantes da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e dos ministérios da Justiça e de Relações Exteriores.
“Quem lembra disso todos os dias é quem vive as consequências do ocorrido. Só vamos mover essa pedra quando ficar caracterizado e reconhecido que esse é um problema “chapa-branca”, do governo, das instituições, e não só do Parlamento” disse Amin.
Ao colher subsídios para seu relatório, Izalci Lucas afirmou que, apesar de o assunto ainda ser objeto de investigação, o rol de responsáveis pelo acidente com a Chape é extenso. Passa, segundo apontou, pela Lamia; pela seguradora Bisa; a resseguradora Tokio Marine; a corretora de seguros Aon; a Estratégia Corretora; o órgão responsável pela proteção de voos da Bolívia; a Aasana, que presta serviços de controle de tráfego aéreo na Bolívia; e pela torre de controle do Aeroporto do Rionegro, em Medellín. Izalci observou ainda que os responsáveis estariam tentando se eximir das responsabilidades, por conta de a Lamia não ter como indenizar essas pessoas.
Fonte: Agência Senado