Eventos LGBTQI+ injetam mais de R$ 3 milhões na economia juizforana

De acordo com a pesquisa coordenada pelo projeto de extensão Identidades, cidadania e inclusão LGBTQI+: Semana Rainbow da UFJF, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), cerca de sete mil turistas injetaram na economia local mais de R$ 3 milhões ao participar das atividades voltadas para a comunidade LGBTQI+ em agosto, no município. Além disso, o documento reforça a necessidade de investimento em pesquisa, no processo de turistificação do destino, na fidelização dos turistas e aponta para a retomada do turismo dessa comunidade na cidade, após os três anos de hiato desse tipo de ação.

A pesquisa inicia-se com a análise do perfil dos turistas, por meio do qual é revelado que 55,4% são do sexo biológico masculino – em suas diferentes identidades sexuais e de gênero -; 87,2% com idade predominante entre 19 a 50 anos; 72% solteiros; 76% apresentam bom nível de escolaridade; e 76% participam do mercado de trabalho, sendo que 40,5% estão inseridos no setor privado, 22,2% no setor público, 21,9% trabalham como autônomos e/ou em outros setores.

Apesar de ainda se tratar de um turismo bastante regional, considerando em sua maioria turistas do estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, foi percebido o aumento de turistas provenientes do Nordeste, representados pelas cidades de Teresina (PI), João Pessoa (PB) e Recife (PE). A pesquisa ressalta que a maior parte dos visitantes pretendia gastar uma média diária em torno de R$ 100 (24,8%); para os outros a média pretendida era de até R$ 200 (18,6%) e tiveram aqueles com gastos mais intensos, acima de R$ 300 reais (15,6%).

O coordenador da  pesquisa, professor Marcelo do Carmo, explica que a aplicação de 474 questionários é muito alta e aponta a relevância do estudo. “Quando 96% dos visitantes dizem que pretendem voltar, isso não significa que voltariam apenas em agosto para essas atividades. Eles podem retornar para negócios, visitar e até mesmo mudar para a cidade. Precisamos entender que não podemos dar atenção a este público apenas em agosto, mas transformar o município em possibilidades de novos negócios. Com os resultados alcançados em Juiz de Fora, outras cidades já estariam trabalhando muito melhor as opções para fidelizar esse público.”

Transporte e hospedagem

O meio de transporte mais utilizado para se chegar à cidade continua sendo o automóvel próprio (51,5%). Em seguida, percebe-se a utilização de ônibus (40%). Outra oportunidade que pode ser percebida é a utilização do transporte aéreo, acessado por somente 7,6% dos turistas.

Segundo dados do Juiz de Fora Convention Visitors Bureau, (JFC&VB), a cidade possui 4.500 unidades habitacionais (UH’s), sendo que a ocupação média da rede hoteleira foi de 52,1% neste período. Em números concretos, o público LGBTQI+ ocupou 2.345 leitos. Porém, ainda é baixo o percentual de meios de hospedagem que responderam à enquete, o que pode comprometer as análises em torno da ocupação hoteleira real.

De acordo com os questionários válidos, 47,1% dos turistas se hospedaram em hotéis, logo, a média total é de cinco mil turistas. Porém se acrescentados os excursionistas – pessoas que não utilizam serviços de hospedagem, permanecendo na cidade menos de 24 horas – e as pessoas que não se hospedaram em hotéis, a cidade recebeu uma média de sete mil pessoas.

A análise indica que dois pernoites é o tempo de permanência que mais se percebe (37,9%), mas também há um incremento no percentual de três pernoites (25,9%). Também foi analisado os modais de deslocamento urbano mais utilizados, ficando nítida a discrepância entre o percentual que utilizou o serviço de Uber (79,4%) e de táxi (43%).

O que os turistas mais gostam?

A pesquisa também procurou saber o que o turista mais havia gostado em Juiz de Fora,  sendo destacadas as pessoas, a gastronomia, o lazer e a cultura. A hospitalidade dos moradores foi colocada como principal motivação para o retorno deste público. A gastronomia, como referência da construção do imaginário do turista, é ponto forte do destino: bares e restaurantes, principalmente com relação a comida de boteco, cervejas artesanais e gastronomia tipicamente mineira foram considerados excelente para 78% dos entrevistados.

No que diz respeito ao Lazer e cultura destacam-se os eventos LGBTQI+, motivação principal da vinda desse público. Para 88,3% dos entrevistadas, os eventos foram avaliados como bons ou excelentes.

Ao longo dos anos, pôde-se observar uma maior procura por pontos turísticos. O Morro do Cristo, os atrativos geridos pela UFJF e o Museu Mariano Procópio, entre outros, foram visitados por 58,1% dos turistas. Pode-se deduzir que, como o tempo de permanência no destino tem aumentado, há tempo livre para conhecer a cidade e seus atrativos.

Quanto aos serviços disponíveis, 88% dos entrevistados os avaliaram como bom e excelente, mas foi apontada a necessidade de melhor mobilidade urbana e infraestrutura, diversificação dos serviços gastronômicos, posto de informação e sinalização turística, além de produtos e serviços voltados especificamente para o público LGBTQI+.

Os dados da pesquisa permitem observar a injeção de, no mínimo, de R$ 3 milhões na economia local, o que demonstra o potencial de crescimento econômico e acena com novas oportunidades de negócio. “Pode-se perceber que o turismo LGBTQI+, mesmo com investimentos ainda muito tímidos vem, ao longo de décadas, gerando impactos positivos. Porém, um dado merece destaque e deve balizar as ações futuras: 96,5% dos entrevistados retornariam à cidade, sendo que 23% destes estiveram pela primeira vez. Lazer e eventos culturais foram apontados por 58% dos entrevistados como principais fatores de motivação da vinda à Juiz de Fora”, explica Carmo.

Planejamento

Um dado deve ser mais bem estudado: apenas 2,9% do turistas fizeram sua viagem por agência de viagem ou utilizaram serviços de turismo receptivo. Ao serem questionados sobre o que consideram importante ao planejarem uma viagem pensaram em diversos pontos, entre eles os mais importantes são: para 22,2%, os custos da viagem; para 11,5%, a hospedagem; para 8,6%, a localização; e para 5,1%, a gastronomia, atrativos e pontos turísticos.

Dos turistas que estiveram pela primeira vez no destino, é interessante observar que 45,9% imaginavam que Juiz de Fora era uma cidade menor; 17,4% pensavam ser mais agitada e outros não possuíam nenhuma ideia pré-concebida. Já se tratando daqueles que visitaram a cidade mais de uma vez, ao serem questionados sobre o que pensavam quando se fala de Juiz de Fora, 41,8% disseram pensar em lazer/cultura/turismo e 18,2% em gastronomia.

“Nós precisamos pensar em como melhor atrair essa comunidade. Se não mudarmos nosso pensamento, vamos continuar andando em círculos, mas não vamos crescer em nada. Esse turista ainda gasta pouco em Juiz de Fora, pois a cidade ainda não tem um funcionamento tão proativo. O protagonismo que damos a comunidade LGBTQI+ acontece em sua maior parte advinda da UFJF, onde temos o exemplo do nosso projeto de extensão que está aliado ao tripé universitário. Se outras cidades tivessem os resultados que temos com esse grupo, elas já estariam cativando melhor o público.” finaliza Carmo.

A pesquisa

Foram aplicados 474 questionários, entre os dias 14 e 17 de agosto, quando 23 alunos do curso de Turismo da UFJF estiveram nos principais pontos turísticos, como no terminal rodoviário e na recepção dos hotéis. Além dos alunos envolvidos diretamente, 14 alunos de outros cursos da UFJF – Direito, Artes e Design, Cinema, Comunicação, Serviço Social e B.I. em Ciências Humanas – também estiveram envolvidos no projeto, em outras frentes de atuação. O investimento em bolsas superou os 15 mil reais, provenientes de recursos de emenda parlamentar da Deputada Federal Margarida Salomão (PT/MG).

 

Fonte: UFJF




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