Estresse: amigo ou inimigo?

Lair Ribeiro

O estresse, na forma de distresse, é tão perigoso para o coração quanto o tabagismo, a obesidade e a hipertensão.

As alterações que ocorrem no organismo como reação a um agente estressor é o nosso impulso por sobrevivência, que revela a inteligência do organismo diante de adversidades. Mas há uma faixa determinando os limites dessas alterações, e o estresse, aquém ou além desses limites, torna-se extremamente prejudicial. Isso significa que algum grau de estresse é aceito e necessário.

O estresse é inerente à vida, é a força que move o ser humano. A ausência dele revela um estado de apatia que pode ser tão devastador para a saúde quanto o seu excesso.

Em geral, parecemos habituados ao estresse, pois é um estado que, em tese, nos torna aptos a enfrentar o estilo de vida atual, mas desde que no dia-a-dia nos deparemos com uma grande quantidade de agentes estressores que possam desencadear e intensificar o estado de estresse, nos colocamos em risco.

Existe o estresse físico, que pode ser provocado pelo esgotamento físico do organismo, entre outros fatores, e o estresse psíquico, causado, quase sempre, por fatos imaginários, preocupações e medos. Por isso, o tratamento para esse mal tem, necessariamente, de ser multidisciplinar.

Em tese, o estresse ocorre quando há um desequilíbrio entre o sistema nervoso simpático (estimulante) e o pasassimpático (bloqueador), que são subdivisões do Sistema Nervoso Autônomo (SNA) — parte do nosso sistema nervoso que age controlando funções, como circulação sanguínea, sudorese, temperatura corporal, respiração e digestão.

Entre a presença de um agente estressor e o estresse, propriamente dito, o organismo passa por três fases:

* Fase de alarme: o organismo se prepara para lutar ou fugir mediante uma descarga de cortisona endógena.

* Fase de resistência: o organismo tem de agir, ou seja, de lutar contra o agente estressor ou adaptar-se à situação.

* Fase de exaustão: se o agente estressor não for eliminado (os problemas resolvidos), o organismo começa a esgotar-se.

Como o estresse atinge o coração

Durante o estágio de alarme, o SNA libera uma descarga hormonal, aumentando a sudorese, a freqüência cardíaca, a pressão arterial, a respiração, a tensão muscular, a coagulação sanguínea e a absorção de carboidratos e gorduras. Além disso, aumentam os níveis de cortisol, de adrenalina e de nor-adrenalina. Quando o estresse é crônico, o aumento da coagulação sangüínea provoca o entupimento das artérias e o indivíduo pode pode ser vítima de todas as complicações que acompanham esse quadro.

A relação entre estresse e doenças cardiovasculares começou a ser cogitada na Segunda Guerra Mundial, quando se observou que a população de Londres, uma das cidades mais bombardeadas durante a guerra, agonizava com o sofrimento, o racionamento de água e a escassez de alimentos, e teve diminuídos os índices de doenças cardiovasculares. Concluiu-se, então, que a queda de tais índices era devido à união da população contra um mal comum: a guerra. Nesse período, outros fatores estressantes, como diferenças sociais, foram neutralizados e os londrinos estabeleceram laços de união, pois algo muito mais grave atingia a todos.

Políticas sociais e econômicas são importantes para o controle do estresse, principalmente nas grandes cidades; mas, enquanto não as temos, resta-nos tirar o pé do acelerador e adotar um estilo de vida que inclua alimentação e pensamentos saudáveis, mais amizades, atividade física… Enfim, um estilo de vida menos estressante! Faça isso. Seu coração agradece.




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