Arnaldo Niskier

Não há como dissociar as questões políticas das que são predominantemente econômicas, quando se pretende achar um denominador comum para a solução de um problema universal: garantir aos indivíduos o direito ao bem-estar social. A afirmação se deve ao que está ocorrendo atualmente em relação ao liberalismo, que surgiu em meados do século XIX, trazendo conceitos importantes para regular as economias mundiais, como livre mercado, liberdade religiosa, estado laico, propriedade privada e liberdades civis. Após o seu advento, e com o passar dos anos, houve o fortalecimento do Estado de Direito que possibilitou à humanidade a elevação da expectativa de vida e a redução da pobreza.

Estamos agora no Século XXI, e a realidade hoje é completamente diferente. Contra o que se convencionou chamar de “elites liberais”, estão se levantando no mundo vozes que acusam o liberalismo de não atender às demandas sociais das classes menos favorecidas. Esse fenômeno foi detectado pela revista The Economist, publicação britânica, que também revela quais os motivos das críticas aos liberais. Segundo os especialistas contrários à ideologia econômica, houve acomodação no poder e, ao mesmo tempo, perda de vontade de promover as reformas necessárias para a remodelação desta doutrina político-econômica. Lembramos que o liberalismo aposta no progresso da humanidade a partir da livre concorrência das forças sociais.

A ampla defesa da meritocracia, um dos principais sustentáculos do ideal liberal, está perdendo terreno, o que enfraquece as principais orientações políticas que antes eram a prova do vigor desse sistema. A consequência é o surgimento de lideranças populistas que se propõem a ser os “salvadores da pátria” e investem em políticas sem nenhuma estrutura, com resultados imediatos que parecem produtivos, mas são, na verdade, falsos e enganadores. Os custos para o conserto dos estragos são altos e nocivos à economia.

Aqui no Brasil tivemos uma experiência com o chamado neoliberalismo, de 1994 a 2002, que ficou marcada pela redução de investimentos públicos e pelas privatizações. O Estado passou a ter o papel de regulador do mercado, foi lançado o Plano Real (que acabou com a inflação e estabilizou a economia) e houve a abertura do mercado nacional ao capital estrangeiro. Até hoje o país convive com as mudanças introduzidas durante os oito anos da gestão de governo do PSDB.

Algumas medidas tomadas recentemente pelo atual governo brasileiro, como o projeto que impõe teto para gastos públicos e a reforma trabalhista, que estariam dentro do espírito do liberalismo, pois podem evitar a falência econômica do estado, são amplamente criticadas por diversos segmentos da sociedade brasileira. A reforma da Previdência, outro projeto que os liberais consideram de suma importância, até hoje provoca dúvidas e polêmicas.

O grande desafio que o liberalismo precisa enfrentar atualmente é entender as grandes mudanças que estão sendo processadas no mundo moderno. São necessárias reformas urgentes que garantam a ordem pública e fortaleçam as democracias, fazendo com que o estado cumpra o seu papel e atue de forma eficiente, permitindo que a prosperidade seja alcançada por todos. O Brasil precisa ficar atento ao que ocorre no mundo, pois há tempos se reclama da excessiva participação dos estados nos diversos setores da economia. Além disso, precisa ser avaliada essa grande dependência do cidadão, que vive amparado por uma ampla política de concessão de direitos, incentivos e privilégios. O preço dessa política é muito alto para o país.

 




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