A vida de muitos jovens brasileiros tem sido pautada por uma palavra: excesso.De acordo com uma pesquisa realizada pela plataforma Sem Excesso, duas em cada três pessoas entre 16 e 24 anos se excedem em algum aspecto no dia a dia. Os mais comuns, segundo a iniciativa, são o consumo de alimentos não saudáveis,hábito revelado por 42% dos entrevistados, e as compras por impulso, admitidas por 29% dos participantes.
O estudo, que foi realizado com mil jovens de ambos os sexos e de diversas regiões do país, aponta uma geração com pouca noção de limites e que precisa se conscientizar sobre a importância de se ter uma vida em equilíbrio, especialmente neste início da fase adulta.
Para se ter uma ideia do problema, a pesquisa mostrou que 67% dos entrevistados consomem alimentos não saudáveis ao menos três vezes por semana. É o caso de Alice Lopes, de 20 anos. A estudante vem se alimentando de forma inadequada há algum tempo e confirma que, muitas vezes, chega a comer “besteiras” muito mais do que três vezes por semana. “Na correria do dia a dia, é comum que meu almoço seja uma lasanha congelada ou um salgadinho com refrigerante”, confessa ela. Apesar de saber que o hábito não faz bem, Alice tenta argumentar: “É o primeiro ano que estou morando fora de casa e não sou boa na cozinha, por isso, acabo optando por alimentos de preparo rápido e prático, sem sujeiras ou grandes movimentações na cozinha”. É exatamente essa facilidade na aquisição e preparo a justificativa de boa parte dos jovens que responderam ao questionário da plataforma.
Outro ponto da pesquisa que chama a atenção é o índice de jovens considerados consumistas. Cerca de 29% dos entrevistados assumiram que compram em excesso e, desse montante, 16% cometem esse “descuido” de uma a três vezes por semana. Naisa Marques, 22 anos, está nesse grupo que não resiste às comprinhas não planejadas. “Não posso ver uma loja que já quero entrar. Se for de roupa, sapato ou maquiagem então, é certeza que eu vou acabar comprando mais do que posso. Tento me controlar, sei que preciso aprender a gerir meu dinheiro, mas é mais forte, acabo comprando demais”, afirma a estudante.
Outro exagero bem comum entre os jovens é fazer atividades físicas além da conta. Em tempos de celebridades fitness e vida saudável em pauta, muitos acabam se preocupando demasiadamente em manter o corpo sarado e tornando a prática de exercícios físicos uma espécie de compulsão. Na pesquisa, 18% dos entrevistados admitiram ter uma rotina intensa de exercícios com o objetivo de amenizarem o descontentamento com o corpo.
As causas para os excessos podem variar de um jovem para o outro, mas um ponto é comum a todos: o início das responsabilidades adultas. “O período de vida desses jovens, que estão exatamente na passagem da adolescência para a vida adulta, da escolha de um curso para a faculdade, da angústia do ingresso na universidade ou mesmo no mercado de trabalho, do enfrentamento das responsabilidades que a idade impõe, são alguns dos fatores que podem impulsionar esses excessos. Na tentativa de burlar esses medos e essas angústias típicas da época, eles acabam descontando e mascarando isso através de hábitos não saudáveis”, explica a psicóloga Júnia Silveira.
O excesso, seja ele qual for, sempre será algo prejudicial, uma vez que a vida requer equilíbrio. Por isso, para o bem da saúde, é preciso estar sempre à procura dessa estabilidade e constância, independentemente da idade. “Não é tarefa fácil encontrar o equilíbrio, sempre vamos cometer algum excesso ou outro. A questão é quando isso começa a se tornar sintomas, queixas ou prejudicar algum âmbito da vida, fugindo do controle. É por isso que o autoconhecimento é uma das principais formas de conseguir uma vida equilibrada. A terapia, feita com auxílio de um profissional, é uma boa maneira para se identificar e tratar as verdadeiras questões que estão por trás desses excessos e conseguir ter uma vida mais saudável e feliz”, diz a psicóloga.