A liturgia católica de 14 de setembro de cada ano, festa da Exaltação da Santa Cruz, apresenta movimento que parte do simbolismo à realidade. A partir do texto bíblico, chamado Livro dos Números, que traduz a ação de Moisés, a mando do Senhor, erguendo uma serpente de bronze sobre uma haste, como sinal de salvação contra a veneno mortífero, (Nun 21, 4-9), vai até à realidade da morte de Cristo, erguido na cruz, para salvar as pessoas humanas do veneno arrasador do pecado, como ele próprio afirma no seu colóquio com Nicodemos: Deus amou tanto o mundo, que deu seu próprio Filho unigênito para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna (Jo 3, 16).
Ao elevar uma igreja à condição de Basílica, ergue-se um sublime simbolismo traduzido no desejo do coração dos fieis cristãos, no sentido de reparar os maus tratos dados a Jesus, a sua extrema humildade de esvaziar-se de si mesmo, tomando a condição de escravo, como afirma São Paulo aos Filipenses (cf. Fil. 2,6-11). Num processo contínuo de conversão, os que creem oferecem a ele um palácio real, o melhor que possuem, um espaço sagrado revestido de beleza e arte, imagem pálida do lugar que lhe é próprio e para o qual os conduz com sua obra salvífica: o paraíso, a maravilhosa casa do Pai.
As basílicas se distinguem por três aspectos, sobretudo: a liturgia, a misericórdia e a unidade da Igreja, concretizada na união fiel com Sucessor de Pedro, o Papa.
Para nossa Arquidiocese de Juiz de Fora, a celebração que transforma o Santuário do Bom Jesus do Livramento, na cidade de Liberdade, sul de Minas, em Basílica tem um sentido muito especial, pois estamos em franca preparação para a realização de nosso 2.o Sínodo Arquidiocesano a realizar-se em breve. Na celebração do Sínodo, estes três aspectos também se destacam, uma vez que a palavra de origem grega, ‘Sínodo’, significa ‘caminhar juntos’. Eis aí o aspecto da unidade. A liturgia tem seu lugar central no Sínodo e a misericórdia, que implica também conversão, metanoia, humildade para reconhecer falhas e omissões, para dar passos novos, é marca importante no itinerário sinodal.
O Sínodo contará com um especialíssimo espaço para celebrar a misericórdia que é a Basílica do Livramento, onde a Indulgência Plenária poderá ser procurada, em vários dias pré-fixados ou em qualquer dia do ano, se a pessoa não puder comparecer nos dias estabelecidos. Esta profusão de graças concretiza a Palavra do Senhor dita no evangelho desta festa: Deus enviou seu Filho ao mundo não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele (Jo 3, 17).
Ergue-se esta Basílica como um monumento à nossa caminhada de Igreja que quer crescer na sua vocação missionária, afinal, no amor de Deus que constrói seu reino já aqui na terra, em vista do Reino definitivo do céu.
Sobre esta missão de evangelizar, os símbolos basilicais ajudam a entender, mais profundamente, seu sentido. O tintinábulo, que é um pequeno sino numa haste, simboliza a sonoridade do evangelho que pregamos, anunciando com alegria a Palavra de Deus, preparando nos corações a chegada de Cristo, possibilitando encontro pessoal com o Senhor, à semelhança da experiência de Nicodemos.
A umbela, como um grande guarda-chuva, significa a proteção de Deus na vida da Igreja, pois no exercício da ordem do Senhor que manda “Ide, fazei discípulos meus” (Mt 28,19), podemos encontrar intempéries, ou seja, situações desafiadoras. Nossa proteção é a certeza de que Deus está sempre no comando daqueles que, humildemente creem e desejam, com sinceridade, vencer a força do pecado, como reza o Salmo responsorial: Quando os feria, eles então o procuravam, convertiam-se, correndo para ele; recordavam que o Senhor é sua rocha e que Deus, seu redentor, é o Deus altíssimo (Sl 77).
A Basílica Menor, por generosa dádiva do Papa Francisco, foi instalada na cidade de Liberdade, a 14 de setembro do ano corrente e está aberta à visitação perpetuamente.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora