Arnaldo Niskier

Está fazendo um grande sucesso o projeto “Música nas escolas”, criado pelo professor Carlos Alberto Serpa, presidente da Fundação Cesgranrio. Ao escrever sobre o assunto, de propósito, não citei o grande maestro Villa-Lobos. Por um motivo só: queria homenageá-lo sozinho, pelo muito que realizou no sentido de valorizar a educação musical em nosso país. Quem não se recorda disso?

 

Graças à iniciativa do educador Anísio Teixeira, na época diretor do Departamento de Educação da Prefeitura do Distrito Federal, Villa-Lobos assumiu como diretor da Superintendência de Educação Musical e Artística (SEMA). Preocupado com os rumos da educação brasileira, que não apresentava números positivos, ele viu nessa empreitada uma grande oportunidade para a implantação de um projeto de educação musical nas escolas.

 

A sua intensa participação nesta aventura educativa resultou na implantação do Curso do Canto Orfeônico, que usava vocabulários oriundos de outras áreas do conhecimento, e na publicação de um Guia Prático para a Educação Artística e Musical, com 11 volumes, reunindo 137 cantigas e contendo exercícios de canto. O projeto tinha amplo apoio do então Presidente da República, Getúlio Vargas, e o resultado não poderia ser diferente: o maestro legou, à cultura brasileira, obras de grande valor, como a série de Bachianas Brasileiras.

 

O que se viu após o início do projeto de Villa-Lobos foi o florescimento de inúmeras atividades nas escolas brasileiras, com a realização de belos espetáculos para grandes plateias, valorizando com isso as músicas folclóricas brasileiras. O auge da popularidade de Villa-Lobos foi a celebração do Dia da Independência, no estádio de São Januário, quando regeu um coral de 40 mil crianças interpretando o Hino Nacional e outras peças musicais.

 

A visão cultural villa-lobiana era tão perfeita, que ele soube muito bem escolher repertório musical cultural brasileiro, selecionando as obras que eram as preferidas das populações rurais e urbanas, resgatando as principais manifestações populares, e mostrando, com isso, o verdadeiro retrato cultural do Brasil. As suas viagens no início do século passado, pelas regiões Norte e Nordeste, quando registrou as cantigas de roda e a arte dos cantores, repentistas e instrumentistas locais, ajudou muito no desenvolvimento de seu trabalho.

 

Para o maestro, era preciso valorizar os elementos musicais regionais e as tradições brasileiras. Através da sua proposta educacional, seria possível aos alunos conquistar o desenvolvimento artístico de alta qualidade, fazendo com que se tornassem mais educados. Segundo a opinião de especialistas, a temática de sua obra era basicamente popular, mas a forma como ele trabalhava suas produções era totalmente tomada de erudição. Essa característica marcou profundamente a sua obra, que vem sendo reverenciada através dos tempos, colocando-o no patamar mais alto quando se fala nos grandes nomes da música brasileira.

 

Poderíamos dizer o programa de capacitação docente criado por Villa-Lobos, na década de 1930, foi a melhor contribuição já prestada à música brasileira.

 

 




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