Após convenções nacionais dos partidos políticos, cinco legendas confirmaram os seus respectivos candidatos à Presidência da República. O PSOL lançou Guilherme Boulos e pelo PSL vai concorrer Jair Bolsonaro. Ciro Gomes disputa pelo PDT, Paulo Rabelo de Castro é o candidato do PSC e Vera Lúcia do PSTU.
O doutor em Ciências Sociais, Oleg Abramov destacou que estamos diante de um cenário instável, no qual é difícil fazer projeções, e, por isso, a marca desta eleição é a excepcionalidade. “O primeiro é que temos no momento o presidente mais impopular da história. Por outro lado, o candidato com maior chance de vitória pode não ter a candidatura efetivada”, afirmou.
Conforme Abramov, as candidaturas ratificadas já eram consolidadas há algum tempo, por isso, não surpreenderam suas confirmações. Para ele, o registro de candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) movimentará e influenciará a corrida ao Palácio do Planalto. “O tucano acertou uma aliança com o Centrão [bloco composto por cinco partidos – DEM, PP, PR, Solidariedade e PRB] e, por isso, terá mais tempo de televisão. É esperado que com isso, ele se alavanque nas pesquisas”, salientou o especialista. “Vale lembrar que o PSDB nunca esteve tão mal próximo das eleições quanto agora, principalmente diante da situação do principal concorrente. Isso não ocorria desde 1994”, acrescentou.
Em relação à situação do Partido dos Trabalhadores, o doutor em Ciências Sociais afirmou que a estratégia é clara: levar a candidatura do ex-presidente Lula até as últimas consequências, inclusive com embasamento jurídico. “A manutenção da prisão do Lula, mesmo pontuando bem nas pesquisas, atrapalha na sua desenvoltura como candidato, mas é a aposta do PT, que insiste no discurso de não haver plano B”, disse Abramov.
A postura do partido, segundo o especialista, já lhe causou problemas na formação de coligação. “O PSB não compôs com o PT porque não tinha clareza da estratégia”, revelou. Para Abramov, caso o ex-presidente seja impedido de concorrer o pleito, as opções do Partido dos Trabalhadores são o ex-governador baiano Jaques Wagner e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
Em relação aos candidatos que já tiveram sua candidatura à presidência confirmada, o doutor em Ciências Sociais pontuou:
VERA LÚCIA (PSTU)
Na visão do especialista, a candidatura de Vera Lúcia confirma uma tradição do PSTU, de utilizar as eleições para fortalecer o partido, ao invés de focar no resultado do pleito. “É uma candidatura isolada, sem nenhuma coligação. Isso demonstra que a posição que o partido adotou no impeachment da presidente Dilma acabou levando a este isolamento. Dentre as forças progressistas, o PSTU ficou praticamente junto com a direita durante o processo, o que acarretou este isolamento. Por exemplo, o PCO, apesar de crítico ao governo da Dilma, se posicionou contra o impeachment”, analisou.
Guilherme Boulos (PSOL)
Abramov explicou que uma eleição é composta por diversos jogadores: aqueles que querem reforçar o partido; outros querem nacionalizar uma figura; os candidatos que disputam efetivamente a eleição; e aqueles que disputam a Presidência para ajudar na eleição de deputados. “O jogo do Boulos, no meu entendimento, é a busca do protagonismo na esquerda. Avaliando este cenário, no qual o PT está perdendo um pouco de sua força na esquerda, o PSOL apresenta um candidato que tenta tomar parte desse eleitorado e se distanciou do Partido dos Trabalhadores. Ou seja, houve um casamento: PSOL quer mais espaço do PT e o Boulos mais espaço do Lula”, ressaltou.
Ciro Gomes (PDT)
O candidato do PDT tem tentado construir um pólo de oposição eleitoral viável ao projeto de governo de Temer, avaliou o doutor em Ciências Sociais. “Ele propõe um governo de conciliação entre o capital e o trabalho através do desenvolvimento e acaba se colocando mais próximo da esquerda, embora a trajetória dele não seja esquerdista”, falou.
Apesar da tentativa de formar coligação com o PSB e PC do B, o PDT lançou a candidatura de Ciro Gomes sem firmar aliança. “Avalio que neste momento, o Ciro esteja um pouco enfraquecido. Talvez tenha sido um pouco de falta de malandragem do PT, que poderia ter favorecido mais o Ciro para apostar em um segundo turno entre ele e Lula, mas acabou colocando todas as suas energias na candidatura do Lula. Se o Ciro mantiver-se nessa posição franca, melhor para o Alckmin”, esclareceu.
Paulo Rabelo de Castro (PSC)
Para Abramov, apesar da projeção técnica de Paulo Rabelo, ele já atuou no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PSC deve se manter nacionalmente como uma das legendas de aliança, como por exemplo, negociar o seu tempo de televisão. “Ele se apresenta nesta eleição para aumentar o seu poder de barganha. Acredito que não vai focar na competição, mas sim em reforçar o partido”, afirmou.
Jair Bolsonaro (PSL)
O doutor em Ciências Sociais relembrou que desde o fim da Ditadura Militar, o país não tinha um candidato de extrema direita entre os candidatos com mais intenção de voto. “Não nos enganemos de imaginar que ele não está no páreo. Por exemplo, em um evento da CNI [Confederação Nacional da Indústria] enquanto os demais candidatos eram fracamente aplaudidos, ele era constantemente interrompido devido aos aplausos”, destacou.
Abramov esclareceu os motivos da aproximação entre Bolsonaro e a Confederação. “Como o candidato habitual do setor empresarial, Alckmin, não decolou até agora, Bolsonaro converge mais para a agenda neoliberal de exceção do estado na Economia. Quando ele diz que não pretende se intrometer nos assuntos econômicos e que delegará a gestão para um grupo do mercado, caso ganhasse, faz com que os capitalistas vejam este comportamento com bons olhos, o que justifica a aproximação com a CNI”, salientou Abramov. Além disso, o especialista destacou que o posicionamento conservador de Bolsonaro também o aproxima de parte do eleitorado.