Lenine retorna a Juiz de Fora com a turnê ‘Em Trânsito’

Quando ouvi meu nome sendo dito ao telefone com um sotaque pernambucano aconchegante, confesso que me emocionei! A jornalista ficou a parte por um instante e deu lugar à emoção de uma admiradora! Passado (um pouco!) o nervosismo inicial, tive a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a carreira do cantor Lenine, que chega a Juiz de Fora com sua nova turnê, ‘Em Trânsito’.

O trabalho, que representa uma mudança no fazer musical do cantor ao subverter a típica cronologia ‘álbum de estúdio – show – álbum ao vivo’, reúne 10 canções que, assim como o ofício do cronista, sintetizam em palavras – e sons! – questões da atualidade e do cotidiano.

Em “Intolerância”, Lenine fala daquela ‘sujeita” que “vem e espalha conflito; ganha nem que seja no grito”. Já “Bicho Saudade”, parceria com o filho e também cantor João Cavalcanti, fala de um bicho grande, que “quão mais se expande, mais denso; quão mais denso, mais se expande”. “De onde vem a canção” questiona ainda para onde ela se vai “quando finda a melodia”!

Acompanhado dos músicos Jr. Tostoi, Guila, Pantico Rocha e Bruno Giorgi (filho do cantor e diretor musical de ‘Em Trânsito’), Lenine traz essas e outras canções que marcaram sua carreira ao palco do Cine-Theatro Central, nesta sexta-feira, 8.

 

Confira um pouquinho da nossa conversa com o cantor recifense!

DR: Você ‘dividiu’ os seis trabalhos anteriores ao ‘Em Trânsito’ em duas trilogias, uma na qual fazia a amarração de obras já prontas e outra na qual criava as músicas a partir de um projeto proposto previamente. Qual o lugar ocupado por este novo trabalho?

LENINE: Na verdade ele fica justamente nessa posição: eu estou abrindo outro caminho! Quando a gente chegou ao final do ano passado, terminando a turnê do [álbum] ‘Carbono’ (2015) e eu me perguntei o que queria fazer, me deparei, primeiro, com a distopia que vivemos, desesperançoso; por outro lado, essas mudanças acontecendo numa velocidade vertiginosa, sem dar certeza a ninguém, está tudo no ar! Então isso realmente me levou a pensar a mecânica do fazer.

No final das contas, para a minha profissão, quando a gente tem algum tipo de sentimento de repetição, a gente quer burlar isso! Eu não fiz, por exemplo, as duas trilogias que você citou, conscientemente. Eu só descobri isso depois de feito. Meu trabalho, antes de tudo, sempre esteve ligado mais com o presente e, no caso do ‘Em Trânsito’, eu levei isso às últimas consequências.

Fizemos um show em janeiro deste ano e ele compreende um número ‘x’ de canções. Deste show eu pensei vários produtos, tanto no universo físico quanto no universo digital. Agora vamos estrear esse show!

 

Gravação do DVD ‘Em Trânsito’, no Imperator, Rio de Janeiro. Foto: Rogério von Krüger/Divulgação

 

DR:Em entrevista a um programa de tevê tempos atrás, você falou sobre suas experiências na casa que dividiu com outros músicos nordestinos ao se mudar para o Rio de Janeiro, na qual contavam uns aos outros, em forma de versos, como foi o dia. Gostaria, então, que comentasse sobre a importância da literatura em sua obra.

 

LENINE: Bacana você me permitir falar um pouco sobre isso, porque eu tenho essa real percepção que 50% do meu trabalho são as palavras! E sim, as palavras têm importância fundamental. Eu gosto de ler, sou um ser vernacular, gosto muito da palavra, da etimologia da palavra, de onde elas vêm e cada uma das possibilidades que a Língua Portuguesa adquiriu quando chegou ao Brasil e foi se transformando. Tudo isso é a matéria central do que eu faço!

 

DR: Você se intitula um cantautor e é interessante o fato de que relaciona o termo com a simplicidade, uma vez que o liga aos trovadores do século XII, que contavam histórias acompanhadas somente de um instrumento. Em ‘Chão’ (2011) você traz um pouco dessa simplicidade ao explorar sons ambientes nas músicas. De que forma isso se reflete em seu trabalho?

 

LENINE: [Além da simplicidade] há uma autoralidade por trás de cada coisa que eu faço. Isso foi uma coisa que, embora eu não tenha procurado, para te ser bem honesto, é algo com o qual me deparei com o exercício, fazendo! E essa estirpe de questionamento que tem a ver com o cronista mais do que um cantor. Por isso simpatizo tanto com essa ideia do cantautor, porque tem uma autoralidade que tem a ver com como eu toco, como eu canto, as palavras que eu escolho. É o somatório disso tudo que me define!

Mas no ‘Em Trânsito’, por exemplo, eu pude de alguma maneira exorcizar um pouco isso, porque as minhas músicas são sempre muito reconhecidas pelo violão que eu toco e no ‘Em Trânsito’ eu quis buscar outro caminho. Então eu optei por mostrar as canções novas para a banda sem o violão! Isso justamente porque quando eu toco meu violão tem um pouco do ritmo, um pouco do baixo ali, e aí você, de alguma maneira, induz um certo caminho. Eu queria que isso não induzisse! Essa busca é sempre em nome de uma simplicidade, de uma coisa mais direta, mais objetiva.

 

DR: Legal ter citado essa questão da banda! Tem músicos que te acompanham há muitos anos e você já citou, algumas vezes, que sua assinatura também carrega um pouco de cada um deles!

 

LENINE: Não tenha dúvida disso! No caso do ‘Em Trânsito’ eu pude botar essa luz sobre eles, porque as canções estão aparecendo da primeira vez não com o formato do estúdio, mas com o formato do show, onde eles estão infinitamente mais presentes!

 

DR: Aliás, um dos músicos que te acompanha é seu filho Bruno Giorgi. Uma das perguntas que gostaria de fazer é justamente sobre essa oportunidade de trabalhar com seus filhos, não só com o Bruno, mas também com o João Cavalcanti, parceiro em “Bicho Saudade” (faixa de ‘Em Trânsito’). Qual a importância dessas parcerias para você?

 

LENINE: São fundamentais! Até porque, vou te ser honesto, é demais você ter o filho, a família sanguínea [trabalhando junto contigo]. Mas primeiro eu tenho que dizer que eles estão por causa da capacidade deles, porque eu sou um cara muito exigente! E preciso dizer também que existe a família que você escolhe e eu só trabalho com familiares! Então meu núcleo familiar é aquilo ali e é natural que tenha essa entrega, essa coletividade. Sempre teve.

 

 

DR: Nós já falamos sobre a influência da literatura e eu vi que você tem influências musicais que vão de Ângela Maria, passam pela música clássica, chegando ao Led Zeppelin! Inclusive você tem um trabalho com a Orquestra Martin Fondse e também parcerias com artistas latinos, além de refletir a regionalidade em sua música. Como traz essas influências todas para suas composições?

 

LENINE: Mas aí tem uma dosagem maior que tudo que é uma dosagem mineira! É o Clube da Esquina! Eu acho que o Clube da Esquina, na verdade, foi o grande movimento musical que me influenciou, Milton e sua turma. Repare em tudo que fiz, se não tem um pouquinho de congregação, de ajuntamento de ideias, que o Clube da Esquina sempre teve. Eu estou impregnado disso!

Mesmo em um projeto como o ‘Em Trânsito’, se você olha a participação do Amaro Freitas numa canção minha e do Paulo César Pinheiro chamada “Lua Candeia”, é ‘miltoniano’!

Então, assim, eu tenho muitas influências, mas na verdade eu só reconheço elas e as dosagens delas, depois de feitas [as canções]. Não é uma busca para mim! É uma coisa de eu me sentir meio esponja de tudo o que está em volta de mim: de alguma maneira eu assimilo e de alguma maneira isso está impregnado e impregnando as canções que faço.

 

DR: Antes de terminarmos, gostaria de saber qual a expectativa para sua volta a Juiz de Fora?

 

LENINE: A expectativa é sempre a melhor de todas, porque tem a ver também com uma expectativa do filho que eu estou mostrando, filho novo, sabe! Aí tem essa coisa do pai babão! Isso sempre é muito bom!

 


LENINE EM TRÂNSITO

Local: Cine-Theatro Central (Praça João Pessoa, s/n, Centro)

Data: 8 de junho de 2018

Horário: 21h30

Realização: Nomad Produções

Classificação etária: 18 anos (menores de 18 anos deverão estar acompanhados de pai ou mãe)




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