O levantamento realizado pelo movimento “Transparência Partidária” mostrou que apenas 13% dos candidatos eleitos nas eleições municipais e gerais, no período de 2008 a 2016, são mulheres. Segundo o estudo, as duas últimas eleições gerais registraram crescimento expressivo no número de pessoas do sexo feminino que se candidataram. Em 2010, o Brasil teve 3.618 mulheres candidatas, das quais 193 foram eleitas. Já em 2014, foram 6.470 candidatas, mas 177 venceram os pleitos.
Apesar de a participação feminina na política ter crescido, os dados reforçam que elas ainda enfrentam dificuldades para alcançar cargos de liderança. Para a cientista política e professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marta Mendes da Rocha, fatores sociais, culturais e políticos estão relacionados a este cenário.
“Historicamente, as mulheres sempre estiveram excluídas da política, então é difícil para a população, de modo geral, associar a mulher ao sistema. Uma ideia que precisa ser trabalhada é da própria competência feminina para tarefas de liderança e de governo. Em geral, a socialização das mulheres não passa muito por prepará-las para esses papeis em esfera pública. É claro que temos muitas mudanças e avanços, principalmente por conta dos movimentos das próprias mulheres, mas ainda temos, de forma nítida, essa divisão na sociedade, seja no campo do trabalho, a qual o homem está atrelado a algumas atividades enquanto a mulher se ocupa de tarefas domésticas e em tantos outros setores. Esse fator cultural não pode desprezado, pois ‘opera’ na mente das pessoas, do eleitorado, no momento de tomar decisões a respeito do voto”, explica.
Marta ressalta que o próprio sistema eleitoral é responsável pela pouca participação das mulheres. “É um sistema que incentiva muito mais a personalização. É um método que personaliza o discurso e, aliado à exclusão histórica da mulher na política, contribui para o não favorecimento delas. O que vemos são campanhas a quais os candidatos estão pouco preocupados em apresentar propostas, mas querem exaltar suas características pessoais. Nesse sentido, o homem tem vantagem, uma vez que já acumulou capital político e conta com a facilidade em ter acesso a recursos. Já as mulheres, dentro do próprio partido enfrentam uma série de obstáculos para receberem esses fundos, que são fundamentais na política”, diz.
Uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi comemorada pelas mulheres e pode ser um estimulo para que os partidos dêem mais espaço para elas. Os ministros decidiram que as campanhas de mulheres deverão receber pelo menos 30% do volume de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), estimado em R$1,7 bilhão. Além disso, a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão deverá obedecer à proporção de candidatos homens e mulheres, reservando o mínimo de 30% do tempo para candidaturas femininas.
“Mudanças nas regras que favoreçam as mulheres, melhorando sua condição de competitividade nas eleições, são bem-vindas. Obviamente que elas, isoladamente, não resolvem o problema”, destaca Marta. “Avanços dependem de conscientização, da mobilização popular sobre a importância de defender a bandeira, o maior espaço das mulheres na política. Essas ações são cruciais para avançar as agendas que interessam as mulheres e a todos. Uma sociedade democrática não pode excluir uma parcela tão importante”, lembra.
CANDIDATURA DE MULHERES CRESCEU EM 100%
A pesquisa realizada pelo Transparência Partidária apontou que, a presença de mulheres pleiteando cargo nas eleições municipais, nos últimos 10 anos, cresceu em 100%. Em 2008, eram pouco mais de 74 mil mulheres concorrendo aos cargos de chefe dos executivos municipais e vereadoras, cerca de 21%. Em 2016, foram mais 147 mil candidatas em todo o país, ou seja, 32% dos candidatos.
Militante da Marcha Mundial das Mulheres, Laiz Perrut foi candidata ao cargo de vereador em 2016. Na visão dela, a decisão do TSE é um grande avanço para a inserção feminina na política, mas é fundamental que toda a sociedade esteja engajada. “Nós, que militamos pelas causas feministas, precisamos ocupar o espaço, pois temos uma visão diferenciada em vários aspectos na vida, que, normalmente, são julgados pelos homens, visto a nossa pouca participação na política. Estando lá, a gente consegue pensar sobre o que vai nos beneficiar e o que vai mudar a vidas das mulheres. A decisão do TSE é importante, mas, sabemos que os partidos usam de forma oportunista, sem acreditar no verdadeiro potencial da mulher na política. Então, é preciso se readequar e não disponibilizar esse espaço para nós, porque é uma lei, mas sim, pensar que devemos fazer parte desse cenário. Somos 52% da população brasileira, queremos e temos capacidade de ocupar os cargos de liderança e fazer mais pelas mulheres”, destaca.