A manhã desta quarta-feira, 18 de abril, com toda a certeza será um dia inesquecível para mais de 300 alunos do Conservatório Estadual de Música Haidée França Americano, que tiveram um encontro especial com a cantora Fernanda Takai, integrante da banda mineira Pato Fu.
Aproveitando a ocasião de um show que realizará na cidade na próxima sexta-feira, 20, a cantora adiantou sua vinda para Juiz de Fora a fim de realizar um encontro e um bate-papo com as crianças do conservatório. Um encontro que é fruto de outro encontro, que nasceu de um desencontro.
O sol já chegava ao auditório do conservatório quando Fernanda adentrou e arrancou aplausos dos pequenos músicos, de seis a dez anos, que a aguardavam afoitos e animados. Todos os espaços possíveis estavam ocupados, a cantora teve um lugar especial reservado a ela, para que pudesse assistir uma apresentação de seis alunas acompanhadas de músicos mais experientes ao piano, flauta e violão. A música escolhida foi “Simplicidade”, composição de John Ulhoa, para o sétimo álbum do Pato Fu, intitulado “Toda Cura para Todo Mal”. A apresentação fluiu como a música e logo depois Takai subiu ao palco para conversar com o público, além de também dar uma palhinha. Papo encerrado, era hora das fotos e dos autógrafos com a cantora, que atendeu um por um com a maior atenção.
Fernanda Takai tinha a fronte suada, mas o sorriso no rosto quando se direcionou a nossa equipe para iniciarmos a entrevista exclusiva. Um copo de água para molhar a garganta e fomos nós, conhecer um pouco mais da artista.
Antes de qualquer pergunta, a cantora já destacou o caráter exclusivo da entrevista, justamente por divulgar visitas em escolas que ela realiza em cidades que faz shows. “É legal falar que é exclusivo, por que essa é uma ação que eu faço e que não entra na minha agenda. De vez em quando eu visito alguma escola assim, mas essa especialmente, com a Lercy estando aqui, era uma coisa que eu queria fazer a muito tempo”.
TAKAI E LERCY
A Lercy citada pela cantora trata-se de Lercy Cyrino, professora do conservatório de música e que anos atrás foi a primeira professora de violão de Fernanda. A relação de aluna e professora aconteceu em Belo Horizonte quando Takai, incentivada pelo pai, iniciou aulas de música com Lercy. “Eu morava em Belo Horizonte na época e a Lercy já dava aula, muito jovem, acho que ela tinha uns 19 anos quando a conheci. Eu tinha de oito pra nove anos e aprendi a tocar violão com ela, que inclusive foi minha única professora de violão. Naquela época passei uns três anos estudando. Foram conceitos tão importantes na minha vida, como tocar, cantar, fazer abertura de vozes, que ela gostava de fazer. A Lercy sempre teve um ouvido muito pop também e eu adoro música pop. Então faz parte da minha formação ter estudado com ela”, relembrou a cantora.
O tempo passou e as duas perderam o contato. Fernanda começou a cursar Relações Públicas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que era perto do bairro onde morava. Ela passava em frente à casa da professora, entretanto, a mesma já havia se mudado do local. Nenhuma informação sobre seu destino foi encontrada por Fernanda.
Em 2005, já com alguns anos de carreira, Takai começou a escrever para os jornais Estado de Minas e Correio Braziliense. Nessa época ela teve a ideia de produzir uma crônica a fim de buscar qualquer notícia sobre a saudosa professora. “Na época eu falei que iria escrever uma crônica para ver se alguém me dá notícias dela, então escrevi e coloquei o título “Procura-se uma professora de violão’ para o texto”. A tática funcionou. Pouco tempo depois de a crônica ser publicada nos jornais, Fernanda recebeu um email de uma sobrinha de Lercy informando que a mesma encontrava-se em Juiz de Fora onde ministrava aulas no conservatório. Na época, já fazia 13 anos que a cantora não tinha notícias da professora.
A crônica em questão pode ser encontrada no livro “Nunca subestime uma mulherzinha” de autoria de Fernanda, também escritora. A obra foi lançada em 2007.
Tempos depois de receber o email a banda Pato Fu viria a realizar show em Juiz de Fora. Fernanda aproveitou para tentar encontrar com Lercy. “Quando vim aqui tocar, tentei entrar em contato com ela, lembro de ter ligado uma vez, mas acho que estava o conservatório estava fora da temporada de aula. Procurei o nome na lista telefônica. Mandei um telegrama, ele até voltou e eu o guardei” relembrou. Algumas tentativas falharam, mas em 2009, época do disco “Música de Brinquedo 1”, o reencontro ocorreu. “Eu consegui fazer com que ela recebesse um recado, de que tinha um convite para ela ir ao Cine-Theatro Central para ver o show do Pato Fu e ela foi com os filhos dela. Foi um momento muito emocionante” contou Fernanda.
PARECEU MÁGICA
O encontro com os alunos do conservatório já era há muito planejado por Fernanda e Lercy. “Eu gosto muito de conversar com as crianças sobre música, sobre os livros que eu escrevo, justamente para incentivar e para que a arte esteja cada vez mais presente nas vidas das pessoas. Eu acho que é uma forma muito importante da gente ser mais humano” destacou.
Fernanda cantou um trecho da canção “O cabelo de menina”, criada especialmente para seu livro homônimo. Para sua surpresa ela foi acompanhada em coro por todas as crianças do auditório. “É muito legal ver que eles ouviram a música e cantaram lindamente. Essas coisas quando acontecem são muito especiais. E acho que fica marcante para crianças e professores. Esse nosso contato com eles é legal porque algumas profissões, enquanto você não ver a pessoa, parece que é mágica” destacou a cantora.
A professora Lercy Cyrino, visivelmente feliz, destacou a relevância do encontro. “É uma emoção muito grande. Dia memorável para gente. Primeiro por ela reconhecer o trabalho do professor. Com a atitude dela ela homenageou todos os professores e a mim especialmente. É uma experiência de vida para as crianças muito grande”.
Perguntada a respeito da importância do contato das crianças com a música, Fernanda Takai foi enfática ao afirmar “que a arte sempre salva a gente”. Ela destacou o poder que a música tem de nos lembrar de momentos de alegria e ao mesmo tempo permitir momentos de introspecção. “Saber apreciar a arte e produzir é uma coisa que fica para vida inteira. Não importa se a pessoa viverá de música, se vai se professor, se vai tocar em banda, se vai ser artista em orquestras, isso é apenas uma possibilidade. A música tem esse papel, deixa a gente muito mais propensa a entender o mundo, entender a gente e vencer algumas dificuldades do sistema que aparecem. Você encontra alguns momentos de empatia e consegue respirar. Ela abre um ar novo” finalizou Fernanda.
O SHOW
Com três dos integrantes originais, Fernanda Takai, John Ulhoa e Ricardo Koctus, e dois novos, Glauco Mendes (bateria) e Richard Neves (piano), a banda Pato Fu realiza seu show em Juiz de Fora nesta sexta-feira, 20, no Cultural Bar, com abertura de portas às 23h. “Vamos fazer um show que apresenta algumas músicas que é do disco mais recente ‘Não pare para pensar’ e claro, muitas músicas conhecidas dos 25 anos da banda. Esse é um show de Pato Fu de raiz, digamos assim, para comemorar e lembrar os tempos antigos” contou a artista.
Além do show desta sexta, Fernanda pretende trazer ainda em 2018, mais dois espetáculos para a cidade. Um deles seria o espetáculo de divulgação do disco “Música de Brinquedo 2” lançado em 2017. O outro seria um show para apresentação do novo disco da cantora, com músicas do Tom Jobim, gravado juntamente a Marcos Valle e Roberto Menescal, a ser lançado no dia 1º de Junho. “Vocês vão me ver bastante. A Lercy vai ter que sair bastante comigo” brinca Takai.
SOBRE A ARTISTA
Fernanda Barbosa Takai nasceu em 1971, na cidade de Serra do Navio, estado do Amapá. Ela vive em Belo Horizonte, Minas Gerais. Formou-se em Relações Públicas pela UFMG, em 1993. Apesar de vocalista da banda Pato Fu, há 10 também se lançou em carreira solo com repercussão nacional e internacional, chegando a gravar um CD de inéditas com o guitarrista Andy Summers, da banda inglesa de rock, The Police, em 2012. Já lançou 18 álbuns e sete DVDs. Possui quatro Discos de Ouro, vendeu mais de um milhão de cópias. Artista multipremiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Grammy Latino, MTV Brasil, Multishow, Revista Bravo!, Prêmio da Música Brasileira, entre outros. Tem 4 livros publicados (Panda Books, Cobogó e Itaú) e conquistou recentemente um prêmio Jabuti.