Juiz de Fora foi atingida por uma forte chuva na última semana. A precipitação com um volume intenso em um curto espaço de tempo foi considerada uma das maiores dos últimos anos. O nível do Rio Paraibuna estava em 3m29, sendo que entre a meia noite e 3h da manhã desse domingo, 11, o curso d’ água subiu quase dois metros.
Até o momento, a Defesa Civil registrou 85 ocorrências, sendo 30 na zona Sudeste, 20 na Leste, 15 na Norte, nove na Nordeste, cinco na Oeste, três no Centro e na Sul. Os atendimentos do final de semana estão relacionados a ameaças e deslizamentos de taludes, trincas e infiltração em pisos, enxurradas, alagamentos, rua danificada, ameaça e quedas de árvore. Cerca de 30 pessoas foram desalojadas como medida preventiva devido aos deslizamentos de taludes nos bairros Bela Aurora, Filgueiras, Santo Antônio, e Nossa Senhora de Lourdes. O serviço social da Defesa Civil realizou o atendimento a estas pessoas, que no momento estão acolhidas nas casas de familiares e amigos.
Chuvas em excesso não só significam transtornos e tragédias, mas também a problemas graves de saúde. O contato com água contaminada pode levar a doenças, que, em muitos casos, podem demorar dias para que os primeiros sintomas apareçam. Portanto, os cuidados com a saúde devem ser redobrados quando a incidência de chuvas é maior.
TRANSTORNOS COM A CHUVA
A família da Jacileia Frizeiro Gomes, moradora do bairro Democrata, zona Noroeste, já perdeu móveis e roupas com a chuva em anos anteriores, por isso desenvolveu estratégias para lidar com a água. Porém, a precipitação do último sábado, 10, foi tão forte, que o plano não funcionou. “A nossa casa é a primeira [da rua] e, por isso, é a mais baixa e perto da ponte do Córrego dos ingleses. Desta vez, a água entrou em cinco casas”, disse Jacileia. “A gente tem quase nada de madeira, após perder guarda-roupas e cômodas. As camas são de tubo e quando chove, tem que correr para tirar o colchão. Como não tem guarda-roupa, instalamos prateleiras no alto”, acrescentou.
A moradora afirmou que na manhã desse domingo, 11, ela mediu e constatou que a água subiu cerca de 1m10. Ela e sua família iniciaram a limpeza na casa no domingo e até a hora do almoço dessa segunda-feira, 12, eles não tinham terminado. “Eu moro em cima da casa da minha mãe e estou limpando a casa desde domingo bem cedinho. É muita lama, que fica agarrada no chão e suja a parede. Eu limpei o fogão com uma máquina de água a jato, porque tinha muito barro. Agora, terei que chamar uma pessoa para desentupir. A geladeira, que fica em cima de uma base de ferro com 50 cm de altura, eu também já limpei e joguei fora os alimentos que estavam guardados”, relatou a Jacileia. “Além disso, tive que jogar fora também algumas vasilhas que estavam em cima da mesa da cozinha, que também tiveram contato com água por conta da altura que ela subiu. É preciso usar muito cloro e água sanitária para desinfetar tudo A gente lava até papel. Uma pasta de documentos, que estava em cima de uma prateleira com mais de um 1m de altura, ficou molhada”.
No sábado, relembrou Jacileia, a água batia na altura de seu estômago. “Minha mãe estava sozinha e o marido desceu e a levou para a nossa casa. Minha filha e eu estávamos retorno de um casamento, no qual ela foi madrinha. Para entrar em casa, tivemos que atravessar a água que estava na altura do estômago. Minha filha tomou banho com bastante sabão e esfregou o corpo com bucha. Depois, ela ainda passou um hidrante corporal”, contou.
ORIENTAÇÃO
O infectologista Rodrigo Daniel de Souza destacou que são várias patologias que pode ser transmitidas com o contato ou ingestão de água contaminada. As principais são: leptospirose, hepatite A e verminoses. “Começa com um quadril febril. Depois pode surgir dor no corpo associada a vômito ou diarreia”, apontou o especialista sobre os sintomas.
Apesar de parecer uma orientação ingênua, o médico disse que é muito importante que as pessoas evitem o contato com a água. “Caso tenha ocorrido, ficar vigilante em relação ao aparecimento de algum sintoma. Se surgiu algum, procure imediatamente um médico e relate que teve o contato com a água”, ressaltou.
Ele também afirmou que não há remédios que façam que a pessoa não tenha a doença após o contato. “Lave com muita água e sabão e fique alerta para surgimento de algum sintoma, principalmente em relação à leptospirose em locais que haja infestação de ratos”, ponderou.
O infectologista também orientou sobre a limpeza do local atingido pela água. “Use água sanitária, pois ela vai desinfetar o ambiente e ser responsável por matar boa parte dos germes que podem está no local. Já os alimentos que tiveram contato com água devem ser desprezados. Utilize luvas e galochas para que você não tenha contato com a água sanitária, barro e com os resíduos que ficaram”, afirmou Souza.
CONFIRA ALGUMAS DOENÇAS E SINTOMAS NO QUADRO ABAIXO:
DOENÇA |
SINTOMAS |
Leptospirose |
A mais famosa das patologias durante épocas de alagamentos ocorre por conta da urina de ratos, que atinge um número maior de pessoas ao ficar diluída nas águas acumuladas nas vias públicas. Entre os sintomas, há aqueles mais leves, similares a resfriados e gripes, como dores nas panturrilhas e febre até quadros mais graves como pele amarelada (icterícia), mau funcionamento dos rins e até hemorragias ligadas aos pulmões. Os primeiros sintomas podem aparecer entre 7 a 10 dias após o contato com a água. |
Quadros de diarreia |
Diarreias causadas por vírus, bactérias e até protozoários podem surgir, representando risco de desidratação especialmente para crianças e idosos. Desconforto abdominal, fezes líquidas, com sangramento ou muco são alguns dos indícios da doença. Os sintomas aparecem, em média, após três dias e o tratamento envolve muita hidratação e, no caso de causas bacterianas, a recomendação de antibióticos, sempre feita por médicos. |
Hepatite A |
Normalmente transmitida por meio de alimentos mal lavados, a hepatite A também pode surgir com a ingestão acidental de água contaminada. Os sintomas envolvem dores abdominais, febre, pele e olhos amarelados, além de uma urina escura. O período para o surgimento dos primeiros sintomas está entre 15 a 45 dias, o que aumenta a necessidade de alerta da população para os sintomas nesta época do ano. |
Tétano |
O transtorno criado pelas chuvas pode levar a arranhões e hematomas nas vias públicas e mesmo dentro das casas, com o aparecimento do tétano. Sintomas como febre, dor de cabeça, calafrios e rigidez no pescoço, membros e na mandíbula podem indicar a patologia. |