Na discussão de um novo projeto de lei de imigração no Congresso norte-americano, o presidente Donald Trump já sinalizou que pretende focar em um modelo imigratório baseado no mérito profissional. O sinal da mudança já se reflete em um aumento da procura pela imigração legal para os Estados Unidos, através dos chamados “vistos de habilidades extraordinárias”.
A procura por essa categoria cresceu 4% no ano passado em relação ao percentual de 2016. E a busca do visto de residência permanente por esta via tem atraído brasileiros. Advogados e especialistas em imigração disseram à Agência Brasil que profissionais brasileiros altamente gabaritados estão vendo os Estados Unidos como uma porta de entrada para a internacionalização de suas carreiras.
É o caso do profissional de automação industrial Marcelo Miranda, que atua no ramo há mais de 40 anos e desde 1995 tem uma empresa no Brasil. Recentemente, ele decidiu emigrar para os Estados Unidos e montar sua companhia no país, baseado em suas habilidades.
Marcelo Miranda vive em São Bernardo do Campo (SP), no ABC paulista, que é um importante polo industrial. Ele contou à Agência Brasil que há algum tempo começou a estudar o mercado norte-americano, depois de ter conseguido expandir sua empresa e construir uma carreira sólida e reconhecida no cenário brasileiro.
“Acabei descobrindo que a maneira mais eficaz para um intercâmbio tecnológico entre os dois mercados na automação seria por meio da imigração, desenvolvendo um projeto dentro dos Estados Unidos”, contou. Ele ainda está no Brasil, mas já deu início ao processo para dar entrada no pedido de residência permanente nos EUA.
O empresário diz que viu no visto de habilidades extraordinárias uma opção viável para se mudar. “Quero emigrar para os Estados Unidos, não apenas para morar lá, mas para fazer a diferença e promover melhorias tanto no Brasil como nos EUA – trazendo novos produtos para a realidade brasileira e levando soluções bem-sucedidas aqui e que ainda são novidade lá”, afirmou.
NOVOS RUMOS
O consultor de imagem e carreira Rodrigo Lins, que atua entre o Brasil e os Estados Unidos, afirma que tem observado mais pessoas buscando oportunidades de imigração, sobretudo profissionais ligados às áreas de gestão, engenharia, negócios e comunicação.
“Temos visto muitos profissionais brasileiros que optam por migrar para os EUA ancorados neste visto de habilidades extraordinárias, aproveitando seu percurso profissional, notoriedade intelectual e imagem”, afirmou Lins, que mora na Flórida e tem uma empresa de consultoria e comunicação.
Além da contratação de advogados, os candidatos a obter um Green Card (visto de residência permanente) por este meio procuram ajuda profissional para reunir a documentação necessária para a aplicação. “Nem todo mundo se preocupa em guardar material ou manter-se em evidência dentro de sua área de atuação. Mas isso é essencial para um profissional que quer expandir sua carreira para fora do Brasil, seja nos Estados Unidos ou em outros lugares”, disse o analista.
Os vistos de residência por habilidades e talentos extraordinários levam em conta critérios muito exigentes e os profissionais devem ter altíssima relevância nacional ou internacional para algumas subdivisões dentro de suas áreas de atuação. Os candidatos devem apresentar provas e evidências de habilidades extraordinárias em pelo menos três dos dez critérios definidos pelo Departamento de Imigração americano.
É um processo caro, já que requer o pagamento de taxas imigratórias, honorários de advogados e de outros profissionais. Aspirantes ao Green Card por esta via acabam tendo gastos também com um grande volume de traduções e, muitas vezes, têm de investir em gestão da carreira, imagem e comunicação digital. Os custos podem variar entre US$11 mil e 25 mil, somando todos os gastos.
COMPLEXIDADE
Apesar de o governo Trump ter anunciado que o plano de imigração a ser aprovado no Congresso deverá dar prioridade aos profissionais altamente qualificados e com habilidades extraordinárias, isso não quer dizer que a entrada desses profissionais seja fácil ou garantida.
A advogada brasileira Luciane Tavares, que vive em Orlando, na Flórida, disse à reportagem que embora Trump tenha sinalizado o interesse em favorecer o mérito profissional, o nível de exigência da administração atual aumentou significativamente com relação ao que era exigido na gestão Barack Obama.
“Antes, mandávamos argumentos [o texto para justificar o pedido de residência] com nove páginas, agora enviamos o mesmo com 45 páginas em média. E o nível de exigência com relação à qualidade das provas apresentadas também aumentou”, afirmou a advogada, que atua nos EUA desde 2013, em um escritório especializado em vistos profissionais e de investidores.
Os processos costumam ser extensos. Além da carta argumentativa, todas as evidências em geral precisam ser documentadas e traduzidas. O volume final pode ter mais de 300 páginas.
Nas definições divulgadas pelo Serviço de Imigração dos Estados Unidos, para obter o visto de habilidades extraordinárias, o aplicante “deve demonstrar habilidades extraordinárias em ciências, artes, educação, negócios ou esportes por meio de sustentada aclamação nacional ou internacional”. As regras citam ainda evidências como prêmios Pulitzer, Nobel, Oscar ou medalhas olímpicas.
Mesmo assim, a advogada observa um crescimento na procura desse tipo de vistos. “Não posso dizer por todos os escritórios, mas aqui aplicamos no mínimo seis vistos desta categoria por mês”, contou.
Há muitos casos de artistas, celebridades, professores, acadêmicos e executivos de grandes companhias multinacionais com carreira no Brasil, que estão buscando a residência em território norte-americano. E além da procura por vistos de migração por habilidades profissionais, a advogada observa um movimento crescente também para a categoria de investidores entre o público brasileiro.
“Atualmente fazemos no mínimo seis casos por mês”, comentou Luciane Tavares. Ela diz que, apesar da grande demanda, os interessados devem ter cuidado. “Nem todo mundo se qualifica para um Green Card nestas categorias. É preciso buscar profissionais honestos, porque o custo é muito alto e as decisões do governo norte-americano podem ser subjetivas”, ponderou.
Fonte: Agência Brasil