Para celebrar a 10ª Romaria Nacional do Terço dos Homens ao Santuário de Aparecida, aos 17 de fevereiro último, a liturgia quaresmal apresentava leituras que estavam, coincidentemente, em plena sintonia com o tema do referido encontro: ‘O Terço dos Homens, em comunhão com as vocações, resgatando famílias’.
O trecho do evangelho daquele sábado oferecia aos fiéis o relato da vocação de Mateus, na versão de Lucas, e mostrava Jesus numa casa de família, participando de um jantar de confraternização. Levi que, ao ser encontrado por Jesus, muda radicalmente sua vida e passa a ser chamado de Mateus, toma agora outro caminho e passa, de simples profissional cobrador de impostos, para verdadeiro missionário da fé. Sua experiência de discípulo do Mestre dos Mestres terá perseverança até ao martírio. Deixa por escrito tudo o que pôde presenciar e vivenciar junto a Cristo, sendo seu evangelho o primeiro dos livros do Novo Testamento e o mais completo dos relatos, embora não seja o mais amplo em número de capítulos.
Mateus oferece a Jesus um banquete em sua casa, para o qual convida também seus colegas de profissão e tantas outras pessoas, em geral, consideradas pelos fariseus como pecadoras. Jesus participa prazerosamente daqueles momentos, apresentando-se como médico dos corações atribulados pela doença do pecado. “Eu não chamar vim à conversão os justos, mas os pecadores” (Lc 5,32), diz o Senhor.
Na verdade, quem foi resgatado do pecado não foi somente o vocacionado Levi, que se tornou Mateus, mas a sua própria família que, certamente, com ele entrou no caminho da conversão e tantos outros que receberam a generosa graça.
Os temas “vocações e resgate das famílias” aqui se encontram, servindo de forte exemplo para Homens do Terço. Também estes foram, um dia, encontrados por Cristo Jesus, quando alguém os convidou para rezar com ele os Pai Nossos, as Ave-Marias, os Glórias, e as Salve Rainhas do seu Rosário, meditando os mistérios da vida de Cristo em quatro contemplações. É Cristo que visita a casa destes homens, quando retornarem para os seus lares, depois de uma oração bem rezada, na companhia de Maria, a Mãe, a melhor das mestras no que diz respeito às famílias. Sobre Maria, o Papa Francisco afirmou: “Maria é aquela que sabe transformar um curral de animais em casa de Jesus, com pobres paninhos e uma montanha de ternura “ (EG 286-Nov 2013).
Neste Ano do Laicato no Brasil, o Terço dos Homens pode elevar ações de graças ao Pai, por constituir hoje o movimento laical mais numeroso de nossa Pátria, experiência exitosa nascida dos leigos, conduzida pelos leigos e aprovada e incentivada exultantemente pelos Pastores.
Nesta caminhada quaresmal, rumo à Páscoa, vão os homens com o Terço nas mãos, fazendo seu itinerário de conversão, caminhando com Cristo, contemplando seu rosto sofredor, sobretudo naqueles que padecem violência, como recorda a Campanha da Fraternidade deste ano, propondo o caminho da concórdia, do perdão e da paz como superação da mencionada violência, proclamando a voz de Cristo que nos diz: “Vós sóis todos irmãos” (Mt 23, 8).
Rezam em seus Terços pelos irmãos que sofrem a violência dos assaltos, das agressões raciais e preconceituosas, a violência praticada em família, a violência resultante do tráfico de drogas, a violência das agressões da fome, da miséria, da falta de saúde, da carência de educação adequada e respeitosa, sem agressões ao patrimônio moral e ético de nossos ambientes familiares. Rezam pela perseverança das Escolas Católicas e outras confessionais, para que não desistam diante de tantas agressões que sofrem neste mundo secularizado e desumano. Rezam pelo fim da corrupção política, violência que agride a todos os brasileiros. Não deixam de rezar, atualmente, pela libertação do povo venezuelano massacrado por um regime político totalitário e ditador, que age sem piedade contra os direitos e a dignidade das pessoas, justificando seus erros por uma ideologia no mínimo duvidosa.
O Terço dos Homens, o maior dos movimentos leigos do Brasil na atualidade, tem representado um enorme progresso na vida eclesial em nosso país, convocando homens para a vida eclesial autêntica, sempre em plena sintonia com seus pastores e promovendo a reconstrução de tantas famílias e comunidades.
Dom Gil Antônio Moreira – Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora