Especialista afirma que não existe método que comprove a “cura gay

Em meio às polemicas que envolvem a liminar expedida pelo juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara do Distrito Federal, no dia 15 de setembro, e autoriza psicólogos a atenderem eventuais pacientes que busquem terapia para reorientação sexual – a popular “cura gay” – a reportagem do Diário Regional se mobilizou e conversou com uma psicóloga para desvendar as controvérsias geradas pelo assunto.

Embasada na determinação da Organização Mundial de Saúde (OMS) que, desde 1991, não considera a homossexualidade como uma doença, a psicóloga e sexóloga Elisangela Pereira afirma que nenhum estudo foi capaz de concluir que os esforços de mudança de orientação sexual são eficazes. “Se existe algum caso bem sucedido, eu desconheço. Talvez, as pessoas que lutam por esse ‘direito’, possam provar que o método funciona, entretanto, não acredito. A orientação sexual é imposta, não é uma escolha e não há como mudar. Assim como não se consegue mudar de heterossexual para homossexual da noite para o dia, não se consegue fazer o inverso”, reforça.

Elisangela explica que a tese acreditada pelos críticos da resolução n° 1 do Conselho Federal de Psicologia (CFP), publicada em março de 1999, que proíbe as terapias, está relacionada a um método de recondicionamento da mente. “Talvez, por pressão da sociedade, algumas pessoas acreditam ser possível a mudança. Os profissionais fazem com que as pessoas encarem a homossexualidade como doença e, depois, despertam nelas a ideia de que são capazes de modificar”, esclarece a psicóloga, destacando os problemas psicológicos que podem ser desencadeados em uma pessoa que recebe este tipo de orientação. “Os dados sobre as tentativas de mudança de orientação sexual nas clínicas indicam muitos relatos de indivíduos que passaram por terapias e apresentaram depressão, confusão mental, ansiedade e pensamentos suicidas”, lembra Elisangela.

Ela ressalta que a decisão significa um retrocesso para a constituição dos direitos. “Essa medida pode aumentar o preconceito em relação ao público LGBTTI [Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transgêneros e Intersexos], pois as pessoas passarão a acreditar que o homossexual é o responsável pela sua orientação sexual e que ele pode mudar a qualquer momento. É uma crença que estamos tentando combater e essa medida reforça ainda mais, nos grupos intolerantes, o preconceito”, ratifica.

É importante salientar que a resolução do CFP não proíbe os profissionais de atenderem pessoas que queiram reduzir algum sofrimento psíquico associado a sua orientação sexual, seja ela homo ou heterossexual. “Em uma clínica onde o psicólogo trabalha de forma alinhada ao CFP, quando alguém procura por terapias o ideal é acolher essas pessoas e desenvolver técnicas para que ela entenda e aprenda a conviver com sua orientação. Além do mais, dependendo do caso, um trabalho familiar, em que todos façam parte do processo, pode ajudar o paciente a se sentir melhor com a escolha que fez. É um trabalho de esclarecimento em relação à homoafetividade, não de reorientação sexual”, elucida.

“MÃES PELA DIVERSIDADE”

A iniciativa, que começou em São Paulo, chegou a Juiz de Fora no mês de setembro e tenta promover a troca de experiências entre as famílias e fortalecimento de seus membros no combate à intolerância e ao preconceito. “O grupo surgiu da necessidade de apoio à comunidade LGBTTI. Devido à falta de informação, os pais deixam de acolher os seus filhos e não oferecem o suporte para eles, que acabam desamparados. Nosso intuito é mostrar que a comunidade tem família e que a mãe e o pai que rejeitam seus filhos nos procurem e conversem. A sociedade precisa entender que os gays, lésbicas, travestis e transexuais não são doentes, são pessoas saudáveis e precisam de apoio”, disse Cláudia Jacobsen, representante do movimento.

O “Mães Pela Diversidade” pretende fechar parcerias com diversos órgãos e profissionais da cidade para fornecer suporte e apoio aos pais interessados.




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