O jovem que almeja sobressair-se no futuro deve desenvolver o dom da oratória. Precisa tornar-se eloquente, não só para discursar em público, mas para dialogar com as pessoas e ser sociável; isto influencia grandemente o destino de uma pessoa. A eloquência, tal como outras aptidões, desenvolve-se através de treinamento e experiência. Assim, adquirir o máximo de experiência prática em oratória é fundamental para a pessoa se tornar eloquente. Em vez de treinar sozinha e sem critérios, será melhor a pessoa treinar segundo a orientação dos mais experientes para, depois, criar seu estilo pessoal.
Antes de comparecer a qualquer reunião, convém pensar em algum assunto, escrevê-lo e memorizá-lo, pre-vendo a necessidade de discursar após o jantar, narrar uma experiência ou expor uma opinião. Este é um bom exercício para adquirir a técnica básica da eloquência. Conta-se que a obra-prima de um famoso escritor só foi publicada após ser escrita e reescrita durante sete anos. O ato de escrever aclara o próprio pensamento e ressalta pontos ilógicos e irrefletidos que antes a pessoa não con-seguia perceber. Entretanto, como a leitura de um discurso é muito pouco empolgante para os ouvintes, convém memorizar integralmente o texto escrito através de repetidas leituras. Discursos do tipo “Bem … esqueci o nome da pessoa agora … mas … ” são muito pouco atraentes. Dizem que o famoso ator japonês Tojuro, da Era Tokugawa, decorava todas as suas falas antes da ence-nação e subia ao palco após “esquecer” essas falas, ou seja, sem pensar nelas. Dessa forma, ele não se prendia mais ao script. Conhecendo profundamente o conteúdo das falas e esquecendo-as completamente, conseguia desenvolver os diálogos com os demais atores de forma natural, espontânea e livre, numa atuação até mais convincente.
Nossos discursos também precisam ser preparados com uma seriedade semelhante a essa’ do contrário ficaremos remoendo as falhas depois (“Puxa, naquele trecho eu podia ter usado outras palavras”), e sentiremos o sabor amargo do despreparo.
AS VÁRIAS FORMAS DE ELOQUÊNCIA
Existem oradores eloquentes, que discursam sem titubear nem gaguejar; seu discurso flui com a rapidez das águas de uma correnteza. Por ser rápido demais, não dá ao público ouvinte a possibilidade de apreciar as palavras nem de refletir sobre elas. Tais oradores devem ter um cérebro muito bom para falar tão fluentemente, mas como a modulação da voz é invariável, a impressão que eles deixam não é muito marcante.
Existe um outro tipo de orador, que fala devagar, com simplicidade e poucas palavras. Embora tenha muito para transmitir, não consegue expressar um décimo do que pretende, fazendo pausas prolongadas. Foi assim o discurso que, certa vez, o escritor Saneatsu Musha-no-Koji proferiu: Seu jeito de falar me lembrou os singelos desenhos de batatinhas que ele costumava fazer, pois denotava a personalidade pura e simples dele. Até hoje lembro-me dele com saudades.