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As primeiras sapatarias de Benfica foram a Casa Esperança (de MagidAthalla& Filho, por volta de 1895) e a Sapataria Bemfica (de José Delpídio de Oliveira, por volta de 1910). Depois tivemos o Calçados Lea (que deu origem, mais tarde, ao Calçados Santo Antônio/Boy Calçados). Outros estabelecimentos ali criados também atuaram no ramo de venda de calçados, como a tradicional e saudosa Casa Bersan, do Eugênio Bersan.

Além disso, viveram na comunidade diversos profissionais especializados em reparos de sapatos, sandálias, chinelos, botas, bolsas e outros objetos de couro. São os imprescindíveis “sapateiros”.

A partir de 1946, herdando do pai a Sapataria Mendes, os irmãos Zico e Walter tornaram-se personagens muito importantes para o cotidiano de Benfica. Localizada de frente para a estação ferroviária (na Avenida JK, próximo à padaria), a sapataria e oficina de consertos de calçados foi um dos endereços comerciais mais tradicionais da região.

Nascidos em Barbacena (MG), eram filhos do tropeiro José Urbano Mendes e da dona de casa Júlia Gomes Mendes.

Walter Urbano Mendes nasceu em 9 de agosto de 1922 e faleceu em 19 de agosto de 1992. Casou em junho de 1956 com Maria da Penha e tiveram 3 filhos: Vânia, Walter Jr. e Wany. José Mendes, o Zico, nasceu em 28 de agosto de 1919 e faleceu em março de 2000. Era casado com Antônia de Paula Mendes e tiveram um filho: José Antônio.

As primeiras letras conquistaram em uma escola primária de Santos Dumont no pouco tempo que viveram lá. Logo depois, a família seguiu para Benfica onde o pai montou sua oficina. Aprenderam a profissão e, com a morte do pai, passaram a comandar juntos a loja. A primeira sapataria ficava na antiga Rua Jeremias Garcia, perto da saudosa Casa Oliveira. A seguir, mudou para o tradicional endereço, onde permaneceu por quase 50 anos.

Sempre muito agradáveis, gostavam de conversar e de se recordarem dos tempos antigos do bairro. Fui lá muitas vezes levar calçados da família. Aproveitava e ficava anotando de suas histórias os nomes de pessoas, datas, lugares e acontecimentos. Diziam do primeiro carro de praça (o táxi) que viram circular em Benfica: era um Cadilac 39, do Jobiano da Ponte Preta. Falavam da construção dos primeiros galpões do Distrito Industrial nos anos 60. Havia o tempo todo a memória de velhos personagens do bairro desde o final dos anos 40. Paralelo à boa prosa, faziam coro com o barulho dos martelos, cada um em sua mesa de trabalho. Cortar, colar, costurar, firmar o calçado no molde de madeira ou de ferro e trocar seu salto e, assim, passarem todo o dia na antiga oficina.

Eram muito queridos pela população. Fazendeiros da região e militares tinham neles a referência ideal para consertar suas pesadas botinas. Também fabricavam sapatos ortopédicos: um item muito raro no comércio do centro da cidade. Tinham clientes não apenas em Benfica e bairros vizinhos, mas também em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e até no Paraná.

Zico e Walter ficaram incorporados à galeria do patrimônio humano de Benfica.




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