Uma das mais difíceis tarefas entregue ao homem é o exercício da compreensão sobre o que se passa ao seu redor. É complexo o relacionamento com o outro. A todo instante você convive com o outro e, assim, você se satisfaz ou insatisfaz com a reação do outro, com a resposta do outro, com o tratamento do outro.

Você, muitas vezes, fica triste porque não foi compreendido pelo outro, apoiado pelo outro, tratado como se julgava merecedor pelo outro. Você é educado e não concorda em ser tratado com pouca educação pelo outro; é sensível e não concorda com a insensibilidade do outro. Vê o mundo com os olhos abertos e se revolta quando o outro vê o mundo com os olhos vendados.

A gente costuma exigir dos outros segundo os nossos padrões. Na verdade é preciso compreender que cada um é reflexo de seu interior. Noutras palavras, cada um dá o que tem. Não se pode pretender que uma pessoa frustrada queira alimentar o outro com propósitos gratificantes. Não se pode exigir que um vencido veja com alegria o sucesso do outro. Cada um dá, afinal, o que tem.

Quem vive constantemente voltado a si próprio, ao mundo de seu egoísmo, não verá com bons olhos o sucesso do outro. Mas existem aqueles que estão bem consigo mesmo e com os outros. Que lutam pelo sucesso e que aprendem e crescem com o sucesso dos outros sem, num instante sequer, deixar de reconhecer que o universo é amplo. Existe muito espaço para que todos brilhem. Ninguém precisa se incomodar com o brilho do outro.

Conta-se que, certa vez, uma mulher recebeu de sua vizinha desafeta um presente. Achou que aquilo significaria a oportunidade de reconciliação. Quando abriu o presente, nada mais encontrou do que estrume de boi. Qual foi a sua reação? Não se poderia imaginar. Passaram-se tempos e aquela mulher que recebeu o estranho presente resolveu retribuir. E o que fez? Quando a vizinha recebeu o presente em retribuição imaginou que ali estaria algo terrível, em vista do que antes a ela encaminhara. Qual não foi sua surpresa quando, ao abrir o presente, notou que lhe haviam sido remetidas lindas rosas, com o seguinte cartão: “aquele estrume de boi que você me mandou serviu para adubar essas lindas rosas que lhe remeto”. Afinal, na vida, cada um dá ao outro aquilo que tem.




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