NORMA GERALDA RIANI – Parte II

Uma grande curiosidade que envolve esta família diz respeito à formação dos filhos. Quando completaram os 14 anos, começaram a trabalhar. Assinaram carteira de trabalho. Contribuíram com a Previdência. Ao completar 44 anos de idade, cada filho já tinha direito a uma aposentadoria. Sabedoria de uma mãe que desde a adolescência de seus queridos já cuidava do futuro e segurança de cada um.

Desde o seu primeiro mandato de Deputado Estadual, a partir de 1954, e também como sindicalista, Riani teve que percorrer o interior de Minas Gerais onde muitos operários estavam sendo explorados. Fundou sindicatos e organizou o movimento dos trabalhadores no interior. Com o Golpe Militar de 1964, Norma sofreu demais. Tornou-se viúva de marido vivo, tendo o seu querido Riani preso durante 5 anos e oito meses. Parte no antigo presídio da Ilha Grande. Imaginem o que ela passou neste período! Com dez filhos para criar e sem meios financeiros suficientes.Norma nunca reclamou de nada e foi a maior companheira de luta que Riani pode contar. Não mediu sacrifícios e nem poupou esforços para manter a integridade moral do lar. Enfrentou todas as barreiras para proporcionar tranqüilidade à família nos momentos das prisões por onde o marido passou.

Em 1966, ele estava preso em um quartel da PM quando completaram 25 anos de casados. Conseguiram autorização para celebração da missa de Bodas de Prata pelo Padre Capelão da PM. A hora do culto foi um vexame. Seus amigos não foram autorizados a assistirem a missa. Que sofrimento para Norma! Levar os filhos para assistirem um ato tão importante e sofrer amargamente ao ver os amigos impedidos de participarem. Ao término da missa aconteceu sua dor maior: viu seu marido ser escoltado de volta à cela. Outra lembrança doída daqueles duros tempos aconteceu no ano em que todos os filhos em idade escolar foram reprovados na escola pública. Foi uma ordem superior e que a direção da escola foi obrigada a acatar. Não podia ser pior: a perseguição política sobre seu marido tinha estendido o braço até suas crianças, penalizando-as pelas ações do pai nas suas lutas pela liberdade de expressão e pelos direitos dos trabalhadores.

Momento de sofrimento para Norma foi no casamento da primeira filha, Isair. O comparecimento de Riani foi autorizado somente no casamento civil, desde que fosse realizado no salão nobre da 4° Região Militar. Não deixaram que ele assistisse o casamento religioso. O mesmo fato se deu no casamento do filho mais velho, Augustsmidt.Era uma tortura permanente para Norma os vários períodos de prisão do marido. Ele ficava incomunicável e as transferências de prisões para Belo Horizonte e Rio de Janeiro, sem qualquer comunicação com a família, aumentava o martírio para descobrir seu paradeiro. Quando descobria era uma batalha conseguir visita.

Quando esteve preso, por 1 ano e 6 meses, na Ilha Grande, Norma não pode visitá-lo por motivo de saúde, tendo em vista que a viagem era longa e perigosa, tendo uma parte marítima em barcos precários.Norma sofreu demais, mas sempre demonstrava sua firmeza de caráter. E como valeu para seu amado Riani as cartas dela que recebia na prisão, sempre confiante e esperançosa. Com todos os atropelos da vida, realizaram em 1991 as comemorações pelos 50 anos de casados. As Bodas de Ouro, que era o sonho dela, teve uma concorrida missa na Igreja da Glória e coquetel no Clube Militar, estando Norma já bem doente.

Faleceu em Juiz de Fora, em 27 de março de 1992.

Tudo o que se falar e escrever sobre Norma será muito pouco. Uma mulher que conseguiu ao longo de uma existência sofrida acumular todos os sinônimos de caráter, dignidade, honradez e bravura. Norma foi uma pessoa privilegiada por Deus, sendo uma filha amorosa, irmã dedicada, mãe exemplar e carinhosa, digna esposa que deixou o legado da saudade pela sua doçura, amor à família e ao próximo, carinho e a mais sincera das amizades.




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