O CineArte Palace se foi, mas um pedaço dele sobreviverá por meio de um projeto em andamento que visa a reconstituição do Cine-Theatro Central. Dois projetores do Palace, que rodavam filmes em película, serão doados para o Central. Os equipamentos irão compor o acervo de um espaço de memória nas dependências do teatro. O espaço ainda está sendo projetado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Trata-se, portanto, de um pequeno alento, já que o movimento, levantado por estudantes universitários da cidade em maio deste ano contra o fechamento do Palace, naufragou, mesmo diante da visibilidade nacional conquistada.
O coordenador cultural da Pró-Reitoria de Cultura da UFJF, Beto Campos, explica que a doação dos projetores envolve um processo de logística burocrático e que não há previsão de quando, efetivamente, os equipamentos serão entregues ao Central. “A nossa intenção é utilizar os projetores não só como peças expositivas, mas também para a exibição de filmes no Central com entrada franca. Queremos reativar a função de cinema do espaço, o que deve acontecer a médio prazo, pois a Universidade terá que dar início a um projeto de áudio para atender às necessidades e características físicas do espaço, que comporta 1.231 lugares. Então, ainda não sabemos quando o cinema será reativado ou a frequência com a qual as sessões acontecerão”.
Em relação ao espaço de memória que será aberto à visitação gratuita, Campos ressalta que ainda não é possível dizer quais e quantos itens integrarão o acervo do setor de memória. “O que podemos adiantar é que este espaço contará as histórias do cinema em Juiz de Fora e do Cine-Theatro Central. Estamos realizando as primeiras pesquisas. Logo, o tipo de acervo e a quantidade de peças estão sujeitos a esta apuração”.
Como o Central é um patrimônio tombado pelo município, qualquer alteração estrutural deve ser informada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). “Para a destinação de um espaço ao setor de memória, possivelmente alguma alteração ou reforma na estrutura do Central deverá ser feita para adequação do espaço. Nesse sentido, a UFJF irá elaborar o projeto com todas as especificações necessárias e encaminhá-lo ao Instituto para avaliação”.
DESCARACTERIZAÇÃO DO PALACE
Houve uma época, mais precisamente no período compreendido entre o fim da década de 1970 e início dos anos 1980, que ir ao cinema era um evento. Homens, por exemplo, entravam no recinto apenas de terno e gravata. “O Palace foi último cinema a abandonar ‘a regra do terno’. Frequentar aquele espaço era sinônimo de elitismo e glamour”, conta o cineasta juiz-forano Franco Groia.
O cinema fechou as portas em 1984 com a exibição do longa “O sentido da vida”, do grupo inglês Monty Python. Groia ressalta que, nesta época, a Companhia Central de Diversões de Juiz de Fora controlava todos os cinemas de Juiz de Fora, como o Excelsior, Cine Glória, Cine São Luiz, Central e cinemas de bairro. “A Companhia, no entanto, tinha na época uma dívida com o Banco do Estado do Rio de Janeiro (BANERJ), que tomou o imóvel para amortização do pagamento da dívida”.
O cineasta ressalta que o espaço foi aberto novamente apenas em 1998, quando a Prefeitura deu início a um movimento de revitalização do cinema intitulado Polo Audiovisual, porém, o atual e definitivo fechamento, segundo ele, se deve a descaracterização da essência daquele espaço. “As atividades do Polo tiveram fundamental importância para que a exibição e produção do cinema local prosperassem naquele período. O que antes era um espaço de convivência e troca de experiências deu lugar ao fast-food”, avalia Franco, destacando que a queda derradeira do Palace foi resultado, também, da falta de políticas públicas eficientes para a preservação do espaço.