No início do século XX, existia nas proximidades de Benfica, cortada pela atual Avenida JK, a Fazenda Saudade, de propriedade do coronel Horácio José de Lemos, um próspero pecuarista, criador de gado da raça indiana.
A Avenida JK também já foi chamada de BR-03 e BR-135. Erroneamente era conhecida como Estrada União e Indústria, mas que tem sua origem na Estrada do Paraibuna, aberta pelo engenheiro alemão Henrique Halfeld.
A Fazenda Saudade ocupava todos os atuais bairros Nova Era I e II e Santa Lúcia, parte de Santa Cruz, partes da área ocupada pela IMBEL e represa João Penido e toda a área ocupada pelo 4° GAC. A sede da Fazenda Saudade ficava na esquina da Rua Bezerra de Menezes com Rua Tenente Guimarães, no atual bairro de Nova Era I, na entrada para o bairro Santa Lúcia.
Em sua fazenda, o coronel Horácio fez iniciar a construção de um grande matadouro-frigorífico. No lançamento da pedra fundamental, em 17 de janeiro de 1913, estavam presentes diversas autoridades. Entre elas: Francisco Salles (ministro da Fazenda), coronel Júlio Bueno Brandão (presidente do Estado de MG que, hoje, seria chamado governador) e o deputado federal Jayme Gomes. Por motivos desconhecidos, a obra não foi concluída e os prédios erguidos foram comprados pelo governo federal. No lugar do futuro matadouro-frigorífico foi instalado um quartel militar: o 4° RO – Regimento de Obuses que, hoje, é o 4° GAC – Grupo de Artilharia de Campanha.
No início dos anos 30, outras partes da fazenda foram vendidas à União pelo coronel Horácio. Uma fração foi doada novamente ao exército onde ali construiu a Fábrica de Estojos e Espoletas de Artilharia (a FEEA que, hoje, é a IMBEL). Em outra maior, a prefeitura de Juiz de Fora construiu a barragem João Penido, dando origem à nossa represa.
Como novo proprietário de parte das terras da Saudade, o Exército cedeu, por empréstimo, um grande espaço ao lado do quartel para a criação de um campo de pouso de aviões. Seria um dos primeiros de Juiz de Fora e que ficou conhecido como Campo de Aviação de Benfica. O lugar também era chamado de Parada Setembrino de Carvalho (da Estrada de Ferro Central do Brasil) devido à antiga estação de trens que havia na travessia ferroviária de acesso ao quartel.
Mas, por que “de Benfica”? Porque na época em que foi criado (nos anos 20 do século passado) não existiam os bairros Santa Cruz, São Judas Tadeu, Nova Era, Santa Lúcia, Cidade do Sol, Barbosa Lage e tantas outras comunidades próximas. Havia um grande vazio entre a Vila Vidal (hoje o bairro Jóquei Clube) e Benfica. Benfica, portanto era a comunidade mais próxima. Inclusive, desde 1911, já estava sendo articulada a criação do distrito de Benfica, que começaria no córrego Humaitá (que corta o Bairro Industrial) e terminaria em Paula Lima.
Durante muitos anos (a partir de 1931 até meados dos anos 50) pensou-se em fazer do lugar as instalações definitivas do Aeroporto de Juiz de Fora. O projeto chegou a ser feito e aprovado pela Diretoria Técnica do Ministério da Aeronáutica. Haveria uma pista pavimentada com 1600 metros de comprimento e 100 metros de largura, e uma confortável estação de passageiros. Era prevista até a criação de linhas aéreas regulares às principais cidades do Sudeste. Empresas como a VASP, VARIG, CRUZEIRO DO SUL e AEROVIAS BRASIL manifestavam interesse na extensão de seus vôos até Juiz de Fora. Em 1955, veio a opção técnica definitiva de transferir o projeto do futuro aeroporto para outra área onde se encontra atualmente o Aeroporto da Serrinha. Em Benfica, ficaria apenas o campo de pouso.
Alguns fatos importantes se prendem à história do Campo de Aviação de Benfica. Em 16 de maio de 1921, aconteceu um raid (“reide”) aéreo entre o Rio de Janeiro (partindo do Campo dos Afonsos) e Juiz de Fora. Três aviões (pilotados por Áureo Teixeira dos Santos, Vicente Vieira de Melo e Rubens de Melo) fizeram este percurso numa viagem que durou uma hora e quarenta minutos. Em 05 de março de 1938 foi fundado ali o Aero Clube de Juiz de Fora onde, a partir de 1940, teve início o curso de pilotos. Também em 1940 (18 de agosto), 25 aviões vindos do Rio de Janeiro e São Paulo aterrissaram ali num grande evento de entrega dos brevets aos primeiros pilotos formados. Outro fato marcante do antigo campo de aviação se deu em 17 de agosto de 1941. Estiveram ali, dentre outras autoridades, o então ministro da Aeronáutica, Salgado Filho, e o fundador dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, para a entrega de um avião ao Aero Clube. Em 22 de fevereiro de 1959, foram inauguradas no lugar linhas aéreas, pela NAB Navegação Aérea Brasileira, ligando nossa cidade ao Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Poços de Caldas. Na ocasião, havia no lugar uma pequena estação de passageiros. Também consta ter acontecido ali, em março de 1955,uma aterrissagem de avião conduzindo Juscelino Kubitschek, então candidato a presidente do Brasil.
O Campo de Aviação (ou “de pouso” ou “aeródromo”) de Benfica foi desativado em 30 de junho de 1975, sendo suas instalações (inclusive o Aero Clube de Juiz de Fora) transferidas de forma definitiva para o Aeroporto da Serrinha e toda a área devolvida ao Ministério do Exército.