CineArte Palace fecha as portas após 69 anos

Chega ao fim o último cinema de rua de Juiz de Fora. As imagens na tela do CineArte Palace poderiam não representar o suprassumo tecnológico empregado na sétima arte atualmente, mas o espaço em si, localizado na esquina das ruas Halfeld e Batista de Oliveira, sempre teve caráter afetivo ao longo de seus 69 anos de existência. O imóvel foi vendido pelo banco Bradesco em 25 de abril de 2015 por R$6,745 milhões, ao ser arrematado em segundo leilão pela Fato Gestora de Negócios LTDA. O primeiro não teve nenhum interessado. Quem arrematasse não poderia fazer nenhuma mudança na fachada e volumetria do imóvel, respeitando, portanto, as normas estabelecidas no processo de retificação (em 2004) do tombamento realizado pelo município em 1992. O cinema foi inaugurado no dia 19 de novembro de 1948, com a exibição do musical Quando os Deuses Amam, do cineasta Alexander Hall.

“Como amante e frequentador do cinema eu lamento”, disse Rômulo Veiga, superintendente da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), ressaltando que o novo proprietário tem o direito legal de dar outro fim para o imóvel. “Em abril deste ano, o representante da Fato Gestora, imobiliária que tem a posse do imóvel, notificou a Prefeitura e ao gestor do espaço que não havia o desejo de continuar com o funcionamento do cinema. Eles solicitaram o fechamento do local para dar início às reformas e colocar ali um novo empreendimento”.

A Funalfa executava no CineArte Palace três projetos: “Sessão Cidadão”, com exibições duas vezes na semana de algum filme em cartaz e ingressos a R$1; “Clube do Professor”, com sessões exclusivas e gratuitas para docentes e um acompanhante aos domingos; e “Escola vai cinema”, que ofertava o acesso às produções audiovisuais para alunos de escolas públicas (preferencialmente) e privadas por meio de agendamento prévio.

O superintendente da Funalfa destaca que a Fundação tem conversado com outros players [exibidores da cidade], avaliando os possíveis locais para receber esses três projetos e que o próprio Teatro Paschoal Carlos Magno, que será inaugurado em breve, terá estrutura de exibição. “A intenção é descentralizar as ações ao sair um pouco do centro, mas temos que fazer as adequações conforme a nossa realidade financeira, para que o projeto seja de longa permanência. Neste levantamento e análise dos locais estamos considerando o nosso objetivo principal, que é a formação de público”.

Veiga disse, ainda, que o problema mais expressivo no país é a falta da democratização do acesso ao cinema. “A média no mundo hoje do custo do ticket de cinema é de 0,3% da renda per capita mensal. No Brasil esse percentual é de 0,6%. O desafio é levar produções audiovisuais às classes mais baixas. Daí vem a importância de programas como Sessão Cidadão”, finalizou.

PERDA

Para o especialista em cinema e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Nilson Alvarenga, o CineArte Palace era um dos poucos redutos que ainda destinavam um espaço para abrigar filmes fora do circuito comercial, tornando-se palco para projetos de democratização do cinema. Além dos projetos da Funalfa, o Festival de Cinema Primeiro Plano, do qual Nilson é um dos organizadores, batia ponto no Palace todo ano. “Em 15 anos de festival, 90% das edições foram realizadas lá. Havia uma precariedade no cinema do ponto de vista técnico, mas o valor dele para os juiz-foranos é, sobretudo, afetivo”, avaliou Nilson.

O docente destacou ainda que em várias cidades do país ocorreu um processo de revitalização dos centros urbanos, o que provocou com o passar dos anos o fechamento dos cinemas de rua. “Essa lógica não é diferente em Juiz de Fora. Já perdemos o Cine Excelsior e, agora, o Palace, que se tornou, apenas, mais um espaço de memórias”, finalizou.




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