Há momentos na história da ciência em que um dado simples, quase óbvio, abala expectativas e desmontam dogmas. O artigo publicado por Michael Behe na Quarterly Review of Biology em 2010 é exatamente esse tipo de intervenção. Ao invés de repetir fórmulas prontas sobre o poder criativo da evolução, ele faz algo muito mais incômodo: olha para os dados experimentais reais de mutação e pergunta o que eles de fato mostram.
A resposta, ainda hoje pouco comentada fora dos círculos especializados, é contundente: quando observamos mutações ocorrendo na prática (em laboratório, em populações reais, em condições controladas) a imensa maioria das mudanças adaptativas registradas não constrói nada novo. Elas quebram. Elas desligam. Elas corroem funções existentes.
Esse é o ponto central do estudo. Behe chama essa tendência de “Primeira Regra da Evolução Adaptativa”: “Quebre ou torne menos eficaz um gene, se isso gerar uma vantagem imediata”.
Esse tipo de adaptação destrutiva aparece repetidas vezes nas pesquisas: bactérias que desligam vias metabólicas para sobreviver a antibióticos, organismos que perdem receptores para escapar de vírus, populações que ganham vantagem ao abandonar funções sofisticadas que, naquele contexto, se tornam peso morto.
É importante notar que Behe não realiza a totalidade de estudos que enumera, mas faz uma espécie de contabilidade biológica. Ou seja, ele pega experimentos consagrados e pergunta: que tipo de mutação realmente aparece quando a vida tenta “melhorar” sua própria sobrevivência?
Os números falam alto: as mutações adaptativas mais rápidas, mais frequentes e mais eficazes são as que degradam funções pré-existentes.
Não se trata, portanto, de imaginar um mecanismo que avança em direção a estruturas mais elaboradas. A biologia experimental mostra algo bem diferente: quando pressionado, o organismo reage pela via mais provável estatisticamente: pela perda de função. Criar algo novo requer passos inalcançáveis, complexos, improváveis. Enquanto desligar um gene requer apenas um pequeno dano em algum ponto do DNA. E o dano ocorre com facilidade.
Esse quadro traz implicações profundas.
Se os exemplos reais de adaptação observada hoje são majoritariamente destrutivos, então a narrativa consagrada nos manuais segundo a qual processos aleatórios teriam produzido, peça por peça, máquinas moleculares intricadas, não se sustenta. Pois as evidências demonstram que o comportamento real das mutações insiste em seguir na direção contrária das expectativas evolucionistas.
O artigo de Behe não faz especulações metafísicas. Ele simplesmente mostra que, quando a vida precisa responder ao ambiente inóspito, ela não cria nada novo, o faz por meio daquilo que está ao alcance: perder, não ganhar; remover, não adicionar; simplificar, não sofisticar. Tudo na direção oposta do que especulou Darwin.